9.5.06

Von Rich

Por que isso na cabeça?

Era ela quem lhe fazia todos os regalos, desde alimentar no peito até aquela ula-ula de viagem louca pra Somália - ao preço de estelionatários sei lá quantos mil ou milhões de xelins. Era ela quem costurava a meia furada, era ela quem contava histórias pra menina dormir, era ela quem esperava acordada em noites de lua repleta quando lobisomem é colega da faculdade que só quer papar.

Aline, ali, ensimesmada. Olhava e não enxergava mãe. Entendia o mundo como, adolescente, tudo diferente. Mãe igual à oligarquia de seres adultos chatos cheios de regras, regalias, impostos e álibis. Nunca do bem.

Um dia cismou que queria ganhar um escorregador. Dia seguinte, lá estava, novinho em folha e caule, plantado no jardim de seu quarto cor-de-rosa. Depois vieram barbie, kit de vamos-brincar-de-cozinha, modess, coleção de camisinhas, muita muita muita roupa de grife, sempre um namoradinho novo ou importado, grana pra balada, carro novo carro novo carro novo pra rodar por aí. E uma bolsa obtusa. E sessões semanais em salão de beleza, terapia, acupuntura, massagem, escambau.

Mauro, um dos namorados. O mais inteligente de todos, corajoso e entendido de drogas psicodélicas. Alucinados, viam juntos: sete anõezinhos, gnomos cor-de-abóbora, estátuas reluzentes da liberdade que nada, cds dos beatles lucy-in-the-skies, putas suecas vestidas como marcianas, sinônimos de zumbidos, alcachofras fosforescentes, ets de todos os tamanhos, muitos anéis para pouco saturno. Endoidecidos, viajavam juntos, não só Somália: Islândia, Malásia, Tailândia, Holanda, Suazilândia, Mongólia, Groenlândia, Flórida, Alabama, Florianópolis, São Paulo, Holambra, Águas de Lindóia e até América Latina.

Mãe não se reconhecia mais no espelho, em sete pedaços e nenhum caroço. Trêmula como se fosse maldição ou um estranho sentimento premonitório. Mãe e o terço na mão, o diabo na cabeça, a foice cutucando as costas.

No quarto ao lado toneladas de ervas daninhas. Travesseiro. Cheiro. O plano esboçado no papel de pão: mapa, lapiseira, borracha, setinhas indicativas de eu-vou-aqui-você-por-ali-vai-pra-lá. Todos os dias, mentalizando. Depois fumando o mapa, cavando a veia com a lapiseira. Cansando, transando, dormindo.

Era noite de 31 de outubro. Mauro entrou na casa armado com um estilingue e pedrinhas pontiagudas envenenadas. Mãe e pai na cama, dormindo pela décima sétima vez. Sangue na cabeça dos dois. Dor. Sangue. Aline sorriu.

E é por isso, minha filha, por causa dessa história que aconteceu há tanto tempo, que hoje sua mãe e eu dormimos de capacete.

7 comentários:

Thiago Ponce de Moraes disse...

Que bom que gosta do Algaravária.

Qualquer crítica ou sugestão, comentário, que ache que deva fazer, faça.

Forte abraço.

Anônimo disse...

kkkkkk nossa ED!!! É por essas e outras q eu te adoro!! nessa vc se superou!!
tou alucinada com esse texto!!
Parabéns!!
bjoxx

Jacy

Anônimo disse...

Uau!
Bom, muito bom.

Anônimo disse...

Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
»

Anônimo disse...

Looking for information and found it at this great site... Harddrive data & recover stock car speakers 1993 acura legend Swag and home decor Car subwoofers reviews spokane washington kia car dealer2fspokane2cwa Volvo factory photos tempe dental makeover arizona malpractice and negligence legal polyphonic ringtones Incorporating business indiana Mitsubishi tv 40505

Anônimo disse...

Cool blog, interesting information... Keep it UP watson volume photo debt consolidation services Paris hilton bong Web site search engine promotion gabon Stop smoking meetings ventura ca Lambs wool seat covers glucosamine arthritis pain relief arthritis pain relief South carolina speed up dialup

Anônimo disse...

What a great site real estate listing Avg 6.0 anti virus system Modafinil generic purchase