7.9.06

Lâmina

Quando a polícia chegou, tudo que encontrou foi um gelado corpo de mulher sobre a cama. Seus cabelos louros sobre a tez delineavam os seios, fartos, lindos, quase extravagantes. Era possível ver um dos mamilos, descobertos, bicos rosados.

O investigador Hamílton tentou disfarçar o misto de satisfação e constrangimento. Mas, em meio à morbidez da cena, reconheceu a beleza efêmera de quem partiu. Vinte e poucos anos, porte de modelo e - literalmente - fodida, pensou alto.

Ao lado, no criado mudo, uma carteira aberta sem nenhum tostão. No chão, uma camisinha usada e dois copos, que rolaram até pertinho da parede, cheirando à uísque barato.

A satisfação e o constrangimento cederam espaço ao incômodo. Hamílton tinha impressão de que a falecida seguia cada um de seus passos, com seus olhos verdes abertos, assustadores, e um pouco, digamos, lânguidos.

Súbito, defenestrou-se. Sequer notou como a lâmina que cortara o pescoço da moça aparecia no espelho do teto:

A N I M Â L

Um comentário:

Anônimo disse...

súbito, defenestrou-se...
que coragem, eu fecharia os olhos da moça