17.2.09

DEZESSEIS DE FEVEREIRO

Foi logo após aprender a escrever que, já compulsivo, criei o primeiro calo em minha vida -- aspereza intragável que cultivo até hoje na parte interna do polegar direito.
O erro, aliás, foi ter pensado que havia ganho um calo. Porque viver é acumular perdas, gosto de repetir a mim mesmo.
Um calo, por definição dicionárica, é o endurecimento da pele formado em determinado ponto por compressão ou fricção contínua. Tiloma.
(Um calo, entretanto, funciona interessantemente bem como metáfora.)
Mas calo não é ganho de dureza cutânea. Calo é perda da sensibilidade corporal. E o calinho de meu polegar direito foi apenas o primeiro: depois vieram os dos pés, os das pontas dos dedos da mão esquerda (violão), etc.
Sou um homem, tristemente, cada vez menos sensível, posto que mais calejado, em progressão. Aritmética, suponho eu, para minorar o desastre.
Viver é mesmo acumular perdas.

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