30.11.10

inquietude

vivo de contagens regressivas, doutor
é grave
sei que é grave
do tipo de gravidade que até ecoa
- ave, ave, ave...

vivo de reminiscências nubladas, doutor
é triste
sei que é triste
do tipo de tristeza que até parece
um chiste.

vivo de presentes repreensivos, doutor
é fato
sei que é fato
e ponto.

22.11.10

10ânimo

com o olhar amanhecido
o poeta nem mais sorri:

pede alforria
de toda mais-valia
nem todo ganha-pão

porque entre sim e não
com o corpo anoitecido
a vida era para ter sido
e não foi, não foi, não foi.

pede alforria
o poeta
pede alforria
e decreta:

sem estrela nem vela
nada que valha a pena.

10.11.10

na padaria do poeta
nem só sonho
é tamanho
nem só pão
é oração.

há versos de farinha
sem rima
há versos de queijo
sem beijo
e há também os versos
perversos, daninhos,
que passam do ponto
dão dó.

na padaria do poeta
só não cabem
inflação, moeda
e papo de cumprir a meta.

9.11.10

boas são as travessas
que escondem
delícias

como se assassem
o que se serve
crua

quem disse que
asas
são precisas?

boas são as travessas
que abrigam
palavras

8.11.10

Algumas pessoas são improváveis.

7.11.10

o retrato que escorre feito montanha e arranha o amanhã
como
um espaço em branco
preenche-me.

6.11.10

sem eco

tudo o que eu precisava
era fechar para balanço

como se houvesse
feito ranço
um encanto
que pronto se espreguiçasse
na minha vida de quebrantos

não há, mas.