30.6.08

Para começar a semana

"Os inimigos são muito poderosos e estão por todas as partes em que existem mais de três homens juntos. Estão no ar, estão no espírito."



29.6.08

Domingo, foto

Os arco-íris sobre minha janela, 2007
Clique de Laila Abou Mahmoud (1982- )

28.6.08

Gnomidades...

Caro,

Os gnominhos são idéias fixas a me perseguirem. Desde que li os gnomos de gnu; desde que tive aulas de semioticismos; desde que me voltei contra a professora que odiava amarelo; desde que me fiz urgente.

Os originais estão em http://cronopolitano.blogspot.com/search/label/gnominhos (como blogados, é preciso ler de baixo para cima para entender a seqüência). Esse que você leu já é a maldita recorrência, o mais-do-mesmo a tumultuar a vida de quem sonha escrevendo.

De resto, sou mesmo como você. Gosto mais dos textos que ainda não brotaram, e ficam pedaceando na cabeça oca do poeta louco.

Abraço, cara.

27.6.08

Filminho de sexta



Data.

26.6.08

Instante da estante

KINNEY, Jeff. Diário de um banana. Cotia: Vergara & Riba, 2008.

25.6.08

Um quadro às quartas

Vista de Toledo, 1596/1600
Obra de Doménikos Theotokópoulos - "El Greco" (1541-1614)

24.6.08

Terça sonora



"West end blues"

23.6.08

3. Abracadabra

Empilhar duas palavras-valise e depois sair desmontando todas em blemas e pro blemas:

- Vá pra lá palavra minha!, que hoje quero escrever com tradições. Dizia a Professora Bárbara do Carmo, ao contemplar O Poema e empilhar nele todos Os Nove Gnominhos Cor-de-Abóbora.

Mas não conseguia. Perdia-se em semióticas e gozava ensimesmada.

Mas não conseguia. Amarelava o céu, o dia, até a noite um pouco. E não conseguia. Professora Bárbara do Carmo era a mesma frustração que sou quando escrevo. Como se as páginas não me pedissem mais letrinhas. E o vazio fizesse jorrar uma coleção de nadas.

- De nada.

- Pois não?

- Disse de nada.

- Então pode levar.

- Por quê?

- Que não.

- Sim?

- Olha só: a essa altura, a vida não mais permite tropeços. Sinto-me como se já amasse mais antes, como se não fosse o mesmo apaixonado de antes, diante de mim-eu. Porque o em-mim, o umbigo cólico esfacelou-se-me ao simplesmente refletir fatos inenarráveis.

- Olhei, só.

- Por isso, acho que a seduzo.

- Um anzol?

- Abracadabrando.

- Abra cada bra de cada vez.

- Depois abraço?

- Não. Abrigue, apenas.

- Abrigado.

- De nada.

Natimorto, O Poema desmontou. Enquanto isso, Os Nove Gnominhos Cor-de-Abóbora se aproveitaram, filhos-da-puta, de uma falha na folha e fugiram da página.

Para começar a semana

"O que não me contam, eu escuto atrás das portas. O que não sei, adivinho e, com sorte, você adivinha sempre o que, cedo ou tarde, acaba acontecendo."

22.6.08

De amigo

Uma vez um amigo pegou minha quase impublicável história dos gnominhos cor-de-abóbora, imprimiu. Cismou de ler para a filhinha recém-nascida dormir. Contou-me meses depois.

- Como assim? Quisera eu ser capaz de escrever pra criança. Não sei não.

- Ela gostou. Não deve ter entendido nada, felizmente. Mas pôde saborear o som das palavras.

O que acontece com sua pequena não é o mesmo, penso. Primeiro que ela é maiorzinha; depois, que o multimídia atrai. Mas fico igualmente feliz em saber que meus gostos musicais um tanto ecléticos têm agradado. Aquela coisa de padaria, agradecemos a preferência.

PS.: Belo poema.

Domingo, foto

A um pulo do paraíso, 2008
Clique de Viviane Aguiar (1983- )

21.6.08

Missiva teodolítica

Sinceridade sempre. Rancor também. Nada pessoal, tudo contra as pessoas.

O patrão continua o mesmo velho ranzinza de sempre. Ele, brincando de Tio Patinhas. Nós, tartaruga-ninjando pelos submundos. E o seu? Mancando como sempre?

Fico com uma pontinha de soluço ao saber que você visitou Doménikos Theotokópoulos. Como está a vida salmão de lá? Ainda existe o senhor Fabrício, com suas cachaças diuturnas? Quem mora no 61? Confesso que à sua réplica pediria era pães-de-queijo. Com brigadeiro. E anos incríveis, ô se foram!

Continuo tentanto. Não vou bem, nem me divertindo, muito menos feliz. Você consegue essas coisas?

20.6.08

2. Um diálogo para ser inventado

- Que espera, ali?

- Godot.

- Godot?

- Godot.

- Perde, tempo. Ele, não vem.

- Perco não.

- Como?

- Sei que ele não vem.

- Então perde, tempo.

- Perderia se não o soubesse...

- Você, acha?

- Se não o soubesse, esperaria à toa. Sabendo-o, espero.

- Mas por, que espera, se o sabe de sua, não-vinda?

- Por isso espero. A espera autêntica o é pela própria espera. Um fim em si.

- Filosofias, agora?

- Sim. A espera em si não existe pela concretização do esperado. A espera em si é o prazer inerente à sua condição precípua da chegada. A espera intransitiva, não-objética. A espera polissemântica, em que todos os significados convergem para si. Observe só a...

- O, quê?

- Calma, não se precipite. Seja menos afoito, ó Traficante. Observe só o prazer telúrico de esperar. Quando o som espera, nasce o silêncio. Quando o sol espera, nasce a noite. Se não a houvesse, ficaríamos barulhados e solonentos por toda a existência.

- Sonolentos quer, dizer? Por isso gosto, de vender livros, não de, ler. E se a, venda, fosse esperar, não, haveria dinheiro para, sustentar.

- Mas quando o dinheiro espera, nasce a fortuna.

(Como seus livros eram piratas, o Traficante de Livros padecia sérios problemas de vírgula. Tomava doloridas injeções na coluna cervical, mas nada parecia solvê-lo.)

Filminho de sexta



Kung Fu Panda.

1. À guisa de

O sol era no céu um ponto amarelo como seu rosto. Dela que não sabia quais mãos haviam adormecido em seus seios ou quais lábios preferia que fossem beijados. Uma cornucópia de sensações, inventava e até sentia, sozinho, em fajuta paz.

Por que a lágrima claudicante? Porque é uma palavra linda. E dentro dela tem a rima. Rima é uma palavra feia. Mas é preciso dela para formar lágrima, como a cura está para a loucura. Não. Não? Para formar lágrima basta uma pitada de tristeza, ou emoção. E a loucura? Basta ser jovem.

O sol se punha, arroxeava o céu, como sua face falsa tímida. Tinha um ritmo próprio, dançava sem dó, engatava marcha-ré, mi-nguava fá-cil e, sol que era, lá depois virava si-lêncio. Um horizonte como uma cama a deitarem-se, deitarmo-nos, deixar. Quer entrar no livro? Sê-lo em minha escrita? Derrame-se, então, e se transforme em letrinhas bonitas para essas folhas em branco.

Enquanto isso o sol continua sendo um pingente banguela embalado para futuro.

Eram algumas vezes meus personagens estrambóticos. o Traficante de Livros com sua coleção shakespeariana made in China acenava para a contramão no farol vermelho, tão só quanto um solo de sax. Do outro lado, o Malabarista Atomentado empunhava a sombrinha pensando estar armado com um fuzil.

19.6.08

Instante da estante

IGGULDEN, Conn; IGGULDEN, Hal. O livro perigoso para garotos. Rio de Janeiro: Galera Record, 2007.
- Novidades?
- Não. Só as velhidades de sempre.

18.6.08

Um quadro às quartas

Minotauro, bebedor e mulheres, 1933
Obra de Pablo Ruiz Picasso (1881-1973)

Bem piores

Piores que os erros escritos são os vividos.

Monólogo ao espelho

Obviedade: se há inimigos que convivem bem, outros não. Advertência: se há inimigos, outros não. Tensão: inimigos, outros não.

Queria saber técnicas orientais para driblar o tédio.

Principalmente, driblar o tédio. Ainda que sem técnicas. Recuperar o ânimo enterrado, putrefato. As esperanças dilaceradas. Ao fogo do inferno.

Sem graça, peço um ponto final.

17.6.08

Terça sonora



"Tô trancado aqui no quarto de pijama
Porque tem visita estranha na sala"

16.6.08

Para começar a semana

"Há homens que nascem póstumos."

Raul Santos Seixas (1945-1989)

15.6.08

Domingo, foto

Pedestre, 2008
Clique de Carol Zaine (1985- )

13.6.08

Da Lua, da Terra...

Era uma vez uma menina que vivia na Lua. O corpo todo.

- Ei, garoto da Terra! - dizia ela.

E dava para perceber como havia uma prepotência em seu belo olhar.

Filminho de sexta



Pichação animada.

12.6.08

Instante da estante

PIRANDELLO, Luigi. Vestir os nus. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

11.6.08

Um quadro às quartas

The moon-woman, 1942
Obra de Jackson Pollock (1912-1956)

10.6.08

Terça sonora



"E os nossos sonhos querem pedir divórcio"

9.6.08

Sobre silêncios

Há silêncios que conheço de cor. Outros, nunca ouvi.

Para começar a semana

"Artista tem útero. Todo dia está botando filhos na terra. E você não pode ficar tratando seus bebês como se fossem príncipes. Tem que ser um pai romano. Nasceu com defeito, você mata! A crueldade é assepsia na arte."

Antônio José Santana Martins (1936- )

8.6.08

Domingo, foto

Elas moram numa âncora, 2007
Clique de Laila Abou Mahmoud (1982- )

6.6.08

O caminhãozinho verde

Eu era um menino que tinha um caminhãozinho verde. De madeira. Carreta. Dava para carregar sessenta cabeças de boi (de chuchu) ou mil sacas de arroz (de bugalha). Não fazia barulho eletrônico, não tinha botões, não gastava pilha, não quebrava fácil. Era de madeira. E era verde.

Cresci com a idéia fixa de me tornar caminhoneiro, vencer as estradas do Brasilzão a bordo de um valente caminhão verde de verdade. Não sabia que iria ter de financiar o bicho em trocentas prestações, enfrentar solidão, pagar pedágio, desviar de buracos, viajar de noite, correr contra o calendário e subornar polícia rodoviária. Não sabia nada da vida de gente grande.

- Se casamento fosse estrada, eu só andava no acostamento.

- Perigo não é um cavalo na pista, é um burro na direção.

- Feliz era Adão, que não tinha sogra nem caminhão.

Hoje dirijo doze horas por dia a uns oitenta quilômetros por hora. Quando passo por São Paulo, a dez. Estrada ruim, trinta.

- Se correr o guarda multa, se parar o banco toma.

Meu caminhão ainda não tem frase pintada. Não sei se escolho uma repetida, dentre as tantas que leio nos pára-choques dos colegas. Ou se homenageio Deus, meus pais, minha amada, meu time de futebol... Talvez deixe em branco mesmo, ou invente uma nova. Mas tenho mais coisas com o quê me preocupar, oras.

- Se eu tivesse estudado não estaria aqui.

- Estepe e mulher: é sempre bom ter de reserva.

Quando era criança, não imaginava que meu caminhãozinho verde iria crescer. Ficar barulhento, beber óleo diesel, soltar fumaça. Vencer distâncias e garantir os poucos trocados com os quais eu sustento minha família. O dia todo nesta boléia fedida e vazia. Com muito suor, disposição e banguela.

Filminho de sexta



Saramagando as crianças.

Trecho

No bolso da aristocracia, a eutanásia da poesia.

5.6.08

Instante da estante

SOARES, Lucila. Rua do Ouvidor 110 - Uma história da Livraria José Olympio. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.

4.6.08

Um quadro às quartas

La nevada, 1786
Obra de Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828)

3.6.08

É preciso crescer para aprender que...

  • Algumas verdades são indesculpáveis;
  • Algumas músicas são infinitas;
  • Algumas solidões são inexplicáveis;
  • Algumas pedras são imperdíveis;
  • Algumas noites são assim mesmo.

discordo, mas...

... há silêncios.

Terça sonora



"Did you ever find heaven right in your arms,
Saying I love you, I do?"

os quês

o que pareço
se nem percebo
o que me esqueço?

o que perturbo
se nem escuto
o que sussurro?

o que assino
se nem atino
o que assassino?

o que assombro
se nem encontro
o que me lembro?

o que há de mim
se nem enfim
anseio um fim?

2.6.08

Para começar a semana

"Galinhas são mortas a pauladas, pessoas são mortas por engano. A vizinhança está em baixa, o turismo está em alta. A timidez e o eufemismo estão em baixa, sangue e perfume estão em alta. A sensação só pode ser escrita a chibata, e por isso sobra fígado, muito fígado. Eu, se pudesse, matava a causa secreta, gritava enfurecido, abria-lhe o ventre, roía a cara contra o chão, queimava, esquartejava, pendurava como ovelha abatida. Não há causa que valha uma vida. Mas ainda seria pouco. Se pudesse, expiava a velha culpa e abria com o dedo a ferida do ressentimento. O ressentimento chega altivo, feito coruja ruiva, mas não demora para perder as penas, pestilento. Não há remendo que lhe baste, pois ele sobrevive ao próprio enterro. É diferente do perdão ou da vingança, que entretêm a circulação do sentimento. O ressentimento acumula perdas, desconfia da vida, e nada coloca no lugar do que retira. O ressentimento mata aos poucos, por envenenamento. Para suportar esse refluxo, a culpa do outro se transforma em causa própria, a fraqueza humana em razão moral. Perdão, mas eu matava."

Marcos Antonio Siscar (1964- )

1.6.08

ensimesmado

toda vez que amanheço,
me perco.
porque o embaraço
é tamanho
e o abraço, tacanho.

toda vez que amanheço,
me pauso.
porque não encontro
uma manhã
inédita,
que nem assombro
outra manhã
lépida.

toda vez que amanheço,
me ouso.
porque me pergunto
onde foi que
estive,
onde foi que
estou,
onde é que
sou.

Domingo, foto

Semi-iluminados, 2006
Clique de Laila Abou Mahmoud (1982- )