18.10.08

- Professora, venta no avesso da Lua? Por que o mar não derrama? Quem inventou a pipoca? Quanto tempo tem o infinito? – Era ela, desconcertando a mestra da primeira série, pobrezinha, invariavelmente sem resposta para questões tão intrinsecamente banais. Que será que será dela? Estará viva ainda? Creio que sim, pois dúvidas existenciais duram para sempre. Deve estar bem velhinha, o tempo não tem pena e esbanja nas pessoas a vingança por seu tédio de ser eterno: condena-as à senilidade, em cadeiras de roda ou de balanço, com animais de estimação ou em asilos, fumando cachimbo ou jogando baralho, tomando viagra ou lendo a bíblia, dormindo ou viajando, morrendo ou apodrecendo em leitos hospitalares... Quanto a mim, não. Nada me condenaria, nem mesmo o tempo que nunca vejo passar e quando passa arrasta-se como sereias em mares de lama. Descanso em paz? Aqui jaz a professorinha inocente, responsável por minhas primeiras dúvidas não respondidas, culpada dos meus primeiros dilemas, pela minha paranóia inicial. A professorinha de quem não tive pena, pois poderia perguntar apenas datas e nomes, regras ortográficas e resoluções óbvias da matemática. Mas perguntava questões crucialmente filosóficas.

Um comentário:

Giovanna Longo disse...

"o tempo não tem pena e esbanja nas pessoas a vingança por seu tédio de ser eterno".
Lindo. Adorei!
Beijos!