- Vamos brincar de pedras?
- Como se faz? Com formigas caminhando sobre? Com cócegas no limo nascente?
- Mas a pedra pode ficar submersa em um aquário de neons. Aí nascerão algas.
- E terá um cascudo a se esfregar, sugar o verde, viver?
- Talvez.
(...)
- Não gostei dessa de brincar de pedras.
- Mas foi você quem sugeriu.
- Sim.
- E por que não?
- Pela frieza. Pela rigidez. Pelo cadáver que sinto em você-sendo-pedra.
- Como cadáver se nunca houve vida?
- Pela dureza. Pela falta de expressão.
- Como a vida?
- Sim. Mas é preciso vivê-la, apesar dos dissabores. Só assim a vida finge que vale a pena.
- E a pedra? Chora?
- A pedra serve para tapar o túmulo.
- Feito lápide?
- Com inscrição e tudo.
- Aqui jaz Fulano de Tal?
- Aqui jaz Fulano de Tal. E a beleza pétrea está justamente na identidade do Fulano de Tal, que pode ser eu ou você.
- Vamos brincar de pedras?
- Ganhei.
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