30.6.09
29.6.09
28.6.09
DEZESSETE DE JUNHO
Será um dia aberta a caixinha onde guardo, sistematicamente organizada, minha coleção de vontades?
DEZESSEIS DE JUNHO
A abstinência é o maior pecado, na verdade. Porque configura desperdício em essência, ter e não usufruir, ser e não assumir, poder mas recusar.
27.6.09
Porque hoje é sábado
Soneto à lua
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
(Vinicius de Moraes)
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
(Vinicius de Moraes)
TREZE DE JUNHO
A morte, tão perto, faz parte do absurdo que é ter vida. Esperto, percebo-a. Arisca, recusa-me. Perfeita. Feito uma tarde, cai.
26.6.09
DEZ DE JUNHO
Ela era uma compilação inédita e mágica das mais bonitas dúvidas: quanto custa uma obra de arte? Por que Deus está zangado? Existe poesia natimorta? Qual é a idade da humanidade? Quantos são os mares? E os males? quem inventou o clipe? E o grampeador? Com quantos paus se faz uma canoa? Vamos fugir? Para onde?
A minha única dúvida era a mais difícil de todas: um sorriso tão perfeito, como pode?
A minha única dúvida era a mais difícil de todas: um sorriso tão perfeito, como pode?
NOVE DE JUNHO
Pelas lentes do telescópio é possível auscultar emoções interplanetárias. Bactérias alienígenas transam loucamente em Marte. Algas extraterrestres sambam brasileiramente em Saturno. Fungos venusianos morrem imponentes, er..., em Vênus. Enquanto isso, na Lua, um dragão mutante relincha ao cavalo branco.
SETE DE JUNHO
Inventei duas fragilidades de vestir. Parecem óculos, mas se deterioram mais rapidamente.
Um dia, acordei com vontade de costurá-las em meus cadarços. Uma em cada.
Caminhar tornou-se fardo pesado.
Um dia, acordei com vontade de costurá-las em meus cadarços. Uma em cada.
Caminhar tornou-se fardo pesado.
SEIS DE JUNHO
Rigorosamente perdi todas as esperanças. Veio a seriedade e a rigidez ao encarar a vida de peito aberto. A solidão existe e é para ser sentida; a companhia é uma invenção dos covardes; a multidão surgiu justamente para afastar as almas que sorriem.
Desde então, conto os passos, devagar.
Não vão dar em nada, em lugar algum.
Moro em São Paulo.
Desde então, conto os passos, devagar.
Não vão dar em nada, em lugar algum.
Moro em São Paulo.
25.6.09
CINCO DE JUNHO
A música e seus encantos. O olhar e sua sedução. O beijo e seu medo. A ausência, a dor, a vontade, o pânico, a saudade.
QUATRO DE JUNHO
Shopping Light, centro de São Paulo, cidade que amo com devoção e ódio. O painel eletrônico traz notícias três dias atrasadas. O lanche vem frio e entardecido. A música chega leve e desafinada. Os casais parecem felizes com seus beijos longos de outono. A toalha da bandeja não me acrescenta nenhuma novidade. A agenda segue difícil e incumprida. O sol já se pôs faz tempo. O silêncio está só dentro de mim.
23.6.09
22.6.09
Para começar a semana
"O legal nos livros é que todo mundo pode ter uma voz, até mesmo os animais. Você pode contar uma história da boca de um pato, de uma criança e até de um narrador invisível."
Ruth Rocha (1931- )
21.6.09
Meu livro é uma vida aberta
No decorrer dos próximos dias, republico o ensaio fotográfico Meu Livro É Uma Vida Aberta, atendendo ao apelo de quatro de meus sete leitores. Para quem quiser se situar no espaço-tempo blogal, os posts ganharão a tag "vida aberta".
20.6.09
19.6.09
18.6.09
17.6.09
16.6.09
15.6.09
14.6.09
13.6.09
Porque hoje é sábado
Acordar, viver
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.
(Carlos Drummond de Andrade)
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.
(Carlos Drummond de Andrade)
12.6.09
DOIS DE JUNHO
A noite cai avançada.
Do outro lado da rua, luzes acesas em um prédio invejoso denunciam o serão prolongado.
Lembro-me de Bauru, onde as repúblicas vizinhas tinham um código luminoso próprio para as madrugadas. (Ao menos em minha cabeça, as coisas funcionavam assim.)
Entre acenderes e apagares, o tempo passou duro para mim. Anos depois, não sou nem metade do homem que sonhava ser.
Escorre uma pequena -- mas cruel -- lágrima de desespero. Pontiaguda.
Do outro lado da rua, luzes acesas em um prédio invejoso denunciam o serão prolongado.
Lembro-me de Bauru, onde as repúblicas vizinhas tinham um código luminoso próprio para as madrugadas. (Ao menos em minha cabeça, as coisas funcionavam assim.)
Entre acenderes e apagares, o tempo passou duro para mim. Anos depois, não sou nem metade do homem que sonhava ser.
Escorre uma pequena -- mas cruel -- lágrima de desespero. Pontiaguda.
PRIMEIRO DE JUNHO
À minha frente, enquanto faço o impossível para o relógio correr doidamente, um casal não tão jovem assim se amassa gostoso. Tem um mundinho próprio para ele. É singular, posto que não sou capaz de identificar onde está o começo de um corpo, onde parece terminar o outro.
Então me lembro que ainda existem paixões de verdade. E, não, não me refiro a amor, necessariamente.
Então me lembro que ainda existem paixões de verdade. E, não, não me refiro a amor, necessariamente.
TRINTA E UM DE MAIO
Existisse a possibilidade de rastrear pensamentos e maledicências alheias, jamais durariam os relacionamentos afetivos. O ser humano é idiota, pusilânime, medroso. Capaz de manter dentro de si uma gradação de sentimentos díspares e, muitas vezes, dicotômicos entre eles. Cada vez mais acredito na vida como obra de ficção. Das bem ruins e sem happy end.
11.6.09
TRINTA DE MAIO
Se morrer resolvesse, o mundo estaria mais leve. O diabo é que as pessoas partem, os problemas ficam. Não tem jeito: nós, que restamos, enquanto restamos, somos obrigados a conviver com uma série infinita de questões que nem sequer criamos.
16. As cidades, às cidades
Por onde passei, deixei alguns de meus pedaços. Porque, dizem, as células morrem o tempo todo, um pouco por vez.
- Um nariz!
- Um olho!
- Um pênis! (- É meu, é meu, é meu!, gritam meninas histéricas.)
Os agrados, segredados, jazem natimortos nas gavetas velhas, griladas, de antanho. Nelas, os grilos foram segregados, só para caberem os agrados.
- Agrido.
As gavetas não têm endereço fixo. Percorrem a totalidade das cidades onde me fiz. As mesmas que tumulam meus pecados, pedaços, cadarços e petardos.
- Um nariz!
- Um olho!
- Um pênis! (- É meu, é meu, é meu!, gritam meninas histéricas.)
Os agrados, segredados, jazem natimortos nas gavetas velhas, griladas, de antanho. Nelas, os grilos foram segregados, só para caberem os agrados.
- Agrido.
As gavetas não têm endereço fixo. Percorrem a totalidade das cidades onde me fiz. As mesmas que tumulam meus pecados, pedaços, cadarços e petardos.
VINTE E NOVE DE MAIO
Breve relação das dores:
- Separação
- Siso
- Fome
- Saudade
- Tombo
- Parto
- Rim (com pedra)
- Rim (durante a litotripsia)
- Cansaço
- Infarto
- Tédio
- Arrependimento
- Acidente de moto
- Fissura óssea
- Distensão ou estiramento muscular
- Falta de planejamento.
- Separação
- Siso
- Fome
- Saudade
- Tombo
- Parto
- Rim (com pedra)
- Rim (durante a litotripsia)
- Cansaço
- Infarto
- Tédio
- Arrependimento
- Acidente de moto
- Fissura óssea
- Distensão ou estiramento muscular
- Falta de planejamento.
VINTE E OITO DE MAIO
Diminutivos demonstram afeição, reza o hábito popular. Motivo? Consequência? Causa? Efeito? Sentimento?
Na praia chegam todos os corpos flutuantes.
Na praia chegam todos os corpos flutuantes.
10.6.09
Nuvens
Nuvens, a matéria-prima dos sonhos,
são das coisas mais lindas que já inventaram.
Disformes, matéria-poema das senhas.
Etéreas, mistério-pronto das sanhas.
Gostaria eu de comê-las.
são das coisas mais lindas que já inventaram.
Disformes, matéria-poema das senhas.
Etéreas, mistério-pronto das sanhas.
Gostaria eu de comê-las.
VINTE E SETE DE MAIO
Uma praça e seu apreço. Um sorriso e uma gagueira. Um olhar e um gravador. O entre e a vista. O off.
- Eu também gosto de escrever.
- Mas nem tenho um blog.
- Você dorme às vezes?
- Sim, três filhos. Mas nenhum mora mais comigo.
- E você faz isso com frequência?
- Vou de bicicleta. É pertinho.
- Mas pode encontrar um bicho-papão.
- Não consigo aproveitar a cidade tanto quanto gostaria.
- Não tem vontades secretas?
- Corro. Uma hora cada vez.
- E quando morrer?
- Coleciono árvores e suas estações favoritas.
- Interessante a infinitude das pessoas.
- Achei que ali estava estagnada.
- Imagina...
- Sempre neste bairro.
- É belo.
- É belo.
- É bela.
- Eu também gosto de escrever.
- Mas nem tenho um blog.
- Você dorme às vezes?
- Sim, três filhos. Mas nenhum mora mais comigo.
- E você faz isso com frequência?
- Vou de bicicleta. É pertinho.
- Mas pode encontrar um bicho-papão.
- Não consigo aproveitar a cidade tanto quanto gostaria.
- Não tem vontades secretas?
- Corro. Uma hora cada vez.
- E quando morrer?
- Coleciono árvores e suas estações favoritas.
- Interessante a infinitude das pessoas.
- Achei que ali estava estagnada.
- Imagina...
- Sempre neste bairro.
- É belo.
- É belo.
- É bela.
9.6.09
Semana
Domingos têm sol
Segundas fazem sono
Terças contêm trilha sonora
Quartas, silêncio
Quintas são de algodão-doce
Sextas demoram o infinito
Sábados nada sabem.
Segundas fazem sono
Terças contêm trilha sonora
Quartas, silêncio
Quintas são de algodão-doce
Sextas demoram o infinito
Sábados nada sabem.
8.6.09
7.6.09
6.6.09
Porque hoje é sábado
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(Manuel Bandeira)
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(Manuel Bandeira)
5.6.09
4.6.09
Instante da estante
RAMOS, Anna Claudia. Nos bastidores do imaginário: criação e literatura infantil e juvenil. São Paulo: DCL, 2006.
Poema de duas pernas
no duro espaço amargo
que me consome inteiro
persigo a malícia
e o afago
de ser meio
do jeito que se me vicia.
insone, luto.
finjo que me esqueço
e não mais escuto
toda a dor que sou:
avesso, invejo-me.
sou o homem.
que me consome inteiro
persigo a malícia
e o afago
de ser meio
do jeito que se me vicia.
insone, luto.
finjo que me esqueço
e não mais escuto
toda a dor que sou:
avesso, invejo-me.
sou o homem.
3.6.09
VINTE E CINCO DE MAIO
Das origens. Não do ser humano, entidade coletiva, mas do homem único, individual, indivíduo. Não da espécie, mas do espécime.
- De onde vim?
- Com quem sempre sonhei?
- Por que escrevo?
- Onde adquiri meus medos?
- De quem comprei a existência?
- De onde vim?
- Com quem sempre sonhei?
- Por que escrevo?
- Onde adquiri meus medos?
- De quem comprei a existência?
VINTE E TRÊS DE MAIO
Funciona assim: a produção aumenta desnecessariamente, sem nenhum motivo interessante.
Então vem o caos, com aquele pouquinho de ódio e exclama:
- Uia!
Então vem o caos, com aquele pouquinho de ódio e exclama:
- Uia!
VINTE DE MAIO
O silêncio, este longo hiato sem vogais nem consoantes. O silêncio, como meus pensamentos o invejam. O silêncio.
DEZENOVE DE MAIO
Cada nova pontada dolorida em minha cabeça, cada inédito verso dolorido em meu coração ,cada sincera prece ardente em minha alma, cada um, cada um. Arde.
2.6.09
1.6.09
Para começar a semana
"Um romance, um livro é inesgotável, você o revisita e aquilo ganha sentidos diferentes em diferentes momentos da sua vida. Você pensa em quem era da primeira vez que leu aquele livro, na diferença dessa segunda leitura, dessa terceira leitura."
João Paulo Cuenca (1978- )
João Paulo Cuenca (1978- )
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