1.1.09

PRIMEIRO DE JANEIRO

Pouco atrás era quase dois mil e nove
E minhas barbas, meio milímetro mais curtas, descaçoavam de quem noite adentro competia com o vento ou se atordoava contando fogos de artifício na estranha ilusão de que fossem estrelas cadentes
Quando criança sempre pensava que era uma das cinco pontas da estrela que apontava para a ponta de um de meus cinco dedos.
Pouco atrás era quase noventa e nove
Minhas barbas praticamente inéditas nem reclamavam de vento, água ou gilete; não me lembro de quantos fogos ouvi ou vi em Taquarituba
Taquarituba é uma cidade de verdade onde as pessoas respiram.
Pouco atrás era quase oitenta e nove
Um Atari fazia a alegria porque videogueime tinha um jeito de fabricar sorrisos artificiais e, na época, em sons mono
Às vezes a bola de capotão caía de debaixo dos braços e rolava rua toda chutada até parar na boca do cachorro bravo do quintal do vizinho
Vizinho parecia chato
Mas era bom
Era coração
E comum acontecia de a bola voltar faltando pedaço de couro em um ou dois gomos
Chateado eu só conseguia pensar como bola tinha gomo se nem era mexerica, muito menos madura
Doce só se para o cachorro bravo.
Pouco atrás era quase setenta e nove
E eu nem tinha olhos para abrir.

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