9.11.08

Retrato do poeta quando hoje

O poeta está escondido debaixo do lençol. Não quer ver o mundo que ajudou a criar de seu jeito aleatório. Tem pena daqueles que, nervosos, espantam olhos alheios com palmatórias de idéias. Não sabe sorrir. Acha difícil que a crise mundial de nervos não se espalhe logo pelas linhas telefônicas congestionadas.

O poeta prefere estar escondido debaixo do lençol. Ali, no escuro, luzes apagadas, porta e janela fechadas, é só um suspiro. Um suspirar. Um suspirar eterno, frenético, indecifrável exatamente. Os absurdos que ele colecionou surgem um a um, pedem a bênção, codificam sentimentos, depois somem sem nenhuma inferência ou ilação. Alguma coisa dentro de si sangra, secamente.

O poeta não tem opção senão se manter debaixo do lençol. Um esconderijo ensimesmado, feito uma pulga em repouso, na frente das orelhas. Cada pensamento que se lhe apresenta traz embutido a esperança fedorenta de que dali a um dia, uma semana, um mês quem sabe a chuva voltará carregada de versos brancos, limpos, lavados.

Como a alma, se ele a encontrar novamente.

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