Porque curtia ecos, tudo o que lhe pesava era o vazio no estômago e aquele ruído interminável e rouco. Sacolejava o nada quando e enquanto caminhava pelas ruas, madrugada afora, sem juízo, sem asco, sem virtude.
Assoviava o silêncio noturno, louvava a escuridão profana. Bastavam as primeiras riscas de sol surgirem para partir, eterna busca e fuga, eclipse impossível. Fé cega. Montanhas, amanhã, Maomé, manhã. Amígdalas. A protuberância exata entre o ir-vir, ser-descer. O soluço.
Na rua, um caco de vidro e um tropeço. Um cadáver sem jazigo, seu sangue ressequido. A podridão, a miséria, o caos metropolitano reverberando pelas reentrâncias absurdas do cimento. Guimbas, restos de camisinha, uma gilete. Tudo o que conta a breve história do segredo humano, com seus flagelos, prazeres e vociferações de ódio, acumulado em objetos abjetos. Ele circulando, oco, famélico. Desviando para não desmaiar. Ignorando. Como todos fazemos fingindo-nos cidadãos, atropelando a realidade vil.
Nenhuma moça bonita exalando sensualidade, nenhum rapaz corado com cheiro de meia-noite, sequer uma garota de programa na flor da idade ou um vigia bem-apessoado. Nenhum espírito com carne, nem sonâmbulo perdido ou notívago encontrado. Nem eu na rua. Nem eu.
Do eco interno, porque curtia ecos, tudo o que sentia era o que lhe pesava, o vazio no estômago, aquele ruído interminável e rouco. Examinava seus dentes e, desolado, percebia que ainda não sabiam o que ser definitivamente. Louco, Van Gogh ia pirar se não se aprendesse logo vampiro. Sangue na tela.
28.4.06
17.4.06
12.4.06
Mariana
A cada te amo
penteio o poente
calibro a lua que vai encher
Meus pulmões
em que todo ar te respira
aspira
inspira
versos que todos me
pira.
Ensimesmado sou em ti
pleno
um altiplano impossível
de asa-delta
de vênus.
A cada te amo
minhas mãos trêmulas
persistem
Atiçam
o palpável
o paladar
Tilintam
o bem
o bemol.
A cada te amo
reitero os sonhos do amanhã
(adois)
esfrego os olhos do hoje
(prassempre)
sussurro a lembrança de um beijo
(sóvocê)
A cada te amo
depoisifico o antes
durante.
penteio o poente
calibro a lua que vai encher
Meus pulmões
em que todo ar te respira
aspira
inspira
versos que todos me
pira.
Ensimesmado sou em ti
pleno
um altiplano impossível
de asa-delta
de vênus.
A cada te amo
minhas mãos trêmulas
persistem
Atiçam
o palpável
o paladar
Tilintam
o bem
o bemol.
A cada te amo
reitero os sonhos do amanhã
(adois)
esfrego os olhos do hoje
(prassempre)
sussurro a lembrança de um beijo
(sóvocê)
A cada te amo
depoisifico o antes
durante.
9.4.06
2. Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim...
Internet é boa pra se deitar e embalar embalar embalar
Embaraçar
Enredar até se nos perder.
Embaraçar
Enredar até se nos perder.
3.4.06
Minilouvor à olvidada obra
Não dava mais tempo de imprimir, dizia Verinha, e num gesto soberbo arrancou todas as folhas que sobravam e começou a colá-las de volta na primeira árvore com que se deparou. As pessoas estranharam, mas se não era ela a Verinha quem seria que erra sozinha pelas ruas desconhecidas de Sin City?
Súbito, táxi.
- Pra Lapa, por favor. E rápido.
Os sinais vermelhos ficaram para trás e, aos poucos, o Parque da Aclimação e seu lago sujo e seus cisnes brancos e suas árvores folhas folhas folhas foram se esquecendo pelo trânsito poluição buzinaço beéeeeéeeéem, ô, fóooooóó, cof cof cof.
Verinha era um braço direito, um esquerdo e um par de pernas. Outro dia lá estava costurando uma camisa para o pai. Noutro fazia a feira para a vó. Noutroutro ia com a mãe pro hospital. O namorado reclamava:
- Sobra tempo pra mim hoje à noite?
E lá ia ela novamente pra casa do dito cujo. Trepavam até alta madrugada e depois se quedavam exaustos, estarrecidos. E sonhavam com gosto de quero-mais, de-novo, mais-uma-vez. Às vezes acordavam. Outras esqueciam.
O cinema que esperasse. Filme novo em cartaz, como é mesmo o nome, que cabeça a minha? Aquele do Oscar. Não o que ganhou, mas aquele que todos diziam que era o favorito e tal. Sim, sim... Esse mesmo. Vai ficar para outro dia, porque meus olhos já não agüentam, fadigados de dia-e-noite sem parar.
O par de pernas não parava. Verinha no ônibus, Verinha no metrô, Verinha no táxiiiii. Verinha a pé. Verinha ao léu, voando, vento. Verinha no varal.
Era uma vez um poema bonito pintado na janela. Era uma vitrina para os sonhos. Era uma canção de amor e Verinha morava lá como exemplo avantajado. Era uma vez tudo isso que me esqueci o autor, as rimas e a imaginação.
Súbito, táxi.
- Pra Lapa, por favor. E rápido.
Os sinais vermelhos ficaram para trás e, aos poucos, o Parque da Aclimação e seu lago sujo e seus cisnes brancos e suas árvores folhas folhas folhas foram se esquecendo pelo trânsito poluição buzinaço beéeeeéeeéem, ô, fóooooóó, cof cof cof.
Verinha era um braço direito, um esquerdo e um par de pernas. Outro dia lá estava costurando uma camisa para o pai. Noutro fazia a feira para a vó. Noutroutro ia com a mãe pro hospital. O namorado reclamava:
- Sobra tempo pra mim hoje à noite?
E lá ia ela novamente pra casa do dito cujo. Trepavam até alta madrugada e depois se quedavam exaustos, estarrecidos. E sonhavam com gosto de quero-mais, de-novo, mais-uma-vez. Às vezes acordavam. Outras esqueciam.
O cinema que esperasse. Filme novo em cartaz, como é mesmo o nome, que cabeça a minha? Aquele do Oscar. Não o que ganhou, mas aquele que todos diziam que era o favorito e tal. Sim, sim... Esse mesmo. Vai ficar para outro dia, porque meus olhos já não agüentam, fadigados de dia-e-noite sem parar.
O par de pernas não parava. Verinha no ônibus, Verinha no metrô, Verinha no táxiiiii. Verinha a pé. Verinha ao léu, voando, vento. Verinha no varal.
Era uma vez um poema bonito pintado na janela. Era uma vitrina para os sonhos. Era uma canção de amor e Verinha morava lá como exemplo avantajado. Era uma vez tudo isso que me esqueci o autor, as rimas e a imaginação.
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