KING, Stephen. Saco de ossos. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
30.4.09
VINTE E NOVE DE ABRIL
Retificar. Ratificar. Ruminar.
Depois roer o tédio para ninguém encrencar no dia seguinte.
Depois roer o tédio para ninguém encrencar no dia seguinte.
VINTE E OITO DE ABRIL
Mais do que em qualquer outro lugar, nas ruas do centro a paisagem urbana é paisagem humana. São engraxates, homens-sanduíche, mágicos, mímicos, palhaços, pregadores... De suas bocas e gestos nasce a sinfonia popular.
Nasci em Taquarituba mas tenho um orgulho danado de ter dupla cidadania: como é bom ser paulistano.
Nasci em Taquarituba mas tenho um orgulho danado de ter dupla cidadania: como é bom ser paulistano.
VINTE E SETE DE ABRIL
Meu único videogame foi -- e é -- um Atari 2600. Cresci imaginando que os quadradinhos coloridos na tela da TV eram monstros cruéis, jogadores de futebol, submarinos, espaçonaves, carros de Fórmula 1 e seres fantásticos.
O Atari 2600, por não mostrar a realidade tangível, foi uma ferramenta para meu estímulo criativo.
Desconfio que o grande problema da infância contemporânea seja o exacerbado realismo dos videogames. As crianças crescem com preguiça de pensar. Ou, pior: com preguiça de imaginar.
O Atari 2600, por não mostrar a realidade tangível, foi uma ferramenta para meu estímulo criativo.
Desconfio que o grande problema da infância contemporânea seja o exacerbado realismo dos videogames. As crianças crescem com preguiça de pensar. Ou, pior: com preguiça de imaginar.
29.4.09
Não adianta, você só terá o dobro da minha idade por um ano, no máximo. Está na lei. Qual lei? Não sei, a lei da matemática, talvez. Matemática tem lei, deve ter, sim. Se tivermos muito azar, você pode ter o dobro da minha idade apenas por um dia. Precisamos ver se nossos aniversários batem. Será que você pode nunca ter o dobro da minha idade? Eu queria tanto ser uma fração bonita, como a metade é. Queria mesmo. Me ajuda a conseguir? Peça para o vereador aí alterar a lei da matemática.
28.4.09
27.4.09
26.4.09
VINTE E SEIS DE ABRIL
Queria muito compreender por que é que a resolução de um problema acarreta o surgimento de outro maior. Há alguma lei natural regendo essa relação de causa-efeito?
Se um dia eu ceder às veleidades cotidianas e aceitar enfrentar um divã, levarei esta questão que tanto me atormenta a ele. Que terá um dilema à sua frente: ao me ajudar a resolver tal problema interior, imediatamente patrocinará a criação de novo e maior desencontro.
É a lei.
Se um dia eu ceder às veleidades cotidianas e aceitar enfrentar um divã, levarei esta questão que tanto me atormenta a ele. Que terá um dilema à sua frente: ao me ajudar a resolver tal problema interior, imediatamente patrocinará a criação de novo e maior desencontro.
É a lei.
VINTE E QUATRO DE ABRIL
Lembro-me sem nenhuma saudade de "A Luneta Mágica". Sem dúvida, um eterno integrante do top ten com os mais chatos livros que já li.
25.4.09
VINTE E TRÊS DE ABRIL
As pessoas ao redor fotografam o Pátio do Colégio, espantam sua acefalia por um quinhão de segundos acidentados. Paradas como sempre, as estátuas célebres sorriem, fazem pose. Como são fotografáveis essas estátuas!
VINTE E DOIS DE ABRIL
A vereadora toma seu café no centro, ao lado do chafariz sutil. Ao som do chafariz sutil. Esta é a minha pequena observação calhorda do dia.
VINTE E UM DE ABRIL
A expectativa. A tensão. A adrenalina. O trânsito. O labirinto. A catraca. A entrada. O corredor. A escada. A arquibancada. O verde. A multidão. A voz. O canto. O grito. A escalação. O apito. O chute. O gol. O grito. O gol. O grito. O grito.; O grito. O canto. A voz. O verde. A adrenalina. A vitória. A comemoração.
DEZENOVE DE ABRIL
O avesso de tudo leva ao nada. Assim, preto no branco, saudades de vésperas, morte e vida. O medo, o medo, o medo, o tédio. A fome, defronte, tome.
DEZOITO DE ABRIL
As fotos antigas revelam-me uma cidade negativada em minha saudosa memória de pequeno. Eterno pequeno, homem que não sabe brincar.
Com quantos presentes compro seu amor?
Com quantos presentes compro seu amor?
24.4.09
23.4.09
DEZESSETE DE ABRIL
Entre a histeria e a história, uma ponte enorme liga os poetas de minha infância. Na memória, uns versos mancos. No horizonte, outros tantos. E, adiante, o oceano incompleto das garatujas emaranhadas que cometi, aos solavancos e suspiros puros.
DEZESSEIS DE ABRIL
Tão sonoro este dia que, fosse eu roqueiro, criaria uma música com o título. Não sou. Não sou quase nada. Tenho um blog.
22.4.09
QUINZE DE ABRIL
Taquarituba não é um quadro na parede como na poesia do taciturno itabirano. Reflexo do tempo, é um fundo de tela em meu computador.
CATORZE DE ABRIL
- Você come capítulos?
- Sim.
- Uma vez eu experimentei uma sopa de incunábulos, mas não me caiu bem. Capitulei.
- Sim.
- Uma vez eu experimentei uma sopa de incunábulos, mas não me caiu bem. Capitulei.
TREZE DE ABRIL
Preciso me desapegar de tantas coisas. Dos livros que nunca irei ler. Dos nãos que nunca vou ouvir. Dos beijos que sempre negarei. Preciso me desapegar.
Enquanto isso, toca uma velha canção carregada de tristes lembranças.
Enquanto isso, toca uma velha canção carregada de tristes lembranças.
ONZE DE ABRIL
Um dia é bom quando conhecemos quarenta e três personagens diferentes e cada um deles consegue nos modificar por inteiro. Tanto a ponto de nos tornarmos -- me tornar, singularizando a experiência -- o quadragésimo quarto personagem.
DEZ DE ABRIL
O ser humano tem a capacidade tristemente incrível de se habituar às ausências, às perdas. É como se não tivesse havido o espelho. É como se só houvera a imensidão do nada.
Então eu me pergunto, solene e sonolento:
- Por que insistir nessa idiotice de nascer?
Então eu me pergunto, solene e sonolento:
- Por que insistir nessa idiotice de nascer?
21.4.09
20.4.09
NOVE DE ABRIL
Quando tropeço em alguma frase que não sei escrever, o tombo é enorme. E a prisão, inafiançável
Por isso tremo ante as adversidades semióticas, os receios jornalísticos e as inverdades sofismais. Vai que um acento não me caia bem a e a dor seja aguda. Ou circunflexa.
O homem é mesmo transitivo direto.
Por isso tremo ante as adversidades semióticas, os receios jornalísticos e as inverdades sofismais. Vai que um acento não me caia bem a e a dor seja aguda. Ou circunflexa.
O homem é mesmo transitivo direto.
OITO DE ABRIL
Capenga como um verso meu, o velho capanga mandou todo mundo se deitar no chão, barriga pra baixo, mãos para trás, olhos bem fechados.
Então ligou um som de gosto duvidoso e começou a bailar sozinho até o sol nascer de novo.
Então ligou um som de gosto duvidoso e começou a bailar sozinho até o sol nascer de novo.
SETE DE ABRIL
Cada palavra vale quanto pesa. O significado não importa tanto quanto ao som, o ritmo, o cheiro, a beleza da forma. Informar é, em última instância, desenformar.
19.4.09
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
Spina cita Aristóteles, capítulo IV de Poética: “Poesia surge pelo sentimento estético inato do homem e sua tendência natural à imitação”. Surge do gosto pelo ritmo e pela harmonia.
18.4.09
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
O que acontece é que, coisa que ninguém se esquece, a concepção antiga ainda subsiste em algumas cabeças: o poeta como figura mística, arrebatada por um furor sagrado, visitante do recinto das musas... O poeta em estado de delírio, pois lírico... Platão dizendo que o poetizar só o é sob influência ditirâmbica de Dionísio. Eis o poder delirante da musicalidade das palavras, do verso, do metro.
17.4.09
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
Spina afirma que o caráter fonético da língua se relaciona com a índole das manifestações artísticas do povo.
16.4.09
A pressa própria de Procópio (parte 1)
Depois do atropelamento, sua vida não aprendeu mais a entrar nos eixos. Os problemas nasciam já ao acordar, como se o espelho do banheiro, agora testemunha única de suas abluções matinais, estivesse com uma trinca enorme. E cortante.
- Bom dia é o caralho!
O café da manhã solitário era de um tédio absoluto. E para quê escovar os dentes se não haveria mais quem beijar? Não, não, ninguém mais reparava se o laço da gravata estava mal feito ou se o paletó levemente amassado.
Então sair de casa. Então atravessar a rua. Então se queixar da demora do ônibus. Então chegar cinco minutos atrasado ao trabalho. Então reclamar do elevador sempre lotado e aquelas pessoinhas que exageram no perfume. Então aguentar a cara feia persistente do chefe. Então enrolar, fingir que trabalha.
O almoço era em grupo, com a patota toda, sempre. Ultimamente ele não desempenhava mais o papel de tagarela da turma. Ensimesmado, cutucava seus pensamentos, remexia as vísceras, transcendia desejos.
- Por que, meu Deus, por quê?
Então a repetição da manhã, o enrolar, o fingir que trabalha. Até o relógio marcar seis da tarde, as tarefas pela metade, o sol que não arde mais, que tal ir embora caminhando em vez de enfrentar ônibus lotado?
- Boa ideia. São só quatro quilômetros, são só quatro quilômetros. Caminhar refresca a alma.
No percurso, carros. Carros e mais carros. Alguns ônibus. Três caminhões. E a imensidão de rostos e rostos e corpos e corpos. Pessoas. Cada qual carrega na bolsa ou mochila sua vida - histórias, afeições, sorrisos, quebra-cabeças, canções. Antonio não se cansava de tentar decifrar esses segredos.
- Aquele ali, palmeirense. Palmeirense.
- Esse, tenho certeza que queria ser ator de teatro quando criança. Virou engenheiro civil.
- Aquela, aposto que teve uma infecção urinária na semana passada.
- Aquele outro, não, não tem mais clima em casa. Por isso anda querendo viver só com a amante.
O estranho hábito de colecionar pessoas inventadas o incomodava. Mas, desde a prematura viuvez, era o único prazer que conseguia experimentar.
(Continua aqui.)
- Bom dia é o caralho!
O café da manhã solitário era de um tédio absoluto. E para quê escovar os dentes se não haveria mais quem beijar? Não, não, ninguém mais reparava se o laço da gravata estava mal feito ou se o paletó levemente amassado.
Então sair de casa. Então atravessar a rua. Então se queixar da demora do ônibus. Então chegar cinco minutos atrasado ao trabalho. Então reclamar do elevador sempre lotado e aquelas pessoinhas que exageram no perfume. Então aguentar a cara feia persistente do chefe. Então enrolar, fingir que trabalha.
O almoço era em grupo, com a patota toda, sempre. Ultimamente ele não desempenhava mais o papel de tagarela da turma. Ensimesmado, cutucava seus pensamentos, remexia as vísceras, transcendia desejos.
- Por que, meu Deus, por quê?
Então a repetição da manhã, o enrolar, o fingir que trabalha. Até o relógio marcar seis da tarde, as tarefas pela metade, o sol que não arde mais, que tal ir embora caminhando em vez de enfrentar ônibus lotado?
- Boa ideia. São só quatro quilômetros, são só quatro quilômetros. Caminhar refresca a alma.
No percurso, carros. Carros e mais carros. Alguns ônibus. Três caminhões. E a imensidão de rostos e rostos e corpos e corpos. Pessoas. Cada qual carrega na bolsa ou mochila sua vida - histórias, afeições, sorrisos, quebra-cabeças, canções. Antonio não se cansava de tentar decifrar esses segredos.
- Aquele ali, palmeirense. Palmeirense.
- Esse, tenho certeza que queria ser ator de teatro quando criança. Virou engenheiro civil.
- Aquela, aposto que teve uma infecção urinária na semana passada.
- Aquele outro, não, não tem mais clima em casa. Por isso anda querendo viver só com a amante.
O estranho hábito de colecionar pessoas inventadas o incomodava. Mas, desde a prematura viuvez, era o único prazer que conseguia experimentar.
(Continua aqui.)
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
Mas por que essa profunda ligação poesia + melodia? Por que esta beleza intrínseca de alguns sons enriquecendo o que contêm? Segismundo Spina arrisca: a poesia primitiva era em estágio ancilar. Subordinada à música, indissociável do canto.
14. Daltonismos morais
O sol era no céu um ponto amarelo como seu rosto. De novo. Mas agora quando o velho tarado que suicidou a namorada de vinte anos encontrou-se com o velhinho caolho que mora no meu cérebro inventando palavras (absolinto, tragidéia, cronopolitano):
- Para mim, amarelo é verde.
- Amarelo é vermelho, penso eu.
E assim, desse pequeno detalhe coloritransitivo, a diferença brota clara. Tão clara como um amarelo de sol. Como seu rosto no céu.
- Mas e a Linha Amarela?
- Verde, fácil.
- Vermelha, ou vai se perder por aí.
Era Jéssica o nome dela. Vinte anos. Seios rosados.
- Amarelos?
- Não, quase vermelhos.
- Verdes, então.
O velho tarado que suicidou a namorada de vinte anos recusava-se a acreditar que uma marciana tivesse trepado em sua cama.
- O nome disso é escapomoralissenciato.
- Para mim, amarelo é verde.
- Amarelo é vermelho, penso eu.
E assim, desse pequeno detalhe coloritransitivo, a diferença brota clara. Tão clara como um amarelo de sol. Como seu rosto no céu.
- Mas e a Linha Amarela?
- Verde, fácil.
- Vermelha, ou vai se perder por aí.
Era Jéssica o nome dela. Vinte anos. Seios rosados.
- Amarelos?
- Não, quase vermelhos.
- Verdes, então.
O velho tarado que suicidou a namorada de vinte anos recusava-se a acreditar que uma marciana tivesse trepado em sua cama.
- O nome disso é escapomoralissenciato.
15.4.09
SEIS DE ABRIL
Tínhamos um quebra-cabeça infinito, com três ou quatro peças faltando.
Apareceu uma mulher gorda e resolveu o problema com maestria: apanhou para si todas as peças, derreteu-as em um caldeirão fedido, adicionou cola, margarina e mais não sei o quê. Cozinhou por meia hora em fogo baixo. Com a gororoba que se formou, esculpiu novas peças. Grandes e fáceis. O jogo ficou completo e bem acessível.
Incrível. Ela nem parecia mais tão gorda assim.
Apareceu uma mulher gorda e resolveu o problema com maestria: apanhou para si todas as peças, derreteu-as em um caldeirão fedido, adicionou cola, margarina e mais não sei o quê. Cozinhou por meia hora em fogo baixo. Com a gororoba que se formou, esculpiu novas peças. Grandes e fáceis. O jogo ficou completo e bem acessível.
Incrível. Ela nem parecia mais tão gorda assim.
CINCO DE ABRIL
Fazia sol quando começou a chover. Acenei com a mão direita, depois a esquerda, então com a do meio. Primeiro, de baixo para cima. Depois, tudo ao contrário, duas vezes.
Os molhares são melhores que os olhares. E eu não entendo de cores nem de pensares. Só de sabores.
Os molhares são melhores que os olhares. E eu não entendo de cores nem de pensares. Só de sabores.
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
É a importância da preocupação com a prosódia poética que faz com que entendamos o verdadeiro significado da leitura de poemas em público: é o regresso às origens da poesia, uma volta à fonte primordial do fazer poético.
Sempres
Sempre uma resposta
pronta
na ponta
da língua
Ainda que um alento
morto
no ponto
mais lento
Ou mesmo um talento
posto
não muito
nem tanto
Sempre uma aposta
certa
na ponta
do lápis.
pronta
na ponta
da língua
Ainda que um alento
morto
no ponto
mais lento
Ou mesmo um talento
posto
não muito
nem tanto
Sempre uma aposta
certa
na ponta
do lápis.
14.4.09
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
A propósito do próprio propósito de pressão (não depressão!), o signo gráfico sempre funcionou para o oral, na poesia. Mesmo num poema chinês, de expressiva e rebuscada caligrafia, o leitor atento é sempre convidado a ouvir mentalmente, por trás de um traço elegante de talento ou enérgico ao talante, sua música verbal. “A página caligráfica é um tecido de traços que denotam sons e sentidos” (PAZ, 1993:130).
13.4.09
Para começar a semana
"Eu era uma pessoa normal que de um dia para o outro, simplesmente, começou a escrever. Um leitor apaixonado que de repente começou a contar histórias."
Haruki Murakami (1949- )
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
No começo, quando a poesia era oral, os poetas lapidavam os versos numa coluna ascendente de unidades verbais rítmicas que aparecem e desaparecem uma após a outra, num espaço feito de ar. O poema fluía no ar e no ar desaparecia: tempo de sua pura forma. Depois da escrita, duas tradições se desenvolveram paralelamente: poema-signo-escrito; poema-palavra-falada. Paralelamente, mas retas paralelas que, desafiando a gramática da geometria, se unem e se cruzam constantemente.
12.4.09
1. Teorias de Base - Poesia, um caso de primeiridade
A poesia está no alfa da comunicação humana, lembra o poeta. Toda civilização tem seus versos, dizendo com eles o universo, o inverso, o lenço e o avesso. Os astecas, por exemplo, recitavam, cantavam e até dançavam seus poemas. Sem problemas.
11.4.09
TRÊS DE ABRIL
Sonhei com o rinoceronte. Não, não foi um pesadelo -- que trocadilho idiota! -- porque era o danado do rinoceronte alado, leve, flutuante, praticamente aéreo.
Ele conversava com um velho manco mas eu estava tão longe que não consegui entender nada.
Acordei. Transformado em um ridículo rinoceronte com asas de mentira, cheias de penas de galinha tingidas com anilina cor-de-rosa.
Nervoso, quebrei todo o meu quarto.
Ele conversava com um velho manco mas eu estava tão longe que não consegui entender nada.
Acordei. Transformado em um ridículo rinoceronte com asas de mentira, cheias de penas de galinha tingidas com anilina cor-de-rosa.
Nervoso, quebrei todo o meu quarto.
DOIS DE ABRIL
Sinto-me como a criança que leva trinta e oito minutos para fazer o mais bonito castelo de areia do mundo. Aí, na praia, vem um ser humano gordo, flácido e destrambelhado, com seu ser canino idiota e zás. Em dois segundos o mais bonito castelo de areia do mundo é só um monte disforme de areia. Lágrimas.
Para a criança, os trinta e oito minutos têm o tamanho de uma eternidade e meia. Os dois segundos, a crueldade de um empalamento.
Quanto a mim, não consigo forças nem para chorar.
Para a criança, os trinta e oito minutos têm o tamanho de uma eternidade e meia. Os dois segundos, a crueldade de um empalamento.
Quanto a mim, não consigo forças nem para chorar.
PRIMEIRO DE ABRIL
Sou a maior das mentiras que já contei.
Um profeta sem deus, um poeta sem rimas, um telefone sem linha, um rinoceronte alado.
(O rinoceronte alado é tão leve que praticamente flutua sobre os pensamentos da savana.)
Um profeta sem deus, um poeta sem rimas, um telefone sem linha, um rinoceronte alado.
(O rinoceronte alado é tão leve que praticamente flutua sobre os pensamentos da savana.)
10.4.09
9.4.09
Impressões
Por fora, é oco;
Por dentro, contorno;
O entorno, louco
apodrece desvidas.
De dia, é pouco;
À noite, adorno;
O retorno, rouco
enriquece meninas.
Queria poder entender o significado
Mas, significante, o eu-mesmo já me supera.
Por dentro, contorno;
O entorno, louco
apodrece desvidas.
De dia, é pouco;
À noite, adorno;
O retorno, rouco
enriquece meninas.
Queria poder entender o significado
Mas, significante, o eu-mesmo já me supera.
8.4.09
7.4.09
6.4.09
Para começar a semana
"O único risco que se corre em livrarias e bibliotecas é abrir um livro ao acaso e deparar com uma informação ou ideia que nos transforma a vida para sempre, para o bem ou para o mal."
Ruy Castro (1948- )
5.4.09
3.4.09
TRINTA E UM DE MARÇO
Tradissom. Beleza. Poesia.
Um som simples, um som genuíno, autóctone, telúrico, original.
Finalmente reconhecido. Sobreviverá?
Um som simples, um som genuíno, autóctone, telúrico, original.
Finalmente reconhecido. Sobreviverá?
TRINTA DE MARÇO
O poeta enorme ressurge das cinzas para inventar novos versos truncados.
Depois, trancá-los no poema.
Depois, trincar o poema.
Na ânsia de saber que não haverá nenhum livro para cabê-lo
Depois, trancá-los no poema.
Depois, trincar o poema.
Na ânsia de saber que não haverá nenhum livro para cabê-lo
VINTE E NOVE DE MARÇO
Minha vida toda tem trilha sonora - para andar nos trilhos, diria.
Às vezes há uma falha no MP3 do cérebro. Um ruído, um trinado ou até a bateria precisando ser recarregada.
Às vezes há uma falha no MP3 do cérebro. Um ruído, um trinado ou até a bateria precisando ser recarregada.
VINTE E OITO DE MARÇO
Verdades doem.
Viver dói.
O que vale a pena mesmo é o instante sempre único em que você me sorri, brilhante, sincera.
O resto dói.
Viver dói.
O que vale a pena mesmo é o instante sempre único em que você me sorri, brilhante, sincera.
O resto dói.
VINTE E SETE DE MARÇO
Surpresa é quando uma repetição acontece tão pela primeira vez que nem pode ainda ser chamada de repetição. Uma vez vi uma borboleta bater as asas pela primeira vez.
2.4.09
13. Pequeno monólogo assombroso em um sebo sujo
No sebo sujo, um monólogo enviesado:
- Quero um livro que me ensine Cálculo Integral. Tem?
Silêncio.
- Por que não tem nada que ensine Cálculo Integral?
Silêncio novamente.
- Por favor, um livro de Cálculo Integral?
Silêncio persistente.
- Como é que se faz Cálculo Integral, moça?
Silêncio absoluto, inegável, insistente.
- Quero um livro que me ensine Cálculo Integral. Tem?
Silêncio.
- Por que não tem nada que ensine Cálculo Integral?
Silêncio novamente.
- Por favor, um livro de Cálculo Integral?
Silêncio persistente.
- Como é que se faz Cálculo Integral, moça?
Silêncio absoluto, inegável, insistente.
1.4.09
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