23.10.08

Abriu as janelas enfim e, para seu descontento, não topou com um belo sol pronto para condecorar aquela noite maravilhosa. Era chuva chovendo devagar, sem pressa para acabar, como um pássaro doente que se arrasta agonizante esperando a morte chegar e torcendo para que acabe logo sua sina desperdiçada de viver. Mal sabia ela que toda chuva matinal era resultado da tempestade noturna que agonizava as pessoas e a perseguia impiedosamente. Fosse o que fosse, apenas imaginação, e na verdade o que havia era sim, chuva chovendo, só que os pingos, se vistos sem desconfiança, reduziríam-se a meros orvalhos do alvorecer. Blém-blém-blém? De dia o barulho social, a turbulência dos carros e ônibus e aviões e transeuntes conversando atrapalhava a audição e não tinha blém-blém-blém. Na verdade tinha, e ela sabia que tinha, mas fingia que não tinha para não ficar preocupada por não ouvir o blém-blém-blém. Por isso ela preferia mil vezes a noite com seus raios de luar e suas lampadazinhas estrelas ao dia, quando as coisas acontecem e é tão chato acontecerem as coisas.

Nenhum comentário: