29.2.08

Ordem no caos (?)

Navegabilidade é a palavra-chave, dizem todos os que têm cartas nas mãos.

Eu, que carrego as minhas, de navegação, nas mangas, não posso contestar muito não.

Visual novo no blog velho. Aí à direita tem minha foto-desenho (valeu, Du), uma enquete-quente (participe!) os arquivos todos do cemitério, linques de paradas que costumo ler-ver (calma que ainda vou botar outros) e a famosa nuvem de tags (que aqui são as cinzas dos textos-defunto mesmo). Desta última, aliás, não tente entender a classificação. Nem sei mais como.

Também me rendo ao multimídia. Toda sexta, um filminho. E ainda vou pensar em outras coisinhas periódicas para entreter quem enjoa fácil das letrinhas.

Desolado

Mudar o mundo?
Desisti...
Deus não admite concorrência.

27.2.08

Comentário

É uma danação a qual estamos condenados todos nós, servos da burocracia intransigente. Ninguém fica bem um retrato três por quatro.

Só ela.

Só, ela.

Quarto de república

Tiro um retrato da parede do meu quarto
Pra depois pregar
Na parede do meu quarto.

26.2.08

Jardim de infância

se eu fosse criança
juro que ia brincar
de ser feliz

Quadro pendurado na parede oposta

fotografia jornal coca-cola
bananas verdes
cola escolar
jornal Genet Buñuel Kiarostami
sabor de cereja Kiarostami
carta carta carta selos agenda de endereços
pães
toalha
caneta papel caderno de poesias
fotografia jornal cola escolar
sabor de banana
cerejas verdes

Abro o caderno e as esperanças
Que estavam fechadas para almoço.
Peraí...
Hoje é domingo - de súbito, me vem a lembrança!
Torno a fechá-los
E vou dormir na sala.

25.2.08

Poemeu

A alma me escorre por entre os dedos
e perco mais uma!
Vermelho: sangue ou primavera?

Gosto de sabê-la amada
embora tenha uma inveja desgraçada.

23.2.08

Eclipse 2

Cabelos, pêlos, pentelhos:
Meus dedos em seus apelos
Meus suspiros em seus medos.
Cabelos, pêlos, pentelhos:
A vida em cima da cama
A vida dentro do espelho.

(Depois, trêmulos instantes,
Pelos corpos relaxados
Lado-a-lado que foi antes,
A lua espia invejosa!)

Eclipse

Cabelos, pêlos, pentelhos...
A vida em cima da cama
A vida dentro do espelho.

Pernas pensam feito pinças
Pincelando a doce trama
(Antes fosse uma crença!)

Cheiro ocre, acre cor
Pele a pele, face em face
Inteiro fraque de amor...

Terno traquejo desejo,
Um só beijo a cada cálice
E tudo que mais não vejo.

Cabelos trêmulos pêlos:
Pelos corpos tão afoitos
Prazer aguarda no prelo.

Lumiados pela lua
Etéreas noites e noites
Onde meu é também tua!

20.2.08

Aos raros navegantes, um aviso

Este blog rareia, rareia, mas não acaba.

16.2.08

Leminskaindo

Por um instante
Seria importante libertar o Leminski que mora em mim:
Embebedar-me liricamente de poesia e álcool
E tornar-me perene feito nuvem
(Uma perenidade singular
Que como sonho
Se esfacela no ar
E chove quando a força alcança!)

Mas de anacoreta nefelibata
Converter-me-ia poeta curitibano?
Prefiro tentar notívago sobrevivente
Ser alma que será uma rima, uma lágrima...
Firo tudo o que é concreto
E no meio do éter desperto:
Sofrimento?

Ali se via Alice perdida
Ah, li "Alice no país das maravilhas"
Há ali o coelho que me olha
Desconfiado: Leminski, salvai-me!

Trato tudo como se antes não houvesse-me
Não me haveria?

11.2.08

sua.real

(da série: delírios)

Certa noite, sonhei que era um terroregoísta com bomba na mão mas não queria gastá-la para matar um bocado de gente. Então, entrei dentro de uma caixa-preta e explodi-me por inteiro. Meus pedaços – miolos estourados, poemas rarefeitos, um dedinho dançante e um pau duro – foram encontrados quinze horas depois por uma equipe especializada de direito ambiental. Enquadrado por um sem-número de artigos (sujar espaço público, etc. etc. etc.), fui punido com dois anos e três meses de cadeia. Paguei fiança e jamais dormi dentro de uma cela.

Desse episódio marcante, nasceu a idéia da sua.real, a primeira e única revista contrajornalística do mundo. Nela, a matéria é surreal e a incoerência é fundamental. Afinal, já não bastasse o mundo e as pessoas ainda têm de ler jornais?

O contrajornalismo é o estágio máximo do colapso da objetividade, da informação, do lide, do número de caracteres, da reportagem, da pauta. E é o maximespaço da liberdade, da expressão, da poesia, da flexível leveza líquida de ser essencial e estético.

Em sua.real a única obrigação é provocar. Para tanto, todos os recursos estilísticos devem ser empregados. Sinestesia, poemas, geometria, filosofia, física, pornografia, zoologia, marxismo, curandeirismo, eis o território dos verdadeiros onívoros culturais. E a regra máxima é a incoerência, a surrealidade, a deturpação imagética e descritiva dos lances.

Contrajornalismo não é ficção, porque nele há um comprometimento com as impressões da realidade. Contrajornalismo não é jornalismo gonzo, porque exige um apuro verbal e um cuidado com cada palavra do texto. Mas o contrajornalismo, posto que abrangente, pode conter ficção, gonzices, realismo fantástico e até umas (moderadas) pitadas de jornalismo de verdade.

Nós três somos a base fundadora desse movimento. Uma tríade feito Santíssima Trindade. Escolhidos, cabem-nos erigir as bases para essa vertente máxima da comunicação, o futuro dos sem-noção no planeta. O ideal é que comecemos agora pois caso a censura seja instituída novamente no Brasil é com a sua.real que iremos debochar da cara de seja-lá-quem-for pensar em mandar nas nossas cabeças-loucas.

Que toda vontade seja cumprida.

9.2.08

A Lívia

Pelo álibi que alivia
Lívia
fico lívido
mas quem se distancia?

Se no néctar que anuncia
Lívia
fico nítido
onde será que escurecia?

Rimamos menos
quando não
rimos demais
Ou amamos menos
quando não
poemamos mais?

Lívia ali via-
me lívido e
aliviada ria
por mim.

6.2.08

Incunábulo

dentro de mim um abraço se abre
idiota inédito
em bustrofédon.

fico lambendo as palavras
que brotam
em caixa baixa.
como se elas fossem eróticas
como se elas fossem mulheres
como se elas fodessem.

dentro de meus embaraços poemo
souco roco
loco do pau ouco.

5.2.08

F I M

Com o término de correndo da carranca do carimbo, caramba! este blog volta com sua programação normal. Bom apetite.

feira livre

Oito dias depois da morte do nove, noves fora, foram os outros oito, quarta, pra feira.
- Olha a aaalma! Olha a aaalma! Apenas uum real!
O diabo foi lá e comprou todas.

4.2.08

mas eu tenho tudo o que você precisa

- Ah! Você fez geléia do nosso filho!? Te amo mesmo assim...O meu amor também é lindo, o amor é lindo, dizem que é lindo, deve ser lindo. M. De muito. Quem será que sou eu? O alfabeto tem ciúmes?
Parece mesmo. Pintura. A tiazinha que montou enquanto fazia as promessas pra não cumprir.
- Adorei. Bem diferente. Ponto.
Mas eu só acredito vendo ao vivo. Não curto coisas mortas. Logo teremos tudo de novo. Mãos que se tocam novamente. Vejo pink onde é punk. Maldito monitor!
Nosso céu eu também não consigo ver. Sim. Reconheço essa, tô chegando ao momento maravilhoso que foi esse.
- Logo teremos a vista de novo...
Tem gente que quer conhecer o fotógrafo, eu sou só saudades, morda a língua porque foi horrível ver o sol se pôr, parece que foi há anos, parece que é domingo, parece que vou resolver logo logo logo o problema.
- Eu dei palpites na criação.
Muito amor que eu adorei. No words, no picture, mas os comentários funcionam. But. Você não tem idéia, isso sim. Acaba uma saudade e aparece outra.
Meio MM (obrigada, somos lindos, saudades, falha nossa, parece nerd, gostou, poluição, viva o seu câmpus):
- Voltou ao normal? Gosta da idéia?
Quem é que vai pro hospício? Quem é quem é quem é?

3.2.08

scrap

Hoje estava tartamudeando sozinho por aqui e pensando como sou um homem triste, destes que se fabricavam antigamente, que choram em segredo e cantam quando vêem chover lá fora.
Sou o homem fabricado às antigas e minhas flores são mais frágeis que as de um ipê-roxo.
Então estava só como a fotografia. Uma sombra, um assombro, uma nesga de nada ou de talvez.
Acho que não sou nem metade daquilo.

2.2.08

não faz muito sentido

É essa louça que nada dia nada noite, aumenta e só-faz-aumentar. Por que não aprende a tomar banho sozinha?

***

Muda-planta pra cidade-muda onde me mudo.
Na cidade onde ninguém sabe falar eu também me calei.
.

***

São só sons

barro barulho baralho esbarro espirro esporro esparro espelho vermelho velho sem chapéu chovendo chuva molhada melado moída e torrada café cá fé lá dúvida dói vida válida desvalida pétala imprecisa vida vade retro projetor de luz cinema cena menos amena vertigem ver-te gente azul amarela verde madura mas dura que nem maria-mole tudo assim associado.

***

De repente eu era um garoto que montava um quebra-cabeça quase infinito. Uma peça por dia encaixava e a figura ia se formando. Uma vez, surpreso, constatei que estava montando o meu próprio retrato.
Quando, já bem velho, completei o quebra-cabeça, descobri que montara um espelho. O garoto do começo trazia rugas e idade avançada. Então, olhando estupefato para a obra concluída, vi a morte ao fundo, armada, pronta para me pegar e foi-se a vida. Missão cumprida.

1.2.08

capítulo 22, post-mortem

Um dos gnomos, que prefere não ser identificado, mas ele falou indetificado, cismou de costurar o cadáver do gnomo nove.
No dia seguinte, o mesmo gnomo que prefere não ser identificado mas falou indetificado cismou de costurar o cadáver do gnomo nove, de novo.
No outro dia ainda, o mesmo gnomo que prefere não ser identificado mas falou indetificado cismou de costurar o cadáver do gnomo nove de novo.