Taciturno, ele sabia que futuro não existia. Colecionava presentes, então. Que se acumulavam na prateleira toda azulzada de sua casa empoeirecida.
- Vai limpar não? - era o gritinho histriônico de sua empregada, Juracéia.
- Dê graças que eu coleciono presentes. Um dia ainda lhe dou um.
- Mas antes, dê um trato nesse banheiro. Está imundo.
- O banheiro é onde mora o colecionador de enquantos. Ali não mexo, não.
E ficava aquela podredice no recanto do colecionador de enquantos. Que era um sujeito bom, apesar de desesperançado e doidivanas. Ele sempre não fazia o agora porque expectava o que nem sabia. Por isso, se esquecia de viver-se, vivendo outras coisas. Assim:
- Enquanto isso, 213 milhões de terrestres estão transando.
- Enquanto aquilo, 1,2 bilhão viram pro lado e dormem.
- Enquanto aqueloutro, 532 milhões estão comendo.
- Enquanto-me, sequer não me penso.
E ficava lá no banheiro imundo.
O colecionador de presentes, sem futuro algum, ao menos recebia direitinho as ordens de sua empregada. Recebia. E cumpria quase todas, exceto as que defenestrava para debaixo do tapete.
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