Caleidoscópio, novembro de 2002.
Querida,
Quisera ser eu uma borboleta amarela, poeta desvencilhado do casulo do espaçotempo nulo que nos separa, para beijar levemente tuas pálpebras enquanto dormindo sonhas comigo. (Se a lógica do relógio andasse pra trás, atrás de ti viveria mesmo perdendo-te a cada giro, a cada nada.)
Evoco o legítimo vate e seus versos que meu coração bate: Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão / No prato, a sopa esfria, cheia de escamas / e debruçados na mesa todos contemplam esse romântico trabalho.
Quisera eu ser uma borboleta amarela, profeta lendo em tuas sobrancelhas a centelha que acende o amor, ascende o nosso amor. Pálpebras fechadas, sonho teu, sonho nosso, uma verde quimera que prende a esperança que jamais se rende diante das adversidades secas da vida, sofrida, lida, tida.
Desgraçadamente falta uma letra / Uma letra somente / Para acabar teu nome. E tua imagem sob o lençol transparente alumia a minha mente, permanente mente molhada pelo orvalho da noite, penumbra que só a lua cheia de pretexto nos assombra com um jeito de amor.
Fecho minhas pálpebras como a borboleta bate as asas. O coração bate as asas. As asas, as brasas, o amor. - Estás sonhando? Olhe que a sopa esfria. Quisera estar sonhando, mas é somente tu quem sonha nossos sonhos agora. Espero-os sinceros.
Beijo levemente tuas pálpebras enquanto dormindo repousas sobre o tamanho do mundo.
Adeus.
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