2.2.09

Um botão para Mariana meu amor botar no coração

Boa noite, um botão. Não aquele de se abotoar o paletó, tampouco o outro de se jogar futebol no tampo da mesa. Boa noite, um botão; uma rosa, então.

Mas se acaso fosse de se abotoar, que semelhança haveria? Ora, a vontade, até que se case, de entrar logo numa casa e, abotoando-se, quietinho ficar, unido pra sempre à roupa do pano outroladodelá. Como se os dois lados do paletó fossem casal. Como se os dois lados do paletó fossem se casar. Como se os dois lados do paletó fossem nós dois.

Mas, continuo ainda, se acaso fosse de se abotoar, que maior diferença haveria? Ora, a verdade incontestável que - e isso é inerente à personalidade funcional dos botões - uma hora ou outra o paletó será desabotoado, como um divórcio ou um parto mal resolvido. Vontade inversa à de nós dois, lados que somos par. Vontade inversa à de nós dois, lados que somos idem. Vontade inversa à de nós dois, lados que somos um.

Só que nada, ou tudo isso, importa. Agora é boa noite, um botão; uma rosa então. E depois o sorriso que vai brotar, sem ensaio, como se eu me abotoasse em seu rosto. E depois o beijo e o soluço e o sorriso e o beijo e o eu-te-amo e o pra-sempre e o só-você. Pronto: abotoou. E, mais uma vez, aboletamo-nos um no aconchego do outro, no carinho do quente-coração, quem teve sabe como é.

O botão, entretanto, não é só isso. É também um sintoma de que, assim, vermelho, é o amor que nos une. Um amor que sempre evolui, ainda que pareça estar no máximo. Um amor que insiste em tanger as cordas do infinito e, nessa brincadeira de empurra-empurra, acaba dia após dia aumentando as dimensões do infinito. É limiar o nosso amor como o botão que se abrirá.

Olhe para a forma do botão e perceba como ele é um coração ao contrário. Mas o tempo vai passar e amanhã ou depois essas pétalas murcharão e cairão e secarão; meu coração, não! Este é eterno presente a ser fiel escopo de sua gratidão. E escudeiro de seu senão.

O que mais? O botão também é único e, por ser único, justifica um ciúme danado. O ciúme, neste caso, não é pedaço de crime, nem castigo ou prisão; é só um zelo desmedido, um pedido de atenção. Entenda como carinho. Entenda como carência. Entenda como quiser que eu não sei não.

E, nas horas de mais precisão, o botão - e por que não? - reveste-se de perdão. Seus espinhos são como um casal de mãos que, grudadas, rogam uma nova chance para os planos que houve serão. O botão é certeza. O botão é a garantia.

O botão também é lembrança e pode e deve ficar gravado na mente e no coração. O botão é um retrato de criança dum rebento temporão. Brilha na solidão.

Mas não se esqueça, meu amor, que de tudo isso o botão nasceu para ser rosa, assim como minha prosa é pra virar verso, um terço acaba em missa, e esta vai até às oito. Depois? É algodão-doce e maçã-do-amor na praça porque hoje é domingo, pede cachimbo e boa-noite-um-botão.

Mas não se esqueça do meu amor.

Um comentário:

Giovanna Longo disse...

uma bela declaração, daquelas que não se ouve (ou se lê?!) mais.