7.12.08

De belezas inequecíveis

Algumas coisas acho especialmente bonitas. De doer, escorrer entre os dedos, parecer água limpa. Algumas coisas acho principalmente bonitas. E é isto que, de certa forma, me deixa vivo, feliz, humano. Porque a beleza é força absoluta, magia, sensação. A beleza é a gradação contínua rumo ao tudo, ao que há e o que nem há porque ninguém ainda foi capaz de inventar.

Nas horas vagas, gosto de desinventar feiúras. Para aumentar a média de beleza no mundo. Mas nem sempre consigo. Entre um passatempo e outro, penso que deveria me dedicar a desinventar feiúras também nas outras horas, em que estou ocupado demais em ganhar dinheiro. O dinheiro não é das coisas mais bonitas: é sujo, passa de mão em mão, cheira mal, tem uma textura asquerosa e serve para diferenciar as pessoas. É isso. O dinheiro é estranho porque tem como serventia preferencial justamente rotular a humanidade, ao dividir humanos entre gentes e indigentes, cheio de castas intermediárias.

Mas falávamos das coisas bonitas. O culto à beleza, esta rara e bruta flor de inconstâncias, está na percepção da simplicidade como alma máter da sociedade. O simples é belo. Ponto. Simples não é malfeito, nem desfeito, nem rarefeito. Simples é o justo, o junto, o júbilo. Simples. Simples é o poema que brota de talento e talante; o orvalho que seca antes de cair no chão e, vapor, fica pronto para virar nuvem de novo; o sonho que faz o cérebro da gente sorrir por dentro.

Acho que não preciso de mais nada.

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