5.1.09

CINCO DE JANEIRO

Hoje desacordei expectativas para aumentar minha coleção de lágrimas. Abri a janela enquanto escovava meus dentes com um cordão feito de pensamentos.
A barba escorreu uma espuma cinza.
Eu estava na rotatória, merecia a preferência, mesmo se confundido com um flácido saquinho de pão - desses que agradecem e "volte sempre".
Mas não.
Veio o descarrilamento e levou consigo a feiura, as ideias, as consequências. No espelho, meus olhos conferiam o que restara da espuma cinza.
O que restara da espuma cinza.
Pluft.
Caiu um olho, trec, rolando pelo chão bem para debaixo da pia. Trec. O outro. Ao ralo.
E eu sem os dois, cego por completo, sem a menor perspectiva de conseguir salvá-los.
E eu, cego, ciente de que salvá-los seria salvar a mim.
E eu, cego, estrangulei-me com todas as forças que nem tive, nem tinha, nem tenho.
Desfaleci-me até a hora de minha morte, amém, sobre este canhenho de linhas apertadas.

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