![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd_Oh7T2h7jIb8WqZIrkSB1j5FEq8LY7H8B-2qB82vLrtxu4l6Y7c6tqk4thQzSDt8lo9vwZtZIf1c7IZm2mlB0H1CY759gsshT5Mlay9ne5GNXsD_2sEfdudmdCF4wX7xKxCh/s400/2963475.jpg)
31.12.09
Instante da estante
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd_Oh7T2h7jIb8WqZIrkSB1j5FEq8LY7H8B-2qB82vLrtxu4l6Y7c6tqk4thQzSDt8lo9vwZtZIf1c7IZm2mlB0H1CY759gsshT5Mlay9ne5GNXsD_2sEfdudmdCF4wX7xKxCh/s400/2963475.jpg)
VINTE E SETE DE DEZEMBRO
Com um alfinete de cabeça amarela furo a lua como se ela fosse uma bexiga imensa. Faz barulho.
30.12.09
VINTE E DOIS DE DEZEMBRO
Era uma vez um ditongo crescente. Cresceu tanto, cresceu tanto, cresceu tanto que acabou lua cheia.
VINTE DE DEZEMBRO
Enredo para um final feliz, receita:
- Dois personagens, principalmente enamorados;
- Um pano de fundo bonito;
- Uma trama que garanta que as vidas dos dois personagens, ainda que traçadas de forma paralela, se cruzem;
- Uma música tão comovente como inesperada;
- Um letreiro vintage: happy end.
- Dois personagens, principalmente enamorados;
- Um pano de fundo bonito;
- Uma trama que garanta que as vidas dos dois personagens, ainda que traçadas de forma paralela, se cruzem;
- Uma música tão comovente como inesperada;
- Um letreiro vintage: happy end.
DEZENOVE DE DEZEMBRO
Na janela, uma esperança solitária. De que tudo -- todos os tudos -- vai acabar bem.
DEZESSETE DE DEZEMBRO
Odeio principalmente mais quando o desapego se apaga em mim. O resto são cicatrizes incuráveis no couro cabeludo.
DEZ DE DEZEMBRO
Com o fim de 2009, encerrarei este projeto inútil, natimorto. Eis minha primeira resolução de ano-novo.
NOVE DE DEZEMBRO
Um sufoco.
O trânsito de São Paulo.
Amostras grátis de ingratidão e insônia.
Outro sufoco.
Um buraco na rua.
Rua principal.
Amostras grátis e risonhas de ignorância.
Modus operandi rapidamente alterado.
Plano B.
C.
D.
E depois?
O trânsito de São Paulo.
Amostras grátis de ingratidão e insônia.
Outro sufoco.
Um buraco na rua.
Rua principal.
Amostras grátis e risonhas de ignorância.
Modus operandi rapidamente alterado.
Plano B.
C.
D.
E depois?
OITO DE DEZEMBRO
Há tempos o mundo não me dá mais mostras de que alguns valores -- entre eles, a amizade -- valem a pena. Por sorte, não tenho mais acreditado no mundo, mesmo.
29.12.09
SEIS DE DEZEMBRO
A estrada pode ser tudo -- longa, esburacada, íngreme, nervosa, tristonha... --, menos monótona
CINCO DE DEZEMBRO
De todos os poderes atribuídos à natureza, sem dúvida o mais correto é a sua estranha capacidade de revigorar o ser humano, fazê-lo ser humano outra vez.
QUATRO DE DEZEMBRO
Cada vez menos acredito na escrita como catarse. Cada vez mais deposito nela uma incredulidade mórbida.
TRÊS DE DEZEMBRO
O medo. A expectativa. A dureza. A insatisfação. O remédio. A crueldade. O último gole, residual, de esperança.
"Como se fosse um espelho em frente ao outro"
Cara, estou muito irritado com as coisas.
Hoje em dia você pode deixar tudo emendado, saca? Tipo atualizar seu blog e ele automaticamente alimentar seu twitter, que pode automaticamente alimentar seu facebook, que pode sei lá o quê. Não dá, cara, fica insano. A ponto de eu entrar no flickr de um amigo, clicar na foto para vê-la ampliada e perceber que a mesma não está hospedada no flickr, mas sim no twitpic, que é aquele treco de fotos do twitter. Ou seja: a foto também apareceu no twitter dele (e eu não vi). E dá para fazer o caminho inverso também. Quando eu atualizo meu blog, aparece no twitter. Quando eu atualizo o twitter, aparece no blog. É um ciclo infinito, como se fosse um espelho em frente ao outro. Não dá para conviver com isso, não dá.
Acho que vou mudar de planeta.
Hoje em dia você pode deixar tudo emendado, saca? Tipo atualizar seu blog e ele automaticamente alimentar seu twitter, que pode automaticamente alimentar seu facebook, que pode sei lá o quê. Não dá, cara, fica insano. A ponto de eu entrar no flickr de um amigo, clicar na foto para vê-la ampliada e perceber que a mesma não está hospedada no flickr, mas sim no twitpic, que é aquele treco de fotos do twitter. Ou seja: a foto também apareceu no twitter dele (e eu não vi). E dá para fazer o caminho inverso também. Quando eu atualizo meu blog, aparece no twitter. Quando eu atualizo o twitter, aparece no blog. É um ciclo infinito, como se fosse um espelho em frente ao outro. Não dá para conviver com isso, não dá.
Acho que vou mudar de planeta.
DOIS DE DEZEMBRO
Como se eu fosse um alfabeto decrescente, venho por meio deste excluir os números bestas de minha existência.
TRINTA DE NOVEMBRO
Por dentro, o organismo finge que não existe mais. Só pedras, tampouco lapidadas.
A essência é uma ilusão.
Como se eu estivesse em um filme. Com péssimo roteiro, parcos diálogos, nenhuma direção. Apenas a vontade, pouco à vontade.
Onde é o botão que desliga?
A essência é uma ilusão.
Como se eu estivesse em um filme. Com péssimo roteiro, parcos diálogos, nenhuma direção. Apenas a vontade, pouco à vontade.
Onde é o botão que desliga?
VINTE E SEIS DE NOVEMBRO
Tudo o que mais quero é uma vida mansa. Porque todo o resto só me cansa. E, no fim da história, o mundo inteiro dança.
VINTE E QUATRO DE NOVEMBRO
Quem acredita em desafios não deve aborrecer muito os conselhos. Da carta ao violão, arrisca o verso, mesmeja o sussuro, se engana o tropeço. Toda as desilusões já foram pagas.
VINTE E UM DE NOVEMBRO
Quero uma flor que me fale.
Ao coração.
Existem mãos que não se tocam, beijos que não se dão, conceitos que se subtraem?
Quero uma dor que me fale.
E seja bruta.
E seja sincera.
Ao coração.
Existem mãos que não se tocam, beijos que não se dão, conceitos que se subtraem?
Quero uma dor que me fale.
E seja bruta.
E seja sincera.
28.12.09
DEZENOVE DE NOVEMBRO
Vontade absurda de ser poeta -- ou, pelo menos, recuperar o aprendiz que já fui um dia.
DEZOITO DE NOVEMBRO
O rádio cansa. O jornal entendia. A TV emburrece. O livro enjoa. O cinema não funciona mais.
DEZESSETE DE NOVEMBRO
É dos amigos. Os verdadeiros.
Sem me importar com o resto.
Porque o resto é nada.
Sem me importar com o resto.
Porque o resto é nada.
DEZESSEIS DE NOVEMBRO
Qual o preço de uma saudade?
Qual o peso de um retorno?
Qual a tensão de outra partida?
Qual a chance de ser definitivo?
Qual o peso de um retorno?
Qual a tensão de outra partida?
Qual a chance de ser definitivo?
TREZE DE NOVEMBRO
A literatura é um exercício do "somos-em-potencial", não do "somos-em-essência". Senão vira diário. Ou, pior: senão vira jornalismo.
ONZE DE NOVEMBRO
Difícil conseguir pensar em ideias novas quando ainda se é atormentado -- assombrado -- pelas velhas.
27.12.09
NOVE DE NOVEMBRO
O calendário vai chegando ao fim e o corpo denuncia o fato. Inadiváel, como todos os anos. Frangalhos, dor, sensação incrível de que não fui metade do que tencionava.
OITO DE NOVEMBRO
Gosto de tuas palavras principalmente quando elas se me vêm nuas. E inteiras, perfeitas, quase colecionáveis.
Gosto de tuas palavras quando elas são verdade mas se parecem com mentira.
Gosto de tuas palavras quando elas são verdade mas se parecem com mentira.
SETE DE NOVEMBRO
Louco é o que se nega. Louco é o que escapa. Incrivelmente louco o que se desastra.
CINCO DE NOVEMBRO
A felicidade é essa coisa estranha de se acumular momentos bons. Nem sempre dá certo, evidentemente.
26.12.09
Porque hoje é sábado
A fruta aberta
Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.
Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.
Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.
Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.
(Thiago de Mello)
Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.
Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.
Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.
Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.
(Thiago de Mello)
25.12.09
24.12.09
23.12.09
22.12.09
21.12.09
O fato das fotos: novo blog
Eu ia inaugurar só no ano que vem. Mas não resisti e já coloquei no ar, ainda em versão experimental e, portanto, passível de ajustes -- que virão. Criei um novo blog. A princípio, este Cronopolitano segue normalmente. A ideia do Imagens é, como o próprio nome diz, ser um depósito de fotografias que venho tirando por aí. Apareçam.
Para começar a semana
20.12.09
19.12.09
Porque hoje é sábado
Vozes
aos gritos
antegozava
(gata) gemia
em jatos
e
aos pulos
jorrava
sussurros
rápidos
(Frederico Barbosa)
aos gritos
antegozava
(gata) gemia
em jatos
e
aos pulos
jorrava
sussurros
rápidos
(Frederico Barbosa)
18.12.09
17.12.09
16.12.09
15.12.09
14.12.09
13.12.09
12.12.09
Porque hoje é sábado
Jeans
A carne forçada
sob a calça jeans
quase explode
querendo sair.
O tecido vibra
fibra a fibra
trêmula grade
implodido jardim.
Enquanto a carne
flora pura
implora em si.
(Frederico Barbosa)
A carne forçada
sob a calça jeans
quase explode
querendo sair.
O tecido vibra
fibra a fibra
trêmula grade
implodido jardim.
Enquanto a carne
flora pura
implora em si.
(Frederico Barbosa)
11.12.09
Não há
- Cifras nem cifrões;
- Manhãs nem amanhãs;
- Pedras nem perdas;
- Sonos nem sonhos;
- Ser tão nem sertões.
Seção da sessão
Trailer do filme Carro de Paulista -- baseado na peça homônima do amigo Mario Viana --, que a TV Cultura exibe dia 19 próximo.
10.12.09
Instante da estante
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhThQhSqh8a4FbqjW4mSxl6RNkMDTOcFa6YnXbJkqCeUxcZb5LQFh9dTUS6GkKM4VrsiRLaOmPc9Q4HZqzT9JUKiadMq5VZzPL6FxYMNuzy6XolWO9Rk2uupE8eM9QyTCNKrwQr/s400/metal.jpg)
9.12.09
8.12.09
7.12.09
Para começar a semana
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrF4obdA6JaOJ8r1J5dH42bkKRF7oMht2D45sIId_AmSo3sNJYxAiSrt90wyXrQBNbF1Cpz_8r-XZsJHAOnLRJrm1SAaAaM-1VP4LYTas6C7ooKtkiOZzL0Jr_usek-_UELyDU/s320/antviana.jpg)
Antonio Carlos Viana (1946- )
6.12.09
5.12.09
4.12.09
3.12.09
2.12.09
VINTE E SEIS DE OUTUBRO
- Você ainda gosta de letrinhas?
- Só no macarrão. E você?
- Também prefiro as de comer.
- Só no macarrão. E você?
- Também prefiro as de comer.
1.12.09
30.11.09
VINTE DE OUTUBRO
Do outro lado do espelho, qual é a imagem que tenho?
Do outro lado da rua, há calçada?
Do outro lado da folha, a história continua bonita?
do outro lado do rio, quantas pessoas moram felizes?
Do outro lado da lua, como é?
Do outro lado da vida, tem vida?
Do outro lado da rua, há calçada?
Do outro lado da folha, a história continua bonita?
do outro lado do rio, quantas pessoas moram felizes?
Do outro lado da lua, como é?
Do outro lado da vida, tem vida?
DEZENOVE DE OUTUBRO
Hoje, o sol raiou com cores invertidas. Quase me confundi com uma pedra. Era só outra perda.
DEZOITO DE OUTUBRO
O fracasso é a consequência mais óbvia da persistência. Pois o sucesso, bem mais raro, tem a inveterada mania de só aparecer quando nem vale mesmo mais a pena.
DEZESSETE DE OUTUBRO
Com aquele poema rasgado, perdi todas as minhas esperanças. Agora, e principalmente hoje, não acredito mais na felicidade eterna, no sossego pleno, na paz entre os homens.
Tudo o que me inventam é mentira.
Não suporto mentiras.
Tudo o que me inventam é mentira.
Não suporto mentiras.
DEZESSEIS DE OUTUBRO
Tem futebol? Tem carnaval? Tem feriado? Tem churrasco? Tem cerveja? Tem tudo? Tem nada.
Para começar a semana
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1g6BATQaScpU0KKDNkc1OKhG1geoBxRHNnfH5mSca4fmtrdwaOLjipv1Dd9U30tZZ72FCAy3UgvkrapLxKL3mWe5J6qAX-4mtOlP6DOKDdxtt0dCzsNlvA5w_Y-136AYLJ9yU/s320/MoacyrScliar1.jpg)
Moacyr Jaime Scliar (1937- )
CATORZE DE OUTUBRO
Quero salvar minhas amizades. Principalmente as que acreditam, como eu, no poder indescritível da misantropia.
TREZE DE OUTUBRO
Dos preceitos. Das leis. Dos infinitos. Das pautas. Dos amanhãs. Das metas. Dos esquecimentos. Das dores. Dos desejos. Das vidas. Dos tropeços. Das memórias. Dos livros, dos discos, das letras, amém.
DOZE DE OUTUBRO
Não sei se já disse isso, mas é preciso jamais (jamais, jamais, jamais!) confundir escorregar com escorrer.
ONZE DE OUTUBRO
Triste, percebo-me em um cruel processo de esquecimento de todas as ideias recentes que tive. O pior é que costumava as julgar boas, dessas que não merecem escorrer, assim, ralo abaixo sem nem sequer deixar um rasto de resto.
DEZ DE OUTUBRO
Os acordes. Tão renitentes. Os acasos. Tão provisórios. Os sonhos. Tão improváveis. Os segredos. Tão bons. Os sinais. Tão difíceis. Os exercícios. Tão tristes. As mentiras. Tão meninas.
NOVE DE OUTUBRO
O colecionador de fracassos ressurge para uma completude de tarefas inconsequentes:
- Espetar um alfinete no sol para ver a manhã escorrer amarela;
- Abraçar um mar cheio d'água pra ter certeza de seu estado líquido;
- Costurar uma cicatriz nova no solo árido pra tê-lo feito Frankenstein;
- Sonegar é crime.
29.11.09
QUATRO DE OUTUBRO
E, num belo dia, o colecionador de glórias se cansou e chorou e chorou e jamais voltou a ser o que queria. Talvez porque nem sequer soubesse. Ou fosse.
DOIS DE OUTUBRO
Hoje estou alfabético:
Amanda está amando;
Beatriz, por um triz;
Camila, come aquilo (a quilo);
Dinorá diz que dirá -- quem dera!;
Elisete alisa o topete;
Fernanda nunca desanda;
Gabriela é só ela;
Helena são dezenas;
Iara ficou uma arara;
Januária, uma gralha;
Karina é que nem margarina;
Luana coleciona luas doces;
Margarida, amargas;
Natália anota em toalhas;
Orlanda fic aolhando;
Priscila nem precisa;
Quitério é uma fera;
Rosana, uma anta;
Sara machucou, não sara;
Talita tá ali, tá ali;
Úrsula, absurda;
Valquíria vinha e ria;
Wanusa ia e chorava;
Xuxa, não sei;
Yara jamais fracassara;
Zulmira já sabia.
Amanda está amando;
Beatriz, por um triz;
Camila, come aquilo (a quilo);
Dinorá diz que dirá -- quem dera!;
Elisete alisa o topete;
Fernanda nunca desanda;
Gabriela é só ela;
Helena são dezenas;
Iara ficou uma arara;
Januária, uma gralha;
Karina é que nem margarina;
Luana coleciona luas doces;
Margarida, amargas;
Natália anota em toalhas;
Orlanda fic aolhando;
Priscila nem precisa;
Quitério é uma fera;
Rosana, uma anta;
Sara machucou, não sara;
Talita tá ali, tá ali;
Úrsula, absurda;
Valquíria vinha e ria;
Wanusa ia e chorava;
Xuxa, não sei;
Yara jamais fracassara;
Zulmira já sabia.
VINTE E OITO DE SETEMBRO
Não acredito em contagens que não sejam regressivas, em índices que não sejam remissivos e em pecados que não sejam perdoados.
VINTE E SETE DE SETEMBRO
Ruídos me irritam.
Assuntos me consomem.
Coisas me causam.
Jeitos me ojerizam.
Sonhos me assanham.
Atrasos me atropoelam.
Restos me arrastam.
Palavras me atrapalham.
Tempos me atentam.
Amanhãs me caminham.
Sortes me forçam.
Azares me pesam.
Nuncas me abundam.
Tamanhos me confundem.
Assuntos me consomem.
Coisas me causam.
Jeitos me ojerizam.
Sonhos me assanham.
Atrasos me atropoelam.
Restos me arrastam.
Palavras me atrapalham.
Tempos me atentam.
Amanhãs me caminham.
Sortes me forçam.
Azares me pesam.
Nuncas me abundam.
Tamanhos me confundem.
VINTE E SEIS DE SETEMBRO
Desde que o mundo perdeu seus modos, ando correndo atrás de meus medos. Mas, invariavalmente, eles me esacapam por entre os dedos.
VINTE E TRÊS DE SETEMBRO
Tudo o que é belo lembra-me que o Brasil é mais. Apenas o Brasil consegue ser belo até na feiura. Exemplo definitivo: São Paulo.
VINTE E DOIS DE SETEMBRO
Dentro da casa do relógio, muitos Van Gogh se escondem. Um mais impressionante que outro. Eu, tudo; menos indiferente.
VINTE DE SETEMBRO
Queria saber quanto ouro há neste palácio, quantas folhas neste jardim, quanta água neste lago, quantos tantos nesta nobreza. Como não sei, aquieto-me insatisfeito.
DEZENOVE DE SETEMBRO
Diálogo imaginário entre Vênus de Milo e Monalisa:
- Você é homem ou mulher?
- Pelo menos tenho cá meus braços, tá?
- Você é homem ou mulher?
- Pelo menos tenho cá meus braços, tá?
DEZESSETE DE SETEMBRO
A torre e a avenida. Nunca me esqueça: definitivamente Paris não é só isso. Definitivamente Paris não é isso.
28.11.09
Porque hoje é sábado
Perfil
o sinal eclipsado
inseto rato refere
quando se escreve transfere
palavra dispara
na sua voz
sua visão
ótico mistério:
um perfil se ab
rindo
perfeição
(Frederico Barbosa)
o sinal eclipsado
inseto rato refere
quando se escreve transfere
palavra dispara
na sua voz
sua visão
ótico mistério:
um perfil se ab
rindo
perfeição
(Frederico Barbosa)
CATORZE DE SETEMBRO
O dia das singelas descobertas: a casa de Charles Dickens, a faixa de pedestres dos Beatles, a rua do Sherlock Holmes...
DOZE DE SETEMBRO
A praia de pedra e roupas é povoada por agressivas gaivotas. Porém, belas. Lewis Carroll passou por aqui.
ONZE DE SETEMBRO
Big Ben. Tâmisa. London Eye. Abadias e catedrais. Tate Modern. Ginger beer. Framboesas. Fish and chips. Tower of London. London Bridge. Palácios. Uma história rica, mas que nunca foi a nossa. Nem será. Uma história rica, mas contada em um idioma bárbaro -- que, grosseiramente, se tornou universal.
NOVE DE SETEMBRO
O centro do cristianismo mundial, com toda a sua beleza e arrogância de pedra. Pedro era só um pescador.
OITO DE SETEMBRO
Quantas fontes há para explorar? Quantos pores-do-sol para beber? Quantas fotografias amareladas para ver depois?
SETE DE SETEMBRO
OK. "Perdemos" o feriado diante de tantas ruínas. Um mundo que já existia milênios atrás. Restos de mármore. Lendas e proveitos. História. Pó e pedra. Pedra e pó. Vultos de uma memória que ainda não havia sido para mim, nem por mim.
SEIS DE SETEMBRO
Belo e inesquecível aniversário, coletando fotograficamente as felizes lágrimas dela em frente ao Coliseu. Estamos. Somos. Podemos.
CINCO DE SETEMBRO
Estou a dez mil metros de altitude, vinhos e cervejas repetidas vezes. Cadê o Velho Mundo que sempre quis conhecer?
27.11.09
Seção da sessão
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN90HDZ2jYWnlp2q-kGaRIHbkANm-u5uPU0rcxJnRlqoOKqt5avpGmDmyeEx-f5-HyuuP4k04mMHj1qBinQWd04sTs5uCAX_sv4M3T1CMkZkAMlDO7P-lsjldw50fn0QIBvD1X/s400/grural.jpg)
Reportagem de 1991 exibida no Globo Rural. Toda em versos, jornalirismo puro. Como não consegui "embedar", clique aqui para assistir.
26.11.09
25.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Modificar conteúdo, linguagem e – por que não? – suporte é nossa proposta, exemplificada no produto InVerso. Mas como essas modificações são percebidas em InVerso?
24.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Espelhar esse mundo-gênese, mundo-fênix (e não o mundo sem fundo, raso, ralo) é já o primeiro passo para a construção de um produto jornalístico diferenciado. Será essa, entretanto, a única variante desejável?
23.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Nem olhar o mundo como se fosse pela última vez, nem como se fosse pela primeira vez – esses olhares nos revelam um mundo pronto, acabado, definitivo e estanque; olhar o mundo, isso sim, como uma criatura em processo e, portanto, passível possível de transformações e rupturas.
Para começar a semana
22.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Contrariar crenças, descristalizar o hábito, questionar o consagrado: atalhos para o novo – para as múltiplas faces do novo: o novo que é novo porque está esquecido, o novo inédito, o novo tão simples que sua obviedade o camufla sob o velho e, por isso mesmo, se torna ainda mais surpreendente quando descoberto, ou criado.
21.11.09
Porque hoje é sábado
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(Carlos Drummond de Andrade)
20.11.09
19.11.09
18.11.09
17.11.09
Espero vocês lá!
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGMdd2WnwTCS9-tgKmNsZQVVVhx97RDYnXeGPDryDigvXg9GnAgdEdrRdR-FKFna444APxNWNiyl6TFh6PJAJ3UTuK1T7Qiv0t68kF0Gl2GGq7GNtX0uoI-nq1doLHI3Sk_4Li/s400/67341.jpg)
A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889. Porém, você sabe o que aconteceu meses antes do fim do Império? Com linguagem irreverente, o autor revela os fatos que antecederam a expulsão de dom Pedro II e da família imperial – como a ascensão da cafeicultura, a promulgação da Lei Áurea, a Guerra do Paraguai, o baile da Ilha Fiscal, a briga entre a maçonaria e a Igreja Católica, a revolta dos militares –, apresenta os personagens que participaram da queda da Monarquia, faz um panorama da sociedade brasileira do século XIX e conta a história dos hinos e da bandeira nacional.
Trecho
“Nem é preciso ter ido à escola para saber que Cristóvão Colombo colocou o ovo em pé, Pedro Álvares Cabral descobriu o que não estava coberto, dom João VI trouxe a turma toda para viver na colônia de férias tropical, e seu filho, dom Pedro I, disse ao povo que ficaria. E ficou. Por isso, quando resolvi escrever sobre a Proclamação da República, logo imaginei que todo mundo aqui – levanta a mão! – já tivesse ouvido algo sobre o assunto. Ainda que seja somente porque dia 15 de novembro é feriado e não tem aula (êêêêêêêêêêêêê!). Este não é um livro de História, com H maiúsculo. É um livro de histórias, todas minúsculas. Mas a soma delas irá ajudar a compreender um pedacinho da História do Brasil. Por isso convido-o, amigo leitor, a me acompanhar nas páginas que vêm por aí. Será uma verdadeira viagem ao século XIX, quando não existia internet, televisão, rock-and-roll, nem o seu avô.”
O autor
Edison Veiga nasceu três vezes. A primeira, pra valer mesmo, foi em 1984 na bonita cidade de Taquarituba (SP). Mais tarde, em 2002, na acolhedora Bauru (SP), para onde se mudou a fim de estudar na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Menos de quatro anos depois, foi adotado pela metrópole e virou paulistano. Jornalista – e aprendiz de escritor – desde a adolescência, faturou alguns prêmios literários e publicou seu primeiro livro (Enigma, de poemas), aos 15 anos. Gosta de aquários e estantes de livros. Atualmente trabalha no jornal O Estado de S. Paulo e escreve birutices em www.cronopolitano.blogspot.com.
Lançamento
Dia 17/11, às 19h, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena).
Mais informações
Clique aqui.
Para comprar on-line
Clique aqui.
16.11.09
Ok, confesso: sou um colecionador de medos. De todos os tamanhos, formatos, cores. Uns vêm quase natimortos. Outros se demoram a crescer, engordar, matar e, depois, morrer. Nenhum me absolve, ninguém me condena; medos existem para serem vividos.
Em geral, os medos são principalmente injustificáveis. Porque, assim como preconceitos, surgem antes, bem antes, dos problemas existirem de fato. São um prenúncio, uma introdução, um prólogo -- da árvore, a semente; do sexo, a conquista. Por isso, são medos. Pressupõem a possibilidade da perda, do fracasso, do erro.
Queria ter um espantalho de medos. Plantado, imóvel, de braços abertos e cara feia. Dentro de cada narina.
Em geral, os medos são principalmente injustificáveis. Porque, assim como preconceitos, surgem antes, bem antes, dos problemas existirem de fato. São um prenúncio, uma introdução, um prólogo -- da árvore, a semente; do sexo, a conquista. Por isso, são medos. Pressupõem a possibilidade da perda, do fracasso, do erro.
Queria ter um espantalho de medos. Plantado, imóvel, de braços abertos e cara feia. Dentro de cada narina.
15.11.09
14.11.09
Porque hoje é sábado
Não se mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguem sabe nem saberá.
(Carlos Drummond de Andrade)
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguem sabe nem saberá.
(Carlos Drummond de Andrade)
13.11.09
12.11.09
11.11.09
10.11.09
9.11.09
Para começar a semana
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRmfkN6_WttCR-KsJmtgCPXMiY8MS8GYAy_bsYSqEA_T9hEpqAzRdMKopzKs1wYApbM69ahMFQpVCN3Hpo6MHau7SDmvsc20GCOjSYf5LRK4Oj3NPHgR0qR6qr16tqw_KAwEU2/s400/liao.jpg)
Liao Yiwu (1958- )
8.11.09
7.11.09
Porque hoje é sábado
Quero
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
6.11.09
5.11.09
4.11.09
3.11.09
2.11.09
QUATRO DE SETEMBRO
A véspera ardida de tantas vivências colecionáveis. O verso que jamais será escrito. A derradeira canção brasileira. A peça escura na noite mais escura ainda. São Paulo é o mundo todo, e isto estufa de sobremaneira a minha cabeça.
DOIS DE SETEMBRO
No chão, as malas são um convite desnecessário a aumentar minhas tristezas mais secretas. Queria poder conversar com elas, saber qual o objetivo de guardar tanta coisa inútil.
PRIMEIRO DE SETEMBRO
Férias são uma imensa coleção de nadas, desses que se sucedem sem o menor esforço. O tédio se me apresenta da maneira mais cruel possível: tanto para se fazer, nada para me fazer.
1.11.09
31.10.09
Porque hoje é sábado
A cidade antiga
Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila
E em que os parques usavam cinto de castidade
As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto
Com a posterior invenção dos kamikazes
De resto, a metrópole era inexpugnável
Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.
Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA
U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!
Vogais! tônico para o cabelo da poesia
Já escrevi, certa vez, vossa triste balada
Entre os minuetos sutis do comércio imediato
As portadoras de êxtase e de permanganato!
Houve um tempo em que um morro era apenas um morro
E não um camelô de colete brilhante
Piscando intermitente o grito de socorro
Da livre concorrência: um pequeno gigante
Que nunca se curvava, ou somente nos dias
Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.
Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!
Em que se comentava: Verso livre! com receio...
Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:
"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."
Em que se ia ver a bem-amada sepulcral
Decompor o espectro de um sorvete na Paschoal
Houve tempo em que o amor era melancolia
E a tuberculose se chamava consumpção
De geométrico na cidade só existia
A palamenta dos ioles, de manhã...
Mas em compensação, que abundância de tudo!
Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!
Houve tempo em que apareceu diante do espelho
A flapper cheia de it, a esfuziante miss
A boca em coração, a saia acima do joelho
Sempre a tremelicar os ombros e os quadris
Nos shimmies: a mulher moderna... Ó Nancy! Ó Nita!
Que vos transformastes em dízima infinita...
Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo
Tempo para a peteca e tempo para o soneto
Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo
Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...
Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima
Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima.
(Vinicius de Moraes)
Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila
E em que os parques usavam cinto de castidade
As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto
Com a posterior invenção dos kamikazes
De resto, a metrópole era inexpugnável
Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.
Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA
U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!
Vogais! tônico para o cabelo da poesia
Já escrevi, certa vez, vossa triste balada
Entre os minuetos sutis do comércio imediato
As portadoras de êxtase e de permanganato!
Houve um tempo em que um morro era apenas um morro
E não um camelô de colete brilhante
Piscando intermitente o grito de socorro
Da livre concorrência: um pequeno gigante
Que nunca se curvava, ou somente nos dias
Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.
Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!
Em que se comentava: Verso livre! com receio...
Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:
"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."
Em que se ia ver a bem-amada sepulcral
Decompor o espectro de um sorvete na Paschoal
Houve tempo em que o amor era melancolia
E a tuberculose se chamava consumpção
De geométrico na cidade só existia
A palamenta dos ioles, de manhã...
Mas em compensação, que abundância de tudo!
Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!
Houve tempo em que apareceu diante do espelho
A flapper cheia de it, a esfuziante miss
A boca em coração, a saia acima do joelho
Sempre a tremelicar os ombros e os quadris
Nos shimmies: a mulher moderna... Ó Nancy! Ó Nita!
Que vos transformastes em dízima infinita...
Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo
Tempo para a peteca e tempo para o soneto
Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo
Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...
Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima
Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima.
(Vinicius de Moraes)
30.10.09
29.10.09
Instante da estante
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9cAG00GT-AKjVtID-s4Z3wdRjlnfAOvD97YPOG10dTfKOr8iOfcZR2mECrftfx8BFsv9p0JmRI3Y6pK0a0b1djimUkOEgk9gPLwb1xO16BGwE0rhzMUKHt6mZ5TqC49Je1Yhg/s400/juca_e_joyce.jpg)
28.10.09
27.10.09
26.10.09
Para começar a semana
“O que é um livro que nem mesmo sabe levar-nos para além de todos os livros?”
Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900)
25.10.09
24.10.09
Porque hoje é sábado
A carta que não foi mandada
Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor
Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais
(Vinicius de Moraes)
Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor
Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais
(Vinicius de Moraes)
23.10.09
22.10.09
Instante da estante
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlg1iA6ibWae2orT6nLzYDj78EyAeLCVR_ImXnhCnRvtFG2N1xcfT08rF1PHmyE82aFXrLS9jkSbeLUhyphenhyphenmEu01BRSsEiBbHuNwyMtJcq9uFqSwAXpMYX8KvB5FdGxgHgX1tNc-/s400/pasquim.jpg)
21.10.09
20.10.09
19.10.09
18.10.09
17.10.09
Porque hoje é sábado
A cidade em progresso
A cidade mudou. Partiu para o futuro
Entre semoventes abstratos
Transpondo na manhã o imarcescível muro
Da manhã na asa dos DC-4s
Comeu colinas, comeu templos, comeu mar
Fez-se empreiteira de pombais
De onde se vêem partir e para onde se vêem voltar
Pombas paraestatais.
Alargou os quadris na gravidez urbana
Teve desejos de cúmulos
Viu se povoarem seus latifúndios em Copacabana
De casa, e logo além, de túmulos.
E sorriu, apesar da arquitetura teuta
Do bélico Ministério
Como quem diz: Eu só sou a hermeneuta
Dos códices do mistério...
E com uma indignação quem sabe prematura
Fez erigir do chão
Os ritmos da superestrutura
De Lúcio, Niemeyer e Leão.
E estendeu ao sol as longas panturrilhas
De entontecente cor
Vendo o vento eriçar a epiderme das ilhas
Filhas do Governador.
Não cresceu? Cresceu muito! Em grandeza e miséria
Em graça e disenteria
Deu franquia especial à doença venérea
E à alta quinquilharia.
Tornou-se grande, sórdida, ó cidade
Do meu amor maior!
Deixa-me amar-te assim, na claridade
Vibrante de calor!
(Vinicius de Moraes)
A cidade mudou. Partiu para o futuro
Entre semoventes abstratos
Transpondo na manhã o imarcescível muro
Da manhã na asa dos DC-4s
Comeu colinas, comeu templos, comeu mar
Fez-se empreiteira de pombais
De onde se vêem partir e para onde se vêem voltar
Pombas paraestatais.
Alargou os quadris na gravidez urbana
Teve desejos de cúmulos
Viu se povoarem seus latifúndios em Copacabana
De casa, e logo além, de túmulos.
E sorriu, apesar da arquitetura teuta
Do bélico Ministério
Como quem diz: Eu só sou a hermeneuta
Dos códices do mistério...
E com uma indignação quem sabe prematura
Fez erigir do chão
Os ritmos da superestrutura
De Lúcio, Niemeyer e Leão.
E estendeu ao sol as longas panturrilhas
De entontecente cor
Vendo o vento eriçar a epiderme das ilhas
Filhas do Governador.
Não cresceu? Cresceu muito! Em grandeza e miséria
Em graça e disenteria
Deu franquia especial à doença venérea
E à alta quinquilharia.
Tornou-se grande, sórdida, ó cidade
Do meu amor maior!
Deixa-me amar-te assim, na claridade
Vibrante de calor!
(Vinicius de Moraes)
16.10.09
21. Responsa e Sussa
- Sussa, tudo bem?
- Sissempre. E você?
- Nanunca.
- Quente não a cabeça, rapá!
- Tanta coisa prafazer, tanta vida praviver...
- Ou faça, ou pense. Ou viva, ou pense. Cêquesabe.
- Taí. Outracoisa prapensar, problema, problema, problema.
- Sissempre. E você?
- Nanunca.
- Quente não a cabeça, rapá!
- Tanta coisa prafazer, tanta vida praviver...
- Ou faça, ou pense. Ou viva, ou pense. Cêquesabe.
- Taí. Outracoisa prapensar, problema, problema, problema.
15.10.09
Instante da estante
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRJf-ISualcE5Y4ku6dfgWejLcccbPqss4J3ylw2RJM2F6RTuHYN4mgnSOWY6SzWf-cgmoSJqRZgNsnt_cNBd4EIRouaJrycTvsNIfaKI2EMPmiZPescRHmhyphenhypheni1BurADd36b5_/s400/sabino.jpg)
14.10.09
13.10.09
12.10.09
Assinar:
Postagens (Atom)