28.12.10

No radinho de pilha



"Won't you get hip to this timely tip:
When you make that California trip
Get your kicks on Route Sixty-Six"

16.12.10

Seção da sessão



Meus votos de Tudo de Bom Etc.

3.12.10

Perspectivas.
Combinam tão bem com frustrações
Que até dói.

2.12.10

Seção da sessão



No meio do caminho.

30.11.10

inquietude

vivo de contagens regressivas, doutor
é grave
sei que é grave
do tipo de gravidade que até ecoa
- ave, ave, ave...

vivo de reminiscências nubladas, doutor
é triste
sei que é triste
do tipo de tristeza que até parece
um chiste.

vivo de presentes repreensivos, doutor
é fato
sei que é fato
e ponto.

22.11.10

10ânimo

com o olhar amanhecido
o poeta nem mais sorri:

pede alforria
de toda mais-valia
nem todo ganha-pão

porque entre sim e não
com o corpo anoitecido
a vida era para ter sido
e não foi, não foi, não foi.

pede alforria
o poeta
pede alforria
e decreta:

sem estrela nem vela
nada que valha a pena.

10.11.10

na padaria do poeta
nem só sonho
é tamanho
nem só pão
é oração.

há versos de farinha
sem rima
há versos de queijo
sem beijo
e há também os versos
perversos, daninhos,
que passam do ponto
dão dó.

na padaria do poeta
só não cabem
inflação, moeda
e papo de cumprir a meta.

9.11.10

boas são as travessas
que escondem
delícias

como se assassem
o que se serve
crua

quem disse que
asas
são precisas?

boas são as travessas
que abrigam
palavras

8.11.10

Algumas pessoas são improváveis.

7.11.10

o retrato que escorre feito montanha e arranha o amanhã
como
um espaço em branco
preenche-me.

6.11.10

sem eco

tudo o que eu precisava
era fechar para balanço

como se houvesse
feito ranço
um encanto
que pronto se espreguiçasse
na minha vida de quebrantos

não há, mas.

2.10.10

Dosafetos

em que não creio
só leio

e range meu ventre
sedento sempre
como uma dobradiça gasta
velha massa
corpórea
inútil

coleciono bênçãos
feito sacristão
apavorado

em que não creio
só leio.

29.9.10

Amanhã

Ninguém pode enterrar o amanhã.
Porque ele não espera
Porque ele não se cansa
Porque ele simplesmente
acontece.

Ninguém pode carregar as pás,
trazer todas as ferramentas e,
depois de vetusto velório,
procissão fúnebre,
enterrar o amanhã.
Ele não se encerra assim.

O amanhã não permite tropeço
e jamais admite ser pulado.

8.9.10

Frag Mental

da vontade.
sempre sobra, mas soçobra.

do sentido.
estremece, depois esquece.

da querença.
apenas vela, desvela.

da assepsia.
mental, sentimental.

7.9.10

No radinho de pilha



(Já que hoje é Sete de Setembro...)

5.9.10

no deserto de absurdos, várias
rosas
muitos beijos
seus lábios
escorrendo
sobre
mim.

catatônico, absoluto, resignado
sou um erro
como se errante
pudesse-me.

31.8.10

Necrológio

Não fossem estas poucas linhas -- concedidas como cortesia por O Jornal --, Fulano de Tal jamais veria seu nome impresso. Sua vida foi toda de insignificâncias: quando criança era um menino normal, jamais tendo ganho nenhum campeonato escolar de futebol ou sido mencionado com deferência em qualquer meio de notório saber; adolescente, jamais namorou moça bonita e nunca soube tecer versos livres; na adulteza, virou funcionário público, de cotidiano burocrático e previsível. Não se casou, não teve filhos, não construiu legado algum para deixar ao mundo. Dia 31, aos 92 anos.

26.8.10

Instante da estante

TORERO, José Roberto; PIMENTA, Marcus Aurelius. O evangelho de Barrabás. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

18.8.10

Um quadro às quartas

Moça retratada, 1934
Obra de Candido Torquato Portinari (1903-1962)

17.8.10

No radinho de pilha



"Se eles têm três carros, eu posso voar"

16.8.10

Para começar a semana

"Escrever é gravar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena - e disso vem o valor da literatura. Por meio dela, fixam-se aspectos da alma dum povo, ou pelo menos instantes da vida desse povo."

Monteiro Lobato (1882-1948)

15.8.10

Domingo, foto

Ciclovia em Nova York, 2007
Clique de Vitorio Maddarena (1964- )

14.8.10

Porque hoje é sábado

Die bewegung

já que não vou sair por aí
no movimento quebrando vou
ficar aqui bem brando nada
godfather se a mão beijada
é contra nada sobe aqui no
meu monte quase triste dos
perdidos sem vida na volta
perdido sem vinda na volta

(Frederico Barbosa)

13.8.10

Seção da sessão



O maluco cruzou os EUA com 27 mil fotos (via @mdcurioso).

12.8.10

Instante da estante

CHAMIE, Mário. Pauliceia dilacerada. São Paulo: Funpec, 2009.

11.8.10

Um quadro às quartas

Morro, 1959
Obra de Candido Torquato Portinari (1903-1962)

10.8.10

No radinho de pilha



"Please don't you ever ask me things
I wouldn't like to talk about"

9.8.10

Para começar a semana

"Minha vida é o único livro que sou obrigado a ler até o fim."

Fabrício Carpinejar (1972- )


8.8.10

Domingo, foto

Vidro, 2010
Clique de Hélvio Romero (1958- )

7.8.10

Porque hoje é sábado

Se

se
nem
for
terra
se
trans
for
mar

(Paulo Leminski)

6.8.10

Seção da sessão



A Via Láctea.

5.8.10

Instante da estante

ANDRADE, Carlos Drummond de. Novos poemas. In: Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. 1. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009.

4.8.10

Um quadro às quartas

Corredor de vento, 2010
Obra de Bruno Moreschi (1982- )

3.8.10

No radinho de pilha



"Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar"

2.8.10

Aviso

A partir de hoje, também estou no Estadão.com.br. Apareça -- mas não abandone aqui.

Para começar a semana

"Preciso crer na literatura como se fosse uma religião.”

1.8.10

Domingo, foto

Marginal do Pinheiros, 2010
Clique de Hélvio Romero (1958- )

Fragmentos

No fundo é nisso que me espelho: escondo pequenezes, persigo tristezas, desinvento traços de paz; como se tudo o que já não nasce feito, completo, sonolento, fosse possível; como se o desdém se autodigerisse incólume dentro de tanta burrice; como se eu, solitário, soubesse contar cada passo e eles coubessem na menor cabeça do menor alfinete do mundo.

Mas, nada. O espelho coleciona pedaços.

24.7.10

Porque hoje é sábado

manchete

CHUTES DE POETA
NÃO LEVAM PERIGO À META

23.7.10

Seção da sessão



Cinco coroas alviverdes.

22.7.10

Instante da estante

PAPPALARDO, Arnaldo. Tensão calma. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

21.7.10

Um quadro às quartas

Pássaro, 1944
Obra de Candido Torquato Portinari (1903-1962)

20.7.10

No radinho de pilha



"É João, é José"

Link legal

Coleção Sino Azul.

19.7.10

Para começar a semana

“Se a memória visual e sonora do século 20 se apaga durante um blecaute, ou de outra maneira qualquer, sempre nos restará o livro.”

Umberto Eco (1932- )

18.7.10

Domingo, foto

Favela Tiquatira, 2010
Clique de Hélvio Romero (1958- )

17.7.10

Porque hoje é sábado

Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia
Eu sozinho, menino entre mangueiras
lia história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... não corde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito
E dava um suspiro... que fundo !

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

(Carlos Drummond de Andrade)

16.7.10

Seção da sessão



Arrivederci, Palestra Itália!

15.7.10

Instante da estante

ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. In: Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. 1. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009.

14.7.10

Um quadro às quartas

Sem título, 2006
Obra de José Damasceno (1968-)

13.7.10

Lágrimas guardadas


No radinho de pilha



"Tatrrrepôtetretrepiecôã-é-é-ô-hã-hén-Hén
Ôi trégueregué-dôi detêro deguedô
A tataro teguereguedaw
Teguereguedêro dêdow Ô-Éhr-Ôhr-Êhr-Êhr-Áhr-Ó"

12.7.10

Para começar a semana

"A literatura é uma invenção coletiva."

Joca Reiners Terron (1968- )

11.7.10

Domingo, foto

Bark at the, 2010
Clique de Diego Maia (1984- )

10.7.10

Porque hoje é sábado

Ritual dos 4 ventos & dos 4 gaviões

para Marco Antônio de Ossain

"Eu trago comigo os guardiões dos Circuitos celestes."
— Livro dos Mortos do Antigo Egito —

Ali onde o gavião do Norte resplandesce
sua sombra
Ali onde a aventura conserva os cascos
do vodu da aurora
Ali onde o arco-íris da linguagem está
carregado de vinho subterrâneo
Ali onde os orixás dançam na velocidade
dos puros vegetais
Revoada das pedras do rio
Olhos no circuito da Ursa Maior
na investida louca
Olhos de metabolismo floral
Almofadas de floresta
Focinho silencioso da sussuarana com
passos de sabotagem
Carne rica de Exú nas couraças da noite
Gavião-preto do oeste na tempestade sagrada
Incendiando seu crânio no frenesi das açucenas
Bate o tambor
no ritmo dos sonhos espantosos
no ritmo dos naufrágios
no ritmo dos adolescentes
à porta dos hospícios
no ritmo do rebanho de atabaques
Bate o tambor
no ritmo das oferendas sepulcrais
no ritmo da levitação alquímica
no ritmo da paranóia de Júpiter
Caciques orgiásticos do tambor
Com meu Skate-gavião
Tambor na virada do século ganimedes
Iemanjá com seus cabelos de espuma.

(Roberto Piva)

9.7.10

Seção da sessão

Gravidade.

8.7.10

Instante da estante

ANDRADE, Carlos Drummond de. José. In: Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. 1. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009.

7.7.10

Um quadro às quartas

Grupo frente, 1955
Obra de Hélio Oiticica (1937-1980)

6.7.10

No radinho de pilha

"Tudo vira bosta"

5.7.10

Para começar a semana

"É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido."

José de Sousa Saramago (1922-2010)

4.7.10

Domingo, foto

A lua vista daqui da minha janela agora, 2010
Clique de Diego Maia (1984- )

3.7.10

Porque hoje é sábado

Paranoia

Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugadas tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões para pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorróidas das
beatas
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
imaginação

(Roberto Piva)

2.7.10

Seção da sessão



Essa praga de consumismo.

Poeminha incompleto de ontem à tarde

A paisagem mastigava pores-do-sol
ainda que, desmancha-prazeres, o rio irritasse
com o reflexo de sua ponte irradiando sorriso.

Cada tempo com sua coragem. Ridículo.

1.7.10

Instante da estante

CUNHA, Euclides. Castro Alves e seu tempo. São Paulo: Lettera.doc, 2009.

Link legal

O museu nerd dos relógios (via @ricardolombardi)

30.6.10

Um quadro às quartas

Metaesquema, 1958
Obra de Hélio Oiticica (1937-1980)

29.6.10

No radinho de pilha



"Sem carinho, sem coberta"

28.6.10

Para começar a semana

"O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas."

José de Sousa Saramago (1922-2010)

27.6.10

Domingo, foto

Bergen, 2010
Clique de Regina Cazzamatta (1983- )

26.6.10

Luar

sofrendo caladas as pessoas estão lá exercendo suas vidas
paternidades hematomas atletismos ócios leituras prazeres
a lua não para para vê-las apontar com o dedo
a lua do alto de sua nobreza permanece alheia a tudo

pasmaceira
a vida inteira correndo atrás de uma pontuação que fosse adequada
como se houvesse
as emoções o amor as lágrimas a vitória o tédio tudo tudo tudo
não cabe

por isso a lua finge que nem ri
fica lá toda cheia de si alumiando os que nela insistem em namorar.

Porque hoje é sábado

Cartão de Natal

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de voo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:

que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.

(João Cabral de Melo Neto)

25.6.10

Seção da sessão



Daqui a pouco tem jogo do Brasil. Vamos ajudar a salvar este nosso pássaro raro.

24.6.10

Instante da estante

ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. In: Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. 1. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009.

Link legal

Sua senha é segura? Tem certeza?

23.6.10

Um quadro às quartas

Metaesquema, 1972
Obra de Hélio Oiticica (1937-1980)

Link legal

Diário de Barrelas, um jornal de verdade.

22.6.10

No radinho de pilha



"E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos"

Link legal

Gosta de fast food?

21.6.10

Para começar a semana

"Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário."

José de Sousa Saramago (1922-2010)

20.6.10

Domingo, foto

Calotas, 2010
Clique de Hélvio Romero (1958- )

19.6.10

Porque hoje é sábado

Agora

Agora que a agora é nunca
Agora posso recuar
Agora sinto minha tumba
Agora o peito a retumbar
Agora a última resposta
Agora quartos de hospitais
Agora abrem uma porta
Agora não se chora mais
Agora a chuva evapora
Agora ainda não choveu
Agora tenho mais memória
Agora tenho o que foi meu
Agora passa a paisagem
Agora não me desperdi
Agora compro uma passagem
Agora ainda estou daqui
Agora sinto muita sede
Agora já é madrugada
Agora diante da parede
Agora falta uma palavra
Agora o vento no cabelo
Agora toda minha roupa
Agora volta pro novelo
Agora a língua em minha boca
Agora meu avô já vive
Agora meu filho nasceu
Agora o filho que não tive
Agora a criança sou eu
Agora sinto um gosto doce
Agora vejo a cor azul
Agora a mão de quem me trouxe
Agora é só meu corpo nu
Agora eu nasço lá de fora
Agora minha mãe é o ar
Agora eu vivo na barriga
Agora eu brigo pra voltar
Agora...

(Arnaldo Antunes)

18.6.10

Seção da sessão



1284.

17.6.10

Instante da estante

ANDRADE, Carlos Drummond de. Brejo das almas. In: Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. 1. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009.

Breve relato do lugar-comum

a técnica do ponteiro
não tem segredo
nem escanteio:

eu fico sempre olhando fixamente
como se o relógio não tivesse lógica
e meu olhar pudesse adiantá-lo
num pulo do tempo
atento
abrupto.

enquanto o ponteiro não adianta
cada letra é uma dor
cada palavra, um tormento:
o tempo parado não tem pena
dos olhos vidrados no silêncio.

16.6.10

Um quadro às quartas

Sem título, 2010
Obra de Henrique de Carvalho (1980- )

Carta

Estou no meu limite físico. Não aguento mais me dedicar à madeira -- talvez, por extensão, à marcenaria. A gota d'água vem cada vez que eu capricho de sobremaneira em uma peça e leio, no dia seguinte, que algum torno desavisado ou serra um pouco mais afiada estragou justamente o estrepe pela qual tinha maior apreço. São gotas d'água. Um conta-gotas que pinga constantemente em minha testa, como se torturado fosse naquelas fábulas orientais. Tenho pensado em alternativas: será que uma serralheria não me contrataria para ficar debruçado sobre metal tanto quanto faço com madeira? Será que um dia esculpirei uma pela que realmente renda alguma coisa (e isso signifique um dinheiro razoavelmente maior do que os cem pilas que pulam em minha conta bancária trimestralmente)? Será que vale a pena me reinventar mais uma vez -- como fiz na transição Paris-São Paulo -- e seguir insistindo nessa de marcenaria convencional? Sou só interrogações, meu caro. Nenhuma resposta. Mas às vezes eu queria conseguir ter tempo para me dedicar à marcenaria que tanto amo. Às vezes eu queria só sair de casa sabendo que, como em quase todas as profissões, eu terei horário certo para pegar minhas coisas e voltar para o lar, tomar uma cerveja e dormir em paz. Às vezes eu queria saber que meu estrepe bem-desenhado é tão importante que nenhum equipamento mecânico maligno irá extirpá-lo sem critério. Às vezes -- quase sempre -- eu queria só saber direito o que eu quero mesmo.

Poema para você que dorme agora

eu queria inventar um beijo
que fosse capaz de abraçá-la
por inteiro

porque aos pedaços que sou
não consigo simbolizar-me
apaixonado

eu queria construir um sonho
na qual coubesse meu amor
completo

porque do tamanho que ele é
ninguém pode nem desenhá-lo
totalmente

eu queria percorrer seu corpo
como se meus dedos fossem pés
sutis

porque para um astronauta
cada passo é um compasso
de uma dança

eu queria rimar estes versos
de um jeito tão bonito quanto
eterno

mas é na brancura nascente
que eles contrastam sinceros
com sua beleza.

15.6.10

Link legal

O jogo de Dunga e Cia. está chato? Vá ler a Klaxon.

No radinho de pilha



"Tac sutaque destaque tac she"

14.6.10

Para começar a semana

"Quem escreve sem pensar ainda tem o inconsciente de rascunho."

Fabrício Carpinejar (1972- )


13.6.10

Domingo, foto

Boa noite, 2010
Clique de Mauricio de Sousa (1935- )

12.6.10

Porque hoje é sábado

A tua mão no meu braço

Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?
Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...
Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida...
Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.

(Fernando Pessoa)

11.6.10

Seção da sessão



Edison Salaki era O cara.

10.6.10

Instante da estante

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. In: Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. 1. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009.

9.6.10

Um quadro às quartas

La berceuse, 1888
Obra de Vincent Willem Van Gogh (1853-1890)

8.6.10

No radinho de pilha



"Que se chamava carnaval"

7.6.10

Para começar a semana

"Livro não é castigo, não é tarefa, não é chateação."

6.6.10

26. A luz que alumina incansavelmente

Para exercer a troca constante de fluidos corporais, dormiam um dentro do outro.

- Não nos cansamos.

- Aguentamos com prazer intenso.

- Amenzamos.

Já haviam combinado inclusive que a morte seria simultânea, num longo abraço, quando velhinhos se sentissem.

- Amamo-nos.

- Queremo-nos.

Porque só assim eram luz. Luzes. Sempre acesas.

Domingo, foto

Parque Villa-Lobos, 2010
Clique de Livia Deodato (1983- )

5.6.10

Link legal

Central de doação de palavras.

Porque hoje é sábado

Rapte-me camaleoa

Rapte-me camaleoa
Adapte-me a uma cama boa
Capte-me uma mensagem à-toa
De um quasar pulsando loa
Interestelar canoa
Leitos perfeitos
Seus peitos direitos me olham assim
Fino menino me inclino pro lado do sim
Rapte-me, adapte-me, capte-me
It’s up to me
Coração
Ser querer, ser merecer, ser um camaleão
Rapte-me camaleoa
Adapte-me ao seu
Ne me quitte pas

(Caetano Veloso)

4.6.10

Seção da sessão



Olha só os argentinos se achando...

3.6.10

Link legal

Desenhos sensacionais de Fórmula 1.

Instante da estante

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Klick, 1999.

2.6.10

Link legal

Blog do Eduardo Gudin.

Um quadro às quartas

Cottage, 1885
Obra de Vincent Willem Van Gogh (1853-1890)

1.6.10

Link legal

Máquina do tempo da internet.

No radinho de pilha



"If you really like it you can have the rights,
It could make a million for you overnight"

in fact

denuncia a sombra os ombros de guarda-chuva
a proteger os desejos
a luxúria
os encantos mais desencontrados e inefáveis
por enquanto, doentes.

e cada anúncio fixado na janela
é um poente derramado
para ela
só para ela
que dorme vestida de nua
deitada em sonhos de frente e verso.

dentro da consciência nervosa, em tiques
um universo guardado
bigbangueia eternamente
como se o nascimento fosse uma frequência
e a riqueza se cansasse de tanto gastar
o que ninguém tem.

mas é tudo fricção
mas é tudo ficção
tirante os ombros que se quedam
parecidos com as sombras que tentam
reinventar-se.

31.5.10

Link legal

Reclames do Estadão.

Para começar a semana

"Peço a um livro que crie em mim a necessidade daquilo que ele me traz."

Jean Rostand (1894-1977)

30.5.10

Domingo, foto

Santorini, 2009
Clique de Vitorio Maddarena (1964- )

29.5.10

Porque hoje é sábado

Paisagens com cupim

No canavial tudo se gasta
pelo miolo, não pela casca.
Nada ali se gasta de fora,
qual coisa que em coisa se choca.

Tudo se gasta mas de dentro:
o cupim entra nos poros, lento,
e por mil túneis, mil canais,
as coisas desfia e desfaz.

Por fora o machado reboco
vai-se afrouxando, mais poroso,
enquanto desfaz-se, intestina,
o que era parede, em farinha.

E se não se gasta com choques,
mas de dentro, tampouco explode.
Tudo ali sofre a morte mansa
do que não quebra, se desmancha.

(João Cabral de Melo Neto)

28.5.10

Seção da sessão



Pixels.

Link legal

A mais louca tabela da Copa do Mundo 2010.

27.5.10

Instante da estante

PENTEADO, Jacob. Belènzinho, 1910 - Retrato de uma época. São Paulo: Narrativa Um, 2003.

26.5.10

Um quadro às quartas

Long distance relationship, 2010
Obra de Julien Pacaud (1972- )

25.5.10

No radinho de pilha



"Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça e do caçador"

24.5.10

Para começar a semana

"Não gosto de repetir fórmulas. Só começo um novo livro quando estou seguro de que não conseguirei escrevê-lo. É um desafio, não posso me deixar vencer pelas palavras."

23.5.10

Domingo, foto

Capivaras no Rio Tietê, 2010
Clique de Hélvio Romero (1958- )
em suma, o sono é algo que consome o sumo que somos sem nunca termos sabido.

22.5.10

Link legal

Um blog bacana sobre vinhos.

Porque hoje é sábado

Poema XX

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

(Pablo Neruda)

21.5.10

Seção da sessão



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20.5.10

Instante da estante

ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Klick, 1997.