13.1.09

TREZE DE JANEIRO

Era um travesseiro recheado de cotonetes, responsabilidades, paralelepípedos e outras palavras grandes e bonitas. Nada mais que isso e a vontade de dormir.
Debaixo dele o calor deprimente como se aqui fosse a Amazônia. E não chovesse. Só chorasse lágrimas fininhas para ajudar a desidratar de vez em quando.
Na jaula, eu guardava todos os meus sentimentos. Metade dos quais por você. Engraçada essa construção sintática. Nem me lembro qual foi a última vez que a empreguei.
Saudades: estou a um número de telefone de meus pais. E a uma leve surdez de distância de meus avós.
Mas os sentimentos são mais, são vários. Escorrem faceiros pela abruptamente aberta caixa de eu-mesmo. Atropelam-me. Ao meu lembrar de ser humano, demasiado. Esmagam-me. Ao meu atentar que sou mau como a morte e cruel como milhares de gotas de sangue.
Amor: porque sou apenas metade. E uma metade incompleta, em farrapos.
E os sentimentos são os verdadeiros últimos que morrem. Nem que assassinados. Nem que sem querer. Nem que depois de virarem sementes.
Raiva: de quem atrapalha o curso natural das coisas. Mesmo que as coisas insistam em ser artificiais.

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