20.1.09

Carta que um poeta desesperado dedica ao seu amor

Caleidoscópio, novembro de 2002.

Querida,

Quisera ser eu uma borboleta amarela, poeta desvencilhado do casulo do espaçotempo nulo que nos separa, para beijar levemente tuas pálpebras enquanto dormindo sonhas comigo. (Se a lógica do relógio andasse pra trás, atrás de ti viveria mesmo perdendo-te a cada giro, a cada nada.)

Evoco o legítimo vate e seus versos que meu coração bate: Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão / No prato, a sopa esfria, cheia de escamas / e debruçados na mesa todos contemplam esse romântico trabalho.

Quisera eu ser uma borboleta amarela, profeta lendo em tuas sobrancelhas a centelha que acende o amor, ascende o nosso amor. Pálpebras fechadas, sonho teu, sonho nosso, uma verde quimera que prende a esperança que jamais se rende diante das adversidades secas da vida, sofrida, lida, tida.

Desgraçadamente falta uma letra / Uma letra somente / Para acabar teu nome. E tua imagem sob o lençol transparente alumia a minha mente, permanente mente molhada pelo orvalho da noite, penumbra que só a lua cheia de pretexto nos assombra com um jeito de amor.

Fecho minhas pálpebras como a borboleta bate as asas. O coração bate as asas. As asas, as brasas, o amor. - Estás sonhando? Olhe que a sopa esfria. Quisera estar sonhando, mas é somente tu quem sonha nossos sonhos agora. Espero-os sinceros.

Beijo levemente tuas pálpebras enquanto dormindo repousas sobre o tamanho do mundo.

Adeus.

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