3.4.06

Minilouvor à olvidada obra

Não dava mais tempo de imprimir, dizia Verinha, e num gesto soberbo arrancou todas as folhas que sobravam e começou a colá-las de volta na primeira árvore com que se deparou. As pessoas estranharam, mas se não era ela a Verinha quem seria que erra sozinha pelas ruas desconhecidas de Sin City?

Súbito, táxi.

- Pra Lapa, por favor. E rápido.

Os sinais vermelhos ficaram para trás e, aos poucos, o Parque da Aclimação e seu lago sujo e seus cisnes brancos e suas árvores folhas folhas folhas foram se esquecendo pelo trânsito poluição buzinaço beéeeeéeeéem, ô, fóooooóó, cof cof cof.

Verinha era um braço direito, um esquerdo e um par de pernas. Outro dia lá estava costurando uma camisa para o pai. Noutro fazia a feira para a vó. Noutroutro ia com a mãe pro hospital. O namorado reclamava:

- Sobra tempo pra mim hoje à noite?

E lá ia ela novamente pra casa do dito cujo. Trepavam até alta madrugada e depois se quedavam exaustos, estarrecidos. E sonhavam com gosto de quero-mais, de-novo, mais-uma-vez. Às vezes acordavam. Outras esqueciam.

O cinema que esperasse. Filme novo em cartaz, como é mesmo o nome, que cabeça a minha? Aquele do Oscar. Não o que ganhou, mas aquele que todos diziam que era o favorito e tal. Sim, sim... Esse mesmo. Vai ficar para outro dia, porque meus olhos já não agüentam, fadigados de dia-e-noite sem parar.

O par de pernas não parava. Verinha no ônibus, Verinha no metrô, Verinha no táxiiiii. Verinha a pé. Verinha ao léu, voando, vento. Verinha no varal.

Era uma vez um poema bonito pintado na janela. Era uma vitrina para os sonhos. Era uma canção de amor e Verinha morava lá como exemplo avantajado. Era uma vez tudo isso que me esqueci o autor, as rimas e a imaginação.