Olhar a chuva molhando meio mundo
Ficar de molho, mudo
Alimentar sonhos velhos de tudo
Ler livros livres vermelhos
Ver melhor os joelhos e as falhas do bispo
Contemplar a alheia sorte da morte de Cristo
Olhar a chuva chorando respingando gotas d'água
Malhar as calhas donde escorrem mágoas
Colher flores e folhas molhadas de chuva
Ficar mudo, de molho
Inverter tudo o que é espelho
Destelhar o telhado entulhado de trapos e traças
Catar piolhos, afogá-los na chuva molhada
Falhar pela última vez com as tralhas
Espalhar espantalhos no trabalho
Olhar nos olhos do malandro melindroso
Escolher colheres e mulheres para o futuro
Apagar a luz, a vela, a lua. Tudo escuro.
Sobretudo olhar a chuva molhando meio mundo
Suas gotas lágrimas são indispensáveis
Para chorar pelo morto, embrulhado na mortalha.
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