31.3.10

Um quadro às quartas

Calendar contest for Tapirulan, 2009
Obra de Alessandro Maffioletti "Alvvino" (1980- )

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Ed ora, andiamo a mangiare: o macarrão é, sem dúvida, a parte mais suculenta e nutritiva de InVerso. Macarrão, no jargão jornalístico, é aquela folha que fica solta no jornal, quando o número de suas páginas não é múltiplo de quatro. Em revista nunca há macarrão – mas alguém aqui está preocupado em manter a normalidade? Obrigado pelo “não” gordo e sonoro.

30.3.10

No radinho de pilha



"Acho até que estou indo bem"

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Depois dessa leve digressão, voltemos às “Páginas Amarelas” (verdes). Só ao virar a folha o leitor se dará conta de que o entrevistado é ele mesmo, famosinho-da-silva, lindamente emoldurado num espelho simbólico (simbolizado simbolicamente por retângulos de papel laminado, R$ 0,45 a folha – mas a gente nem usou uma folha inteira!). Esta idéia estapafúrdia brotou em virtude de uma inquietação dos jornali(ri)stas (ir)responsáveis pelo projeto: toda essa onda pós-pós-moderna de interatividade é falsa e, ademais, Adenil, não faz com que o leitor reflita sobre si mesmo. (Reflexão, reflexo, espelho... sacou a jogada?). As perguntas, poeticamente formuladas, certamente farão com que o entrevistado pense em coisas nunca dantes por ele pensadas. Como um choque, um tapa, um cutucão, um balde de água quente das termas mineiras...

29.3.10

Para começar a semana

“Os inimigos dos livros são principalmente os homens, que os queimam, os censuram, os prendem em bibliotecas inacessíveis e condenam seus autores à morte. A internet ensina os jovens a ler, e serve para vender incontáveis livros.”

Umberto Eco (1932- )

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Fotografar o Nada não foi nada fácil. Fisicamente, ele é a ausência do Tudo, seu inencontrável par. O Tudo, como fica fácil inferir, é branco – mas isto não é nenhuma piadinha politicamente incorreta; é tudo culpa de Sir Newton e seu disco-gay (tá bom, tá bom! essa foi politicamente incorreta – favor encaminhar os dois processos para o Newton!).

28.3.10

Domingo, foto

Sem título, 2010
Clique de Maria Clara Moraes (1987- )


3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Em nosso produto à mostra, a primeira “Página Amarela” (verde) cria um suspense em relação à identidade do entrevistado. Quem será ele? Nela, não há fotos do entrevistado, mas há uma do Nada fazendo nada (retângulo preto 18 cm x 12,5 cm). Por que? Bem, tudo indica que, durante a entrevista, o sujeito entrevistado fez alguma declaração a respeito do nada. Apenas quisemos dar uma chance para que ele aparecesse, tão sumidinho que é.

27.3.10

Porque hoje é sábado

Trem de ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virgem Maria, que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão

Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

(Manuel Bandeira)

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Ao escolher este nome, situamos o leitor: ele compreende, imediatamente, inteligente e cult que é, que se trata de uma entrevista. Só que nossas páginas amarelas são verdes. Quebra de estereótipo, né? Elas só amadurecerão quando o leitor agricultor de idéias interagir com elas, completá-las.

26.3.10

Seção da sessão



A história do mundo.

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Intertextualidade. Diálogo. InVerso não é uma ilha cercada de um Mar Morto por todos os lados. “Páginas Amarelas” é o título da seção de entrevistas da revista semanal Veja. E da nossa também.

25.3.10

Instante da estante

PONCIANO, Levino. Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: Senac, 2002.

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Dica do dia: você nunca conseguirá ler adequadamente os textos impressos nas páginas transparentes sem uma folha branca por baixo. Serve o embrulho do seu pão.

24.3.10

Um quadro às quartas

Untho clothing, 2009
Obra de Alessandro Maffioletti "Alvvino" (1980- )

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Editorial e expediente foram impressos, no produto amostra, em folha transparente. Transparente como nós nos propomos ser. Não porque propagaremos a verdade, somente a verdade, nada além da verdade, doa a quem doer, jurando sobre a Bíblia, amém. Mas porque assumimos de forma explícita que não há verdades absolutas, e sim recortes de real que serviremos ao leitor pra que ele escolha a gravura que melhor caiba em seu quebra-cabeça.

23.3.10

No radinho de pilha



"You know you can't keep lettin' it get you down"

3. Reformulação - O "InVerso" - InForma

Forma – fôrma? Tsc, tsc. Forma – formação. Forma – informação. O suporte de InVerso sugere temas, afirma, complementa. Também ele deve ser lido, interpretado.

22.3.10

Para começar a semana

“A poesia sempre me pareceu um mistério, você não sabe dizer o que é, ela acontece ou não acontece.”

3. Reformulação - O "InVerso" - "InVerso" virada do avesso

No índice, apenas uma prévia das matérias. Nada de indicar onde elas se encontram – assim, o leitor folheará toda a revista, parando aqui e ali para absorver o que o atrai, traindo o seu intento de ir diretamente a alguma matéria específica.

21.3.10

Domingo, foto

Sem título, 2010
Clique de Maria Clara Moraes (1987- )

3. Reformulação - O "InVerso" - "InVerso" virada do avesso

InVerso não possui referências temporais. O espaço reservado à data apresenta textos que levam ao questionamento da organização espaço-temporal (por exemplo, o texto do produto à mostra: “Aqui, dia-hoje de mês-hoje de ano-hoje”). Além disso, o objetivo é fugir da pontualidade factual, conferindo aos assuntos abordados a perenidade literária. Da mesma forma, o preço da revista e sua numeração não são explicitados. As páginas são numeradas com frases que se assemelham a adivinhações: palavras que remetem ao numeral, ainda que remotamente, e adquirem assim significado mais amplo. Afinal, entre o conteúdo da página e sua numeração lúdica e lúcida (ilúcida) são tecidas relações texto-significado.

20.3.10

Porque hoje é sábado

Mundo Pequeno

I

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.


II

Conheço de palma os dementes de rio.
Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama
e de Rogaciano.
Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar
no horizonte.
Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas
de Corumbá.
Me disse que as coisas que não existem são mais
bonitas.


IV

Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha",
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam
cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em Língua-pássaro: "Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer".
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
"Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.


VI

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.


VI

Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.

(Manoel de Barros)

3. Reformulação - O "InVerso" - "InVerso" virada do avesso

Ah, claro: o mascote da capa não é o único. InVerso conta com outros três caranguejos, que se encontram espalhados, como o da capa, páginas adentro. Sua função é conferir unidade ao produto, através do princípio da repetição. O mesmo efeito é obtido com a utilização de barrinhas cinza-escritório-de-funcionário-público (Black 50%) em títulos e subtítulos e em algumas seções específicas da revista. A barrinha também serve de base para o alinhamento das fontes e demais elementos da página. Infelizmente, entretanto, a barrinha não é comestível como as de chocolate e de cereal. Ao menos por enquanto.

22. Quanto custa um recomeço?

Estridente mas intrépido, o voo tropeçou e caiu. Abrupto. Prático. Absolutamente tétrico. Nem trafegou muito de cima até aqui. Triste, caiu.

- Quanto custa um recomeço?

- Certas coisas não têm preço.

- Mesmo se eu apreciar bastante?

- O quanto basta o seu bastante?

- Do tamanho de um infinito... Um infinitinho, mas um infinito.

- Quanto custa um recomeço? Eu mereço só o que peço.

Através do outro tropeço, o voou caiu de novo. Atarantado que nem um pandemônio. Esquisito, escorregadio, esquálido, ex-funcionário.

- Quanto custa um recomeço?

- Está na tabela o justo preço.

19.3.10

Seção da sessão



Alice in Wonderland, versão de 1903.

18.3.10

Instante da estante

LAGO, Angela. Psiquê. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

17.3.10

Link legal

Blog do Jean Portela (@analectus). Ele é o cara.

Um quadro às quartas

Pátio do Colégio, 2009
Obra de Benedito Lima de Toledo (1934- )
Não se espante com a vida, este repositório de conspirações,
toda recheada de enganações e seus respectivos enganados.

16.3.10

Link legal

O blog do multitarefa Marcelo Tas. (Ou: o eterno Professor Tibúrcio.)

No radinho de pilha



"'Cause everything is gonna be all right"

Panaceia

Sofrimentos não podem ser consumidos sem muito remoer. São nós, indesatáveis, complexos, entreabertos por dois sorrisos que de repente choram inexplicavelmente.

Primeiro vem a dor incontestável. Seguida de lágrimas secas, dessas que muito custam a molhar, escorregar, chorar.

Depois, a saudade enorme de ser a antítese, o oximoro, a inverdade inventada só para regar sentimentos.

Então os versos mais infantis são lembrados. Bem aqueles em que já não há crença nem consequência. Os idiotas, por assim dizer -- se é que se pode ousar os definir tão simploriamente.

Por último, o adeus parece absoluto.

15.3.10

Para começar a semana

"Que outros se gabem das páginas que escreveram; eu me orgulho das que li."

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Téo José, para quem curte automobilismo.

A forma e a formiga

Era apenas uma formiga que se escorregava
-- não cabia em sonho, nem em tédio, nem no chão --
de tal forma inconstante que se perdia.

Dentro dela, as aspirações mais loucas
e o ácido fórmico.

Então veio o formicida.

14.3.10

Domingo, foto

Fórmula Indy em São Paulo, 2010
Clique de Hélvio Romero (1958- )

13.3.10

Porque hoje é sábado

A namorada

Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.

(Manoel de Barros)

12.3.10

Seção da sessão



Motores.

11.3.10

Instante da estante

MORAES, Ana Carolina Carvalho Dias de; PELLEGRINI, Carla Sgobbi; PORTELLA, Julia Figueiredo. Um balão na Terra. São Paulo: Viva e Deixe Viver, 2006.

10.3.10

Um quadro às quartas

Le Blute-Fin Mill, 1886
Obra de Vincent Willem Van Gogh (1853-1890)

9.3.10

No radinho de pilha



"De tão triste essa tristeza
Enche de treva a natureza"

8.3.10

Para começar a semana

"Se você tem o dinheiro para comprar esse livro, compra, porque o dinheiro volta, mas esse livro pode não voltar."

7.3.10

Domingo, foto

Jardim Romano, 2010
Clique de Hélvio Romero (1958- )

6.3.10

Porque hoje é sábado

Besouro da morte

Quando se ouve o besouro da morte a maldição acontece.
A maldição acaba conosco e nos leva aos sete palmos de terra.
Isso a gente nunca aprende na escola.
Continuemos com os feitiços.
Sempre se pode achar alguém mais adequado
e ele terá um olho verde e um azul.
Pensei que não quisesse desistir.
E se não ser normal denota-se a virtude,
aonde se pode ir?
Sempre será tarde...
Um marido que nunca se pode deixar de beijar.
E eles se amam.
Como se pode pegar alguma coisa?
Não faz isso comigo, não!
As laranjas foram jogadas pra longe
e morre-se por ser amado demais
Querer de volta?
E mesmo que voltasse
não seria mais ele...
Seria de outra natureza.
Estaria no meu sangue.
Como estou no teu.

(Edison da Cruz Salaki)

5.3.10

Seção da sessão



"É nóis na pista."

1 certeza

urgente
é o beijo, o gracejo, o elogio.
o resto é ágio.

4.3.10

Instante da estante

BARBARA, Vanessa. O livro amarelo do terminal. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

3.3.10

Poema da resolução

Da força falsa, como em um cadafalso, estou.
Mambembe de bomba na mão.
Atônito de tanto sertão.
Ridículo.

Perdi o traquejo na hora de pontuar,
serestar,
fornicar,
endemoniar os restos desta rota em que
r-a-s-t-e-j-o
com medo.

Muito medo.
Medo:
a) dos dedos de Deus;
b) dos sonhos assanhados;
c) das gentes ingratas que perderam o despertador;
d) de mim, quando não me sou mais.

Hoje decidi interromper meu sono, para sempre.
Porque o mundo é daqueles que espantam.

Um quadro às quartas

O linguiço e a franga, 2010
Obra de Karina Segantini (1980- )

2.3.10

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Do @diegomaia, this blog is a movie.

No radinho de pilha



"Só que você foi embora cedo demais
E eu continuo aqui com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim"

1.3.10

Uma biblioteca

Biblioteca de São Paulo. São Paulo, Brasil.

Para começar a semana

"Quando, depois de anos e anos de procura, encontra-se um livro raro, o coração bate mais forte. Sente-se uma emoção grande, mas não se pode deixar que ela transpareça diante do livreiro."

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O blog do Tom Zé, o cara dos instromzémentos.