26.9.05

Sete (ou Receita)

Extrair
da dobra o nada
da obra o cada
do cadarço o ranço.

Depois
perder tudo.

Perder-se
agulha na palha
cachorro louco
caminhão.

Depois
prender tudo.

Com um clipe especial
tamanho GG
prender: caminhão
dobra cadarço
cada obra
nada ranço
louco palha
agulha cão.
Prender-se
à chaves, muitas.

22.9.05

Dois

Não quero mais morar no lugar-comum
Antes ser ausência.

Antecipação

Não me adiantam mais
os pedaços de Deus
que brotam das feridas.

Agora tem dias
que adentro multidões,
sacudo algodões,
costuro adeuses,
desfaço saudades.
Sou fluido.

Quero o todo.

21.9.05

Confissão Entrecortada

Sentado
Escrevo nada
Devagar

O que era pra ser curva de rio
Quedou-se desvario.

Sentido
Vejo-me nada.
Invejo-me.

19.9.05

Repúnica

Covardia era ele só ter dezoito dentes na boca e ainda assim se importar com os fatos. Vamos chamar de fatos aquela relação escova-pasta-soco-na-cara-travesseiro.

Respirava o ar sujo que vinha da janela. Não, não tinha retrovisor. E seu filtro fazia tempo que só tinha água estragada.

17.9.05

Vontade

Tenho uns quatro poemas na manga e uma vontade incrível de blogar. Vocês vão entender.

13.9.05

Boutade

Tinha uma piadinha pra contar nos dedos. Perdi. Escorreu pela manga da camisa e escorregou pelo buraco do bolso de trás da calça Lee.
Era uma vez, três porquinhos...
Era uma vez, num mundo distante...
Era uma vez, uma menina de chapeuzinho vermelho...
Era uma vez, há muito tempo atrás...
Era uma vez, no belo reino da...
Era uma vez, sete anões...

Inventei outra piadinha pra contar nos dedos, com uma pitadinha de pimenta vermelha. De dar dó. De arder. No duro.
Tem mas acabou.

Néctar

Não há nada mais grave do que despencar. Como uma banana. Sem ser amassadinha.

Eram duas da tarde quando Reginaldo virou patê.

10.9.05

:::para extração de petróleo

nada melhor do que cobaias!

9.9.05

PoemAmante

Na cadência estúpida da vida,
Transparece nítida a dádiva
de te amar a cada dia
sem dúvida
nem nada.

Rasgo a camisa
E, por dentro, no peito
onde a brisa bate,
É meu coração quem diz:
- Te amo! Te amo! Te amo!

Adiante: a dívida do viver-junto
A ser cobrada no dia-a-dia
e na noite-a-noite.
Adentro: o adeus da saudade,
a simbiose onomatopaica do orgasmo,
a cidade que se apaga
aos teus olhos que se me apegam.
A dança adianta os passos
na cadência estúpida da vida
onde a única dádiva é o amar-te.

8.9.05

Muito obrigado

Então hoje não tem post.

7.9.05

YyYyYy

O inventor de palavras declarou solenemente que a vida é um amontoado de conhecidências. Umas tortas, outras sem cobertura de calda de morango mesmo.

O inventor de palavras é um velhinho caolho que mora nas veias cinzentas de meu cérebro. Não cobro aluguel.

6.9.05

sina(l)

Sou comumente confundido com um origami amarelo.

Quando nasci, enquanto o médico surrava minha bunda, ouvi mamãe me dizendo:

- Vai filho, vai ser papel na vida!

Eu não entendi que ela falava de teatro.

5.9.05

Manifesto de Desaniversário

Aniversário é sempre sinônimo de Parabéns pra Você. Não pra mim.

Claro que a falta de iconoclastia não permite que dispensemos ou abramos mão dos cumprimentos. O ser humano é nervoso. Eu sou tímido. Sou cabisbaixo quando preciso e sussurro um assentimento de concordar.

Mas parabéns, essencialmente, deveria ser reservado às conquistas. Aniversário todo mundo faz. Tirante os mortos, evidentemente.

Contudo, que graça há em competir com os mortos?

2.9.05

4

Em dias de jogo, Seu Espiridião parece outra pessoa. Fanático, fica irrequieto o dia todo, curtindo a expectativa nervosa de mais uma derrota de seu time. Não sabe onde guarda as mãos, mete os pés nos bolsos, encosta a língua no céu da boca e tirita os dentes. Seu Espiridião sofre.

Quatro da tarde e a tevê da casa de Seu Espiridião já está, há muito, ligada no canal certo. A voz do narrador chato ressoa pela casa, a bola rola. Mas onde está Seu Espiridião?

Ele nunca é torcedor de sofá. Sofre.

- Sou azarado. Se assisto ao jogo, meu time perde.

Então prefere caminhar pelas ruas da cidade. Caminha muito. E, de cinco em cinco minutos, apanha o celular:

- Alice! Quanto tá o jogo?

1.9.05

3

Dona Alice, 45 anos, é a mulher do Seu Espiridião. Ele foi o único homem da vida dela, mas a recíproca, infelizmente, não é verdadeira. Coisa dos velhos tempos. Ou não. O certo é que Dona Alice cultiva o esdrúxulo hábito de colecionar palíndromos.

- Até Reagan sibarita tira bisnaga ereta! – grita, eufórica, pela casa.

Ela jura, de pés juntos, que é a autora do célebre “socorram-me, subi no ônibus em Marrocos”. Ninguém acredita na pobre Dona Alice.