Saber esperar e depois pintar o seu retrato. Depois dependurar na parede, botar no lugar do espelho, considerar que a tela é mais generosa do que o mau-humor do espelho, saber do retrato, pensar que se é o retrato.
Vida era uma tristeza sem fim.
Quando se olhava ao espelho, o que via era apenas cronopolitano.
Cronopolitano não é sabor de sorvete nem marca de esparadrapo. Muito menos nativo de alguma cidade de nome estranho. Cronopolitano é um não-lugar que existe nos navegadores de internet. Qualquer um deles. Estando on-line, basta que se digite cronopolitano, precedido de três dáblios e um ponto, e sucedido por outro ponto, um blogspot, outro ponto, um com. Assim: www.cronopolitano.blogspot.com
Mas, como ia dizendo, ela era uma tristeza sem fim, feito cronopolitano. Tinha seus segredos, bem-guardados no sótão. E aquele gosto de fiapos de manga amarelando a boca.
Sim, vou apresentá-la. Vida era seu nome. Não, não era apelido. Nome mesmo. Você já deve ter ouvido a expressão "vidinha da silva". Então, anota aí: Vida da Silva, idade: 46; estado civil: divorciada; RG: XX.XXX.XXX-X; CPF: XXX.XXX.XXX-XX; etc. etc. etc.
Sem pretensão salarial.
Sem objetivo.
Sem cursos de pós-graduação.
Sem sorte, nem talento.
Ao lado do telefone, Vida exercita o saber esperar, saber esperar, saber esperar. Até que o retrato na parede desbote, seu quadro na parede acabe virando espelho.
Enquanto isso, www.cronopolitano.blogspot.com
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