- Que espera, ali?
- Godot.
- Godot?
- Godot.
- Perde, tempo. Ele, não vem.
- Perco não.
- Como?
- Sei que ele não vem.
- Então perde, tempo.
- Perderia se não o soubesse...
- Você, acha?
- Se não o soubesse, esperaria à toa. Sabendo-o, espero.
- Mas por, que espera, se o sabe de sua, não-vinda?
- Por isso espero. A espera autêntica o é pela própria espera. Um fim em si.
- Filosofias, agora?
- Sim. A espera em si não existe pela concretização do esperado. A espera em si é o prazer inerente à sua condição precípua da chegada. A espera intransitiva, não-objética. A espera polissemântica, em que todos os significados convergem para si. Observe só a...
- O, quê?
- Calma, não se precipite. Seja menos afoito, ó Traficante. Observe só o prazer telúrico de esperar. Quando o som espera, nasce o silêncio. Quando o sol espera, nasce a noite. Se não a houvesse, ficaríamos barulhados e solonentos por toda a existência.
- Sonolentos quer, dizer? Por isso gosto, de vender livros, não de, ler. E se a, venda, fosse esperar, não, haveria dinheiro para, sustentar.
- Mas quando o dinheiro espera, nasce a fortuna.
(Como seus livros eram piratas, o Traficante de Livros padecia sérios problemas de vírgula. Tomava doloridas injeções na coluna cervical, mas nada parecia solvê-lo.)
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