31.12.09

Instante da estante

CARPINEJAR, Fabrício. Www . twitter . com/ carpinejar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.

TRINTA E UM DE DEZEMBRO

Fim.

TRINTA DE DEZEMBRO

Quase fim.

VINTE E NOVE DE DEZEMBRO

Um acúmulo de poeira.
A folhinha começa a amarelar.
Eu, também.

VINTE E OITO DE DEZEMBRO

A desarrumação denuncia.
Na geladeira, projetos inacabados.

VINTE E SETE DE DEZEMBRO

Com um alfinete de cabeça amarela furo a lua como se ela fosse uma bexiga imensa. Faz barulho.

30.12.09

VINTE E SEIS DE DEZEMBRO

É preciso colecionar mais sábados neste mundo.

VINTE E CINCO DE DEZEMBRO

Papai Noel acabou, agora é vida real.

VINTE E QUATRO DE DEZEMBRO

De véspera, vocês sabem...

VINTE E TRÊS DE DEZEMBRO

Com quantos tédios se faz um Natal? Com quantos mais se termina um ano?

VINTE E DOIS DE DEZEMBRO

Era uma vez um ditongo crescente. Cresceu tanto, cresceu tanto, cresceu tanto que acabou lua cheia.

VINTE E UM DE DEZEMBRO

Espasmos incontroláveis. Insônia. Medo.

VINTE DE DEZEMBRO

Enredo para um final feliz, receita:
- Dois personagens, principalmente enamorados;
- Um pano de fundo bonito;
- Uma trama que garanta que as vidas dos dois personagens, ainda que traçadas de forma paralela, se cruzem;
- Uma música tão comovente como inesperada;
- Um letreiro vintage: happy end.

DEZENOVE DE DEZEMBRO

Na janela, uma esperança solitária. De que tudo -- todos os tudos -- vai acabar bem.

DEZOITO DE DEZEMBRO

Conto carneirinhos para o ano acabar.

DEZESSETE DE DEZEMBRO

Odeio principalmente mais quando o desapego se apaga em mim. O resto são cicatrizes incuráveis no couro cabeludo.

DEZESSEIS DE DEZEMBRO

Catalisar pensamentos pode ser uma boa forma de capitalizar velhos momentos.

QUINZE DE DEZEMBRO

Desejos reprimidos jamais são compartilhados. Óbvio.

CATORZE DE DEZEMBRO

Quando todas as expectativas são negativas, não há muito para se supor.

TREZE DE DEZEMBRO

Enquete: você prefere tinta azul ou preta?

Um quadro às quartas

Duo, 1914/15
Obra de Giorgio de Chirico (1888-1978)

DOZE DE DEZEMBRO

Pensamentos desconexos.
Tentativas de driblar o óbvio, nos acréscimos.
Em vão.

ONZE DE DEZEMBRO

Outro pescoço. Cortado sem dó.

DEZ DE DEZEMBRO

Com o fim de 2009, encerrarei este projeto inútil, natimorto. Eis minha primeira resolução de ano-novo.

NOVE DE DEZEMBRO

Um sufoco.
O trânsito de São Paulo.
Amostras grátis de ingratidão e insônia.
Outro sufoco.
Um buraco na rua.
Rua principal.
Amostras grátis e risonhas de ignorância.
Modus operandi rapidamente alterado.
Plano B.
C.
D.
E depois?

OITO DE DEZEMBRO

Há tempos o mundo não me dá mais mostras de que alguns valores -- entre eles, a amizade -- valem a pena. Por sorte, não tenho mais acreditado no mundo, mesmo.

29.12.09

SETE DE DEZEMBRO

- Cof, cof, cof!
- Coffee?

SEIS DE DEZEMBRO

A estrada pode ser tudo -- longa, esburacada, íngreme, nervosa, tristonha... --, menos monótona

CINCO DE DEZEMBRO

De todos os poderes atribuídos à natureza, sem dúvida o mais correto é a sua estranha capacidade de revigorar o ser humano, fazê-lo ser humano outra vez.

QUATRO DE DEZEMBRO

Cada vez menos acredito na escrita como catarse. Cada vez mais deposito nela uma incredulidade mórbida.

TRÊS DE DEZEMBRO

O medo. A expectativa. A dureza. A insatisfação. O remédio. A crueldade. O último gole, residual, de esperança.

"Como se fosse um espelho em frente ao outro"

Cara, estou muito irritado com as coisas.
Hoje em dia você pode deixar tudo emendado, saca? Tipo atualizar seu blog e ele automaticamente alimentar seu twitter, que pode automaticamente alimentar seu facebook, que pode sei lá o quê. Não dá, cara, fica insano. A ponto de eu entrar no flickr de um amigo, clicar na foto para vê-la ampliada e perceber que a mesma não está hospedada no flickr, mas sim no twitpic, que é aquele treco de fotos do twitter. Ou seja: a foto também apareceu no twitter dele (e eu não vi). E dá para fazer o caminho inverso também. Quando eu atualizo meu blog, aparece no twitter. Quando eu atualizo o twitter, aparece no blog. É um ciclo infinito, como se fosse um espelho em frente ao outro. Não dá para conviver com isso, não dá.
Acho que vou mudar de planeta.

No radinho de pilha



"Vou ficar com ela até o fim"

DOIS DE DEZEMBRO

Como se eu fosse um alfabeto decrescente, venho por meio deste excluir os números bestas de minha existência.

PRIMEIRO DE DEZEMBRO

O que sobra, no fim, é a lembrança. O resto é dor.

TRINTA DE NOVEMBRO

Por dentro, o organismo finge que não existe mais. Só pedras, tampouco lapidadas.
A essência é uma ilusão.
Como se eu estivesse em um filme. Com péssimo roteiro, parcos diálogos, nenhuma direção. Apenas a vontade, pouco à vontade.
Onde é o botão que desliga?

VINTE E NOVE DE NOVEMBRO

Tem dias que não é bom começar nem encerrar.

VINTE E OITO DE NOVEMBRO

Tem dias que é melhor encerrar que começar.

VINTE E SETE DE NOVEMBRO

Tem dias que é melhor começar que encerrar.

VINTE E SEIS DE NOVEMBRO

Tudo o que mais quero é uma vida mansa. Porque todo o resto só me cansa. E, no fim da história, o mundo inteiro dança.

VINTE E CINCO DE NOVEMBRO

Noves fora, novembro é de chuvas.

VINTE E QUATRO DE NOVEMBRO

Quem acredita em desafios não deve aborrecer muito os conselhos. Da carta ao violão, arrisca o verso, mesmeja o sussuro, se engana o tropeço. Toda as desilusões já foram pagas.

VINTE E TRÊS DE NOVEMBRO

Tem fósforo?

VINTE E DOIS DE NOVEMBRO

Está escuro.

VINTE E UM DE NOVEMBRO

Quero uma flor que me fale.
Ao coração.
Existem mãos que não se tocam, beijos que não se dão, conceitos que se subtraem?
Quero uma dor que me fale.
E seja bruta.
E seja sincera.

28.12.09

VINTE DE NOVEMBRO

Caligrafia. Cacografia. Quem se importa?

Para começar a semana

“Nos livros aprendi a fugir ao mal sem o experimentar.”

DEZENOVE DE NOVEMBRO

Vontade absurda de ser poeta -- ou, pelo menos, recuperar o aprendiz que já fui um dia.

DEZOITO DE NOVEMBRO

O rádio cansa. O jornal entendia. A TV emburrece. O livro enjoa. O cinema não funciona mais.

DEZESSETE DE NOVEMBRO

É dos amigos. Os verdadeiros.
Sem me importar com o resto.
Porque o resto é nada.

DEZESSEIS DE NOVEMBRO

Qual o preço de uma saudade?
Qual o peso de um retorno?
Qual a tensão de outra partida?
Qual a chance de ser definitivo?

QUINZE DE NOVEMBRO

Não confio mais em expectativas.

CATORZE DE NOVEMBRO

Não conheço ninguém que seja herói e não viva em um mundo de ficção.

TREZE DE NOVEMBRO

A literatura é um exercício do "somos-em-potencial", não do "somos-em-essência". Senão vira diário. Ou, pior: senão vira jornalismo.

DOZE DE NOVEMBRO

Uma vez, conheci um homem que colecionava datas. Morreu no dia do seu aniversário.

ONZE DE NOVEMBRO

Difícil conseguir pensar em ideias novas quando ainda se é atormentado -- assombrado -- pelas velhas.

DEZ DE NOVEMBRO

Para referendar o óbvio, melhor o silêncio.

27.12.09

NOVE DE NOVEMBRO

O calendário vai chegando ao fim e o corpo denuncia o fato. Inadiváel, como todos os anos. Frangalhos, dor, sensação incrível de que não fui metade do que tencionava.

OITO DE NOVEMBRO

Gosto de tuas palavras principalmente quando elas se me vêm nuas. E inteiras, perfeitas, quase colecionáveis.
Gosto de tuas palavras quando elas são verdade mas se parecem com mentira.

SETE DE NOVEMBRO

Louco é o que se nega. Louco é o que escapa. Incrivelmente louco o que se desastra.

SEIS DE NOVEMBRO

De tanto que a gente combina, nossa vida até rima.

CINCO DE NOVEMBRO

A felicidade é essa coisa estranha de se acumular momentos bons. Nem sempre dá certo, evidentemente.

Domingo, foto

50, 2009
Clique de Carol Zaine (1985- )

26.12.09

Porque hoje é sábado

A fruta aberta

Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.

Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.

Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.

Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.

(Thiago de Mello)

25.12.09

Seção da sessão



E se a famosa Guernica de Picasso fosse em 3D?

24.12.09

Instante da estante

ANTUNES, Ivan (et al). Santo Largo Treze. São Paulo: Annablume, 2008.

23.12.09

Um quadro às quartas

Andromache, 1916
Obra de Giorgio de Chirico (1888-1978)

22.12.09

No radinho de pilha



"Que alegria você estará comigo
Domingo que vem"

21.12.09

O fato das fotos: novo blog

Eu ia inaugurar só no ano que vem. Mas não resisti e já coloquei no ar, ainda em versão experimental e, portanto, passível de ajustes -- que virão. Criei um novo blog. A princípio, este Cronopolitano segue normalmente. A ideia do Imagens é, como o próprio nome diz, ser um depósito de fotografias que venho tirando por aí. Apareçam.

Para começar a semana

“Para não sofrer com a realidade exterior, as pessoas muitas vezes se estreitam, reduzem suas existências, e se fecham para os outros. A guerra apaga a face do outro, transforma-o em um estereótipo. E escrever é dar rosto aos outros.”

20.12.09

Metáfora

Para fotografar sombras, desligue o flash.

Domingo, foto

São Paulo, 2008
Clique de Sylvia Masini (1957- )

19.12.09

Porque hoje é sábado

Vozes

aos gritos
antegozava

(gata) gemia
em jatos

e

aos pulos
jorrava
sussurros
rápidos

(Frederico Barbosa)

18.12.09

Seção da sessão



Viagem pelo universo.

17.12.09

Instante da estante

VELOSO, Caetano. Literatura comentada. São Paulo: Nova Cultural, 1990.
Não se importe com o suporte:
Poesia não precisa de passaporte.

16.12.09

Um quadro às quartas

Ariadne, 1913
Obra de Giorgio de Chirico (1888-1978)

Velha quadrinha revisitada

Me tornar
Um colibri
Só pelo álibi
De te beijar

15.12.09

No radinho de pilha



"Tudo é igual mas estou triste
Porque não tenho você perto de mim"

14.12.09

Para começar a semana

"A literatura é um lugar de encontro entre as pessoas."

Aleksandar Hemon (1964-)


13.12.09

Domingo, foto

Luanda, 2008
Clique de David Braga (1980- )

12.12.09

Porque hoje é sábado

Jeans

A carne forçada
sob a calça jeans
quase explode
querendo sair.
O tecido vibra
fibra a fibra
trêmula grade
implodido jardim.

Enquanto a carne
flora pura
implora em si.

(Frederico Barbosa)

11.12.09

Não há

  • Cifras nem cifrões;
  • Manhãs nem amanhãs;
  • Pedras nem perdas;
  • Sonos nem sonhos;
  • Ser tão nem sertões.

Seção da sessão



Trailer do filme Carro de Paulista -- baseado na peça homônima do amigo Mario Viana --, que a TV Cultura exibe dia 19 próximo.

10.12.09

A vida teima em existir, com todas as suas gelatinas amarelas capengas e desilusões amanhecidas. Não há vento que sacuda o suficiente. Não há aquela história idiota de luz no fim do túnel -- não há nem fim de semana. A sucessão de dias é uma mentira na qual insistimos em acreditar.

Instante da estante

VERAS, Everaldo Moreira. O menino dos óculos de aro de metal. São Paulo: Brasiliense, 1981.

9.12.09

Um quadro às quartas

Portrait prémonitoire de Guillaume Apollinaire, 1914
Obra de Giorgio de Chirico (1888-1978)

8.12.09

No radinho de pilha



"E mostrar que, de fato, é campeão"

7.12.09

Antevisão de vésperas

Como o vento,
Comovente
É meu alento.

Para começar a semana

“A literatura é muito maior que o artista. Você vai ser sempre um ponto mínimo dentro dela e se conformar com isso.”

6.12.09

Domingo, foto

Escadaria da Biblioteca Mário de Andrade, 2008
Clique de Sylvia Masini (1957- )

5.12.09

Porque hoje é sábado

Sem título

Penta, gritos, glória.
Agora pensa, Brasil:
muda sua história.

(Frederico Barbosa)

4.12.09

Seção da sessão



Missão impossível.

3.12.09

QUATRO DE NOVEMBRO

Estava escrito: entrada proibida.

TRÊS DE NOVEMBRO

Estava escrito: mantenha distância.

Instante da estante

BONASSI, Fernando. Montanha-russa. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

DOIS DE NOVEMBRO

Estava escrito: cão bravo.

PRIMEIRO DE NOVEMBRO

Estava escrito: não pise na grama.

TRINTA E UM DE OUTUBRO

Estava escrito: não alimente os animais.

A mim mesmo

Sou todo desespero:
Metade dos outros me apoia;
A outra, nem olha.

2.12.09

TRINTA DE OUTUBRO

Estava escrito: este lado para cima.

Um quadro às quartas

La solitudine, 1910/20
Obra de Giorgio de Chirico (1888-1978)

VINTE E NOVE DE OUTUBRO

Estava escrito: embalado a vácuo.

VINTE E OITO DE OUTUBRO

Dentro do pacote havia nada. Era um retrato perfeito da vida que levava.

VINTE E SETE DE OUTUBRO

Dentro do pacote havia tudo. Era um retrato perfeito da vida que levava.

VINTE E SEIS DE OUTUBRO

- Você ainda gosta de letrinhas?
- Só no macarrão. E você?
- Também prefiro as de comer.

De mim mesmo

Sou todo vontades:
Metade de mim vai embora;
A outra, corrobora.

1.12.09

VINTE E CINCO DE OUTUBRO

Todos os caras do mal viraram nome de rua.

VINTE E QUATRO DE OUTUBRO

Dormente, toda dor mente.

VINTE E TRÊS DE OUTUBRO

É preciso outro breu para riscar outubro.

VINTE E DOIS DE OUTUBRO

Sempre que durmo com dor de cabeça acordo com dor de cabeça.

Das negativas

  • Não ir;
  • Não gostar;
  • Não abrir;
  • Não sorrir;
  • Não ser.

No radinho de pilha



"Eu já amei demais"