31.10.09

Porque hoje é sábado

A cidade antiga

Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila
E em que os parques usavam cinto de castidade
As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto
Com a posterior invenção dos kamikazes
De resto, a metrópole era inexpugnável
Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.

Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA
U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!
Vogais! tônico para o cabelo da poesia
Já escrevi, certa vez, vossa triste balada
Entre os minuetos sutis do comércio imediato
As portadoras de êxtase e de permanganato!

Houve um tempo em que um morro era apenas um morro
E não um camelô de colete brilhante
Piscando intermitente o grito de socorro
Da livre concorrência: um pequeno gigante
Que nunca se curvava, ou somente nos dias
Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.

Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!
Em que se comentava: Verso livre! com receio...
Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:
"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."
Em que se ia ver a bem-amada sepulcral
Decompor o espectro de um sorvete na Paschoal

Houve tempo em que o amor era melancolia
E a tuberculose se chamava consumpção
De geométrico na cidade só existia
A palamenta dos ioles, de manhã...
Mas em compensação, que abundância de tudo!
Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!

Houve tempo em que apareceu diante do espelho
A flapper cheia de it, a esfuziante miss
A boca em coração, a saia acima do joelho
Sempre a tremelicar os ombros e os quadris
Nos shimmies: a mulher moderna... Ó Nancy! Ó Nita!
Que vos transformastes em dízima infinita...

Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo
Tempo para a peteca e tempo para o soneto
Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo
Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...
Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima
Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima.

(Vinicius de Moraes)

30.10.09

Seção da sessão



Aqui na terra 'tão jogando futebol.

29.10.09

Instante da estante

CAMARGOS, Marcia. Juca e Joyce - Memórias da neta de Monteiro Lobato. São Paulo: Moderna, 2007.

28.10.09

Um quadro às quartas

Sem título, 2006
Obra de Eduardo Sued (1925- )

27.10.09

No radinho de pilha



"But you look sweet upon the street
On a bicycle built for two"

26.10.09

Para começar a semana

“O que é um livro que nem mesmo sabe levar-nos para além de todos os livros?”

25.10.09

Domingo, foto

Stonehenge rocks!, 2009
Clique de Edison Veiga (1984- )

24.10.09

Porque hoje é sábado

A carta que não foi mandada

Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais

(Vinicius de Moraes)

23.10.09

Seção da sessão



Para quem gosta de brincar de Lego.

22.10.09

Instante da estante

JAGUAR (org.); AUGUSTO, Sérgio (org.). O Pasquim, antologia - volume I. Rio de Janeiro: Desiderata, 2006.

21.10.09

Um quadro às quartas

Le baiser, 1892
Obra de Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa (1864-1901)

20.10.09

No radinho de pilha



"E o meu erro foi crer
Que estar ao seu lado
Bastaria"

Link legal

Quer se programar para ver o céu? Efemérides astronômicas.

19.10.09

Para começar a semana

"É cada vez mais difícil escrever, pois temo desapontar os leitores que acreditam em mim"

18.10.09

Domingo, foto

Coliseu, 2009
Clique de Edison Veiga (1984- )

17.10.09

Porque hoje é sábado

A cidade em progresso

A cidade mudou. Partiu para o futuro
Entre semoventes abstratos
Transpondo na manhã o imarcescível muro
Da manhã na asa dos DC-4s

Comeu colinas, comeu templos, comeu mar
Fez-se empreiteira de pombais
De onde se vêem partir e para onde se vêem voltar
Pombas paraestatais.

Alargou os quadris na gravidez urbana
Teve desejos de cúmulos
Viu se povoarem seus latifúndios em Copacabana
De casa, e logo além, de túmulos.

E sorriu, apesar da arquitetura teuta
Do bélico Ministério
Como quem diz: Eu só sou a hermeneuta
Dos códices do mistério...

E com uma indignação quem sabe prematura
Fez erigir do chão
Os ritmos da superestrutura
De Lúcio, Niemeyer e Leão.

E estendeu ao sol as longas panturrilhas
De entontecente cor
Vendo o vento eriçar a epiderme das ilhas
Filhas do Governador.

Não cresceu? Cresceu muito! Em grandeza e miséria
Em graça e disenteria
Deu franquia especial à doença venérea
E à alta quinquilharia.

Tornou-se grande, sórdida, ó cidade
Do meu amor maior!
Deixa-me amar-te assim, na claridade
Vibrante de calor!

(Vinicius de Moraes)

16.10.09

21. Responsa e Sussa

- Sussa, tudo bem?

- Sissempre. E você?

- Nanunca.

- Quente não a cabeça, rapá!

- Tanta coisa prafazer, tanta vida praviver...

- Ou faça, ou pense. Ou viva, ou pense. Cêquesabe.

- Taí. Outracoisa prapensar, problema, problema, problema.

Seção da sessão



Cadernos mágicos.

15.10.09

Instante da estante

SABINO, Fernando. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1998.

14.10.09

Um quadro às quartas

Le lit, 1893
Obra de Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa (1864-1901)

13.10.09

No radinho de pilha



"E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar"

12.10.09

Para começar a semana

"Para mim, escrever era a forma de dar voz às coisas que eu não podia viver de fato."

Herta Müller (1953- )

Link legal

Banco de dados de desenhos de carros, motos, tanques, aviões, armas, celulares, etc.

11.10.09

Link legal

Um aquário virtual.

TRINTA E UM DE AGOSTO

Trago as expectativas nas pontas dos dedos. Elas se chamam cigarro.

Domingo, foto

Outono em Hyde Park, 2009
Clique de Edison Veiga (1984- )

10.10.09

Porque hoje é sábado

A bênção, Bahia

Olorô, Bahia
Nós viemos pedir sua bênção, saravá!
Hepa hê, meu guia
Nós viemos dormir no colinho de lemanjá!

Nanã Borokô fazer um Bulandê
Efó, caruru e aluá
Pimenta bastante pra fazer sofrer
Bastante mulata para amar

Fazer juntó
Meu guia, hê
Seu guia, hê
Bahia!

Saravá, senhora
Nossa mãe foi-se embora pra sempre do Afojá
A rainha agora
É Oxum, é a mãe Menininha do Gantois

Pedir à mãe Olga do Alakêto, hê
Chamar Inhansã para dançar
Xangô, rei Xangô, Kabueci-elê
Meu pai! Oxalá, hepa babá!

A bênção, mãe
Senhora mãe
Menina mãe
Rainha!

Olorô, Bahia
Nós viemos pedir sua bênção, saravá!
Hepa hê, meu guia
Nós viemos dormir no colinho de lemanjá!

(Vinicius de Moraes)

9.10.09

Seção da sessão



Abec3Dário.

8.10.09

Instante da estante

ROCHA, Wilson. Os passageiros do futuro. São Paulo: Ática, 1994.

7.10.09

Um quadro às quartas

Maisons à Fenouillet, 1898/99
Obra de Henri-Émile-Benoît Matisse (1869-1954)

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O Google do céu.

6.10.09

No radinho de pilha



(Sem palavras)

De eternidades sem poréns

A fórceps, descobri que só o que é perene me agrada. O resto, em nós, enoja-me a mim e ao meu organismo quase putrefato.

Odeio eternidades. Principalmente as absolutas.

5.10.09

Para começar a semana

“Nós, escritores, somos como vampiros. Sugamos as histórias alheias.”

4.10.09

Domingo, foto

Louvre, 2009
Clique de Edison Veiga (1984- )

3.10.09

Porque hoje é sábado

A Bíblia

A Bíblia já dizia
Pra quem sabe entender
Que há tempo de alegria
Que há tempo de sofrer
Que o tempo só não conta
Pra quem não tem paixão
E que depois do encontro
Sempre tem separação
Que o dia que é da caça
Não é do caçador
E que na alternativa
Viva e viva
E viva o amor

A gente vem da guerra
Pra merecer a paz
Depois faz outra guerra
Porque não pode mais
E deixa andar e deixa andar
Até a guerra terminar
Vamos curtir, vamos cantar
Até a guerra se acabar

(Vinicius de Moraes)

2.10.09

Nenhum suspeito do creme. A histeria se repete. Só cavalos em cascas de novo. Carimbo!

Seção da sessão

Carrossel do presente.

1.10.09

Instante da estante

VAZ, Sérgio. Colecionador de pedras. São Paulo: Global, 2007.