23.6.08

3. Abracadabra

Empilhar duas palavras-valise e depois sair desmontando todas em blemas e pro blemas:

- Vá pra lá palavra minha!, que hoje quero escrever com tradições. Dizia a Professora Bárbara do Carmo, ao contemplar O Poema e empilhar nele todos Os Nove Gnominhos Cor-de-Abóbora.

Mas não conseguia. Perdia-se em semióticas e gozava ensimesmada.

Mas não conseguia. Amarelava o céu, o dia, até a noite um pouco. E não conseguia. Professora Bárbara do Carmo era a mesma frustração que sou quando escrevo. Como se as páginas não me pedissem mais letrinhas. E o vazio fizesse jorrar uma coleção de nadas.

- De nada.

- Pois não?

- Disse de nada.

- Então pode levar.

- Por quê?

- Que não.

- Sim?

- Olha só: a essa altura, a vida não mais permite tropeços. Sinto-me como se já amasse mais antes, como se não fosse o mesmo apaixonado de antes, diante de mim-eu. Porque o em-mim, o umbigo cólico esfacelou-se-me ao simplesmente refletir fatos inenarráveis.

- Olhei, só.

- Por isso, acho que a seduzo.

- Um anzol?

- Abracadabrando.

- Abra cada bra de cada vez.

- Depois abraço?

- Não. Abrigue, apenas.

- Abrigado.

- De nada.

Natimorto, O Poema desmontou. Enquanto isso, Os Nove Gnominhos Cor-de-Abóbora se aproveitaram, filhos-da-puta, de uma falha na folha e fugiram da página.

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