30.11.09
VINTE DE OUTUBRO
Do outro lado do espelho, qual é a imagem que tenho?
Do outro lado da rua, há calçada?
Do outro lado da folha, a história continua bonita?
do outro lado do rio, quantas pessoas moram felizes?
Do outro lado da lua, como é?
Do outro lado da vida, tem vida?
Do outro lado da rua, há calçada?
Do outro lado da folha, a história continua bonita?
do outro lado do rio, quantas pessoas moram felizes?
Do outro lado da lua, como é?
Do outro lado da vida, tem vida?
DEZENOVE DE OUTUBRO
Hoje, o sol raiou com cores invertidas. Quase me confundi com uma pedra. Era só outra perda.
DEZOITO DE OUTUBRO
O fracasso é a consequência mais óbvia da persistência. Pois o sucesso, bem mais raro, tem a inveterada mania de só aparecer quando nem vale mesmo mais a pena.
DEZESSETE DE OUTUBRO
Com aquele poema rasgado, perdi todas as minhas esperanças. Agora, e principalmente hoje, não acredito mais na felicidade eterna, no sossego pleno, na paz entre os homens.
Tudo o que me inventam é mentira.
Não suporto mentiras.
Tudo o que me inventam é mentira.
Não suporto mentiras.
DEZESSEIS DE OUTUBRO
Tem futebol? Tem carnaval? Tem feriado? Tem churrasco? Tem cerveja? Tem tudo? Tem nada.
Para começar a semana
“O escritor é um sismógrafo. Ele registra as vibrações que estão na sociedade.”
Moacyr Jaime Scliar (1937- )
Moacyr Jaime Scliar (1937- )
CATORZE DE OUTUBRO
Quero salvar minhas amizades. Principalmente as que acreditam, como eu, no poder indescritível da misantropia.
TREZE DE OUTUBRO
Dos preceitos. Das leis. Dos infinitos. Das pautas. Dos amanhãs. Das metas. Dos esquecimentos. Das dores. Dos desejos. Das vidas. Dos tropeços. Das memórias. Dos livros, dos discos, das letras, amém.
DOZE DE OUTUBRO
Não sei se já disse isso, mas é preciso jamais (jamais, jamais, jamais!) confundir escorregar com escorrer.
ONZE DE OUTUBRO
Triste, percebo-me em um cruel processo de esquecimento de todas as ideias recentes que tive. O pior é que costumava as julgar boas, dessas que não merecem escorrer, assim, ralo abaixo sem nem sequer deixar um rasto de resto.
DEZ DE OUTUBRO
Os acordes. Tão renitentes. Os acasos. Tão provisórios. Os sonhos. Tão improváveis. Os segredos. Tão bons. Os sinais. Tão difíceis. Os exercícios. Tão tristes. As mentiras. Tão meninas.
NOVE DE OUTUBRO
O colecionador de fracassos ressurge para uma completude de tarefas inconsequentes:
- Espetar um alfinete no sol para ver a manhã escorrer amarela;
- Abraçar um mar cheio d'água pra ter certeza de seu estado líquido;
- Costurar uma cicatriz nova no solo árido pra tê-lo feito Frankenstein;
- Sonegar é crime.
29.11.09
QUATRO DE OUTUBRO
E, num belo dia, o colecionador de glórias se cansou e chorou e chorou e jamais voltou a ser o que queria. Talvez porque nem sequer soubesse. Ou fosse.
DOIS DE OUTUBRO
Hoje estou alfabético:
Amanda está amando;
Beatriz, por um triz;
Camila, come aquilo (a quilo);
Dinorá diz que dirá -- quem dera!;
Elisete alisa o topete;
Fernanda nunca desanda;
Gabriela é só ela;
Helena são dezenas;
Iara ficou uma arara;
Januária, uma gralha;
Karina é que nem margarina;
Luana coleciona luas doces;
Margarida, amargas;
Natália anota em toalhas;
Orlanda fic aolhando;
Priscila nem precisa;
Quitério é uma fera;
Rosana, uma anta;
Sara machucou, não sara;
Talita tá ali, tá ali;
Úrsula, absurda;
Valquíria vinha e ria;
Wanusa ia e chorava;
Xuxa, não sei;
Yara jamais fracassara;
Zulmira já sabia.
Amanda está amando;
Beatriz, por um triz;
Camila, come aquilo (a quilo);
Dinorá diz que dirá -- quem dera!;
Elisete alisa o topete;
Fernanda nunca desanda;
Gabriela é só ela;
Helena são dezenas;
Iara ficou uma arara;
Januária, uma gralha;
Karina é que nem margarina;
Luana coleciona luas doces;
Margarida, amargas;
Natália anota em toalhas;
Orlanda fic aolhando;
Priscila nem precisa;
Quitério é uma fera;
Rosana, uma anta;
Sara machucou, não sara;
Talita tá ali, tá ali;
Úrsula, absurda;
Valquíria vinha e ria;
Wanusa ia e chorava;
Xuxa, não sei;
Yara jamais fracassara;
Zulmira já sabia.
VINTE E OITO DE SETEMBRO
Não acredito em contagens que não sejam regressivas, em índices que não sejam remissivos e em pecados que não sejam perdoados.
VINTE E SETE DE SETEMBRO
Ruídos me irritam.
Assuntos me consomem.
Coisas me causam.
Jeitos me ojerizam.
Sonhos me assanham.
Atrasos me atropoelam.
Restos me arrastam.
Palavras me atrapalham.
Tempos me atentam.
Amanhãs me caminham.
Sortes me forçam.
Azares me pesam.
Nuncas me abundam.
Tamanhos me confundem.
Assuntos me consomem.
Coisas me causam.
Jeitos me ojerizam.
Sonhos me assanham.
Atrasos me atropoelam.
Restos me arrastam.
Palavras me atrapalham.
Tempos me atentam.
Amanhãs me caminham.
Sortes me forçam.
Azares me pesam.
Nuncas me abundam.
Tamanhos me confundem.
VINTE E SEIS DE SETEMBRO
Desde que o mundo perdeu seus modos, ando correndo atrás de meus medos. Mas, invariavalmente, eles me esacapam por entre os dedos.
VINTE E TRÊS DE SETEMBRO
Tudo o que é belo lembra-me que o Brasil é mais. Apenas o Brasil consegue ser belo até na feiura. Exemplo definitivo: São Paulo.
VINTE E DOIS DE SETEMBRO
Dentro da casa do relógio, muitos Van Gogh se escondem. Um mais impressionante que outro. Eu, tudo; menos indiferente.
VINTE DE SETEMBRO
Queria saber quanto ouro há neste palácio, quantas folhas neste jardim, quanta água neste lago, quantos tantos nesta nobreza. Como não sei, aquieto-me insatisfeito.
DEZENOVE DE SETEMBRO
Diálogo imaginário entre Vênus de Milo e Monalisa:
- Você é homem ou mulher?
- Pelo menos tenho cá meus braços, tá?
- Você é homem ou mulher?
- Pelo menos tenho cá meus braços, tá?
DEZESSETE DE SETEMBRO
A torre e a avenida. Nunca me esqueça: definitivamente Paris não é só isso. Definitivamente Paris não é isso.
28.11.09
Porque hoje é sábado
Perfil
o sinal eclipsado
inseto rato refere
quando se escreve transfere
palavra dispara
na sua voz
sua visão
ótico mistério:
um perfil se ab
rindo
perfeição
(Frederico Barbosa)
o sinal eclipsado
inseto rato refere
quando se escreve transfere
palavra dispara
na sua voz
sua visão
ótico mistério:
um perfil se ab
rindo
perfeição
(Frederico Barbosa)
CATORZE DE SETEMBRO
O dia das singelas descobertas: a casa de Charles Dickens, a faixa de pedestres dos Beatles, a rua do Sherlock Holmes...
DOZE DE SETEMBRO
A praia de pedra e roupas é povoada por agressivas gaivotas. Porém, belas. Lewis Carroll passou por aqui.
ONZE DE SETEMBRO
Big Ben. Tâmisa. London Eye. Abadias e catedrais. Tate Modern. Ginger beer. Framboesas. Fish and chips. Tower of London. London Bridge. Palácios. Uma história rica, mas que nunca foi a nossa. Nem será. Uma história rica, mas contada em um idioma bárbaro -- que, grosseiramente, se tornou universal.
NOVE DE SETEMBRO
O centro do cristianismo mundial, com toda a sua beleza e arrogância de pedra. Pedro era só um pescador.
OITO DE SETEMBRO
Quantas fontes há para explorar? Quantos pores-do-sol para beber? Quantas fotografias amareladas para ver depois?
SETE DE SETEMBRO
OK. "Perdemos" o feriado diante de tantas ruínas. Um mundo que já existia milênios atrás. Restos de mármore. Lendas e proveitos. História. Pó e pedra. Pedra e pó. Vultos de uma memória que ainda não havia sido para mim, nem por mim.
SEIS DE SETEMBRO
Belo e inesquecível aniversário, coletando fotograficamente as felizes lágrimas dela em frente ao Coliseu. Estamos. Somos. Podemos.
CINCO DE SETEMBRO
Estou a dez mil metros de altitude, vinhos e cervejas repetidas vezes. Cadê o Velho Mundo que sempre quis conhecer?
27.11.09
Seção da sessão
Reportagem de 1991 exibida no Globo Rural. Toda em versos, jornalirismo puro. Como não consegui "embedar", clique aqui para assistir.
26.11.09
25.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Modificar conteúdo, linguagem e – por que não? – suporte é nossa proposta, exemplificada no produto InVerso. Mas como essas modificações são percebidas em InVerso?
24.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Espelhar esse mundo-gênese, mundo-fênix (e não o mundo sem fundo, raso, ralo) é já o primeiro passo para a construção de um produto jornalístico diferenciado. Será essa, entretanto, a única variante desejável?
23.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Nem olhar o mundo como se fosse pela última vez, nem como se fosse pela primeira vez – esses olhares nos revelam um mundo pronto, acabado, definitivo e estanque; olhar o mundo, isso sim, como uma criatura em processo e, portanto, passível possível de transformações e rupturas.
Para começar a semana
22.11.09
3. Reformulação - O "InVerso"
Contrariar crenças, descristalizar o hábito, questionar o consagrado: atalhos para o novo – para as múltiplas faces do novo: o novo que é novo porque está esquecido, o novo inédito, o novo tão simples que sua obviedade o camufla sob o velho e, por isso mesmo, se torna ainda mais surpreendente quando descoberto, ou criado.
21.11.09
Porque hoje é sábado
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(Carlos Drummond de Andrade)
20.11.09
19.11.09
18.11.09
17.11.09
Espero vocês lá!
Essa tal Proclamação da República
A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889. Porém, você sabe o que aconteceu meses antes do fim do Império? Com linguagem irreverente, o autor revela os fatos que antecederam a expulsão de dom Pedro II e da família imperial – como a ascensão da cafeicultura, a promulgação da Lei Áurea, a Guerra do Paraguai, o baile da Ilha Fiscal, a briga entre a maçonaria e a Igreja Católica, a revolta dos militares –, apresenta os personagens que participaram da queda da Monarquia, faz um panorama da sociedade brasileira do século XIX e conta a história dos hinos e da bandeira nacional.
Trecho
“Nem é preciso ter ido à escola para saber que Cristóvão Colombo colocou o ovo em pé, Pedro Álvares Cabral descobriu o que não estava coberto, dom João VI trouxe a turma toda para viver na colônia de férias tropical, e seu filho, dom Pedro I, disse ao povo que ficaria. E ficou. Por isso, quando resolvi escrever sobre a Proclamação da República, logo imaginei que todo mundo aqui – levanta a mão! – já tivesse ouvido algo sobre o assunto. Ainda que seja somente porque dia 15 de novembro é feriado e não tem aula (êêêêêêêêêêêêê!). Este não é um livro de História, com H maiúsculo. É um livro de histórias, todas minúsculas. Mas a soma delas irá ajudar a compreender um pedacinho da História do Brasil. Por isso convido-o, amigo leitor, a me acompanhar nas páginas que vêm por aí. Será uma verdadeira viagem ao século XIX, quando não existia internet, televisão, rock-and-roll, nem o seu avô.”
O autor
Edison Veiga nasceu três vezes. A primeira, pra valer mesmo, foi em 1984 na bonita cidade de Taquarituba (SP). Mais tarde, em 2002, na acolhedora Bauru (SP), para onde se mudou a fim de estudar na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Menos de quatro anos depois, foi adotado pela metrópole e virou paulistano. Jornalista – e aprendiz de escritor – desde a adolescência, faturou alguns prêmios literários e publicou seu primeiro livro (Enigma, de poemas), aos 15 anos. Gosta de aquários e estantes de livros. Atualmente trabalha no jornal O Estado de S. Paulo e escreve birutices em www.cronopolitano.blogspot.com.
Lançamento
Dia 17/11, às 19h, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena).
Mais informações
Clique aqui.
Para comprar on-line
Clique aqui.
A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889. Porém, você sabe o que aconteceu meses antes do fim do Império? Com linguagem irreverente, o autor revela os fatos que antecederam a expulsão de dom Pedro II e da família imperial – como a ascensão da cafeicultura, a promulgação da Lei Áurea, a Guerra do Paraguai, o baile da Ilha Fiscal, a briga entre a maçonaria e a Igreja Católica, a revolta dos militares –, apresenta os personagens que participaram da queda da Monarquia, faz um panorama da sociedade brasileira do século XIX e conta a história dos hinos e da bandeira nacional.
Trecho
“Nem é preciso ter ido à escola para saber que Cristóvão Colombo colocou o ovo em pé, Pedro Álvares Cabral descobriu o que não estava coberto, dom João VI trouxe a turma toda para viver na colônia de férias tropical, e seu filho, dom Pedro I, disse ao povo que ficaria. E ficou. Por isso, quando resolvi escrever sobre a Proclamação da República, logo imaginei que todo mundo aqui – levanta a mão! – já tivesse ouvido algo sobre o assunto. Ainda que seja somente porque dia 15 de novembro é feriado e não tem aula (êêêêêêêêêêêêê!). Este não é um livro de História, com H maiúsculo. É um livro de histórias, todas minúsculas. Mas a soma delas irá ajudar a compreender um pedacinho da História do Brasil. Por isso convido-o, amigo leitor, a me acompanhar nas páginas que vêm por aí. Será uma verdadeira viagem ao século XIX, quando não existia internet, televisão, rock-and-roll, nem o seu avô.”
O autor
Edison Veiga nasceu três vezes. A primeira, pra valer mesmo, foi em 1984 na bonita cidade de Taquarituba (SP). Mais tarde, em 2002, na acolhedora Bauru (SP), para onde se mudou a fim de estudar na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Menos de quatro anos depois, foi adotado pela metrópole e virou paulistano. Jornalista – e aprendiz de escritor – desde a adolescência, faturou alguns prêmios literários e publicou seu primeiro livro (Enigma, de poemas), aos 15 anos. Gosta de aquários e estantes de livros. Atualmente trabalha no jornal O Estado de S. Paulo e escreve birutices em www.cronopolitano.blogspot.com.
Lançamento
Dia 17/11, às 19h, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena).
Mais informações
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Para comprar on-line
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16.11.09
Ok, confesso: sou um colecionador de medos. De todos os tamanhos, formatos, cores. Uns vêm quase natimortos. Outros se demoram a crescer, engordar, matar e, depois, morrer. Nenhum me absolve, ninguém me condena; medos existem para serem vividos.
Em geral, os medos são principalmente injustificáveis. Porque, assim como preconceitos, surgem antes, bem antes, dos problemas existirem de fato. São um prenúncio, uma introdução, um prólogo -- da árvore, a semente; do sexo, a conquista. Por isso, são medos. Pressupõem a possibilidade da perda, do fracasso, do erro.
Queria ter um espantalho de medos. Plantado, imóvel, de braços abertos e cara feia. Dentro de cada narina.
Em geral, os medos são principalmente injustificáveis. Porque, assim como preconceitos, surgem antes, bem antes, dos problemas existirem de fato. São um prenúncio, uma introdução, um prólogo -- da árvore, a semente; do sexo, a conquista. Por isso, são medos. Pressupõem a possibilidade da perda, do fracasso, do erro.
Queria ter um espantalho de medos. Plantado, imóvel, de braços abertos e cara feia. Dentro de cada narina.
15.11.09
14.11.09
Porque hoje é sábado
Não se mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguem sabe nem saberá.
(Carlos Drummond de Andrade)
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguem sabe nem saberá.
(Carlos Drummond de Andrade)
13.11.09
12.11.09
11.11.09
10.11.09
9.11.09
Para começar a semana
"Jogue a História ditada por políticos e autores oficiais no lixo. Recomece do zero. Testemunhe, testemunhe, testemunhe. Então temos literatura."
Liao Yiwu (1958- )
8.11.09
7.11.09
Porque hoje é sábado
Quero
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
6.11.09
5.11.09
4.11.09
3.11.09
2.11.09
QUATRO DE SETEMBRO
A véspera ardida de tantas vivências colecionáveis. O verso que jamais será escrito. A derradeira canção brasileira. A peça escura na noite mais escura ainda. São Paulo é o mundo todo, e isto estufa de sobremaneira a minha cabeça.
DOIS DE SETEMBRO
No chão, as malas são um convite desnecessário a aumentar minhas tristezas mais secretas. Queria poder conversar com elas, saber qual o objetivo de guardar tanta coisa inútil.
PRIMEIRO DE SETEMBRO
Férias são uma imensa coleção de nadas, desses que se sucedem sem o menor esforço. O tédio se me apresenta da maneira mais cruel possível: tanto para se fazer, nada para me fazer.
1.11.09
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